The Dreamers

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , | Posted on 22:00


Os Sonhadores

(The Dreamers)

Proibido proibir

Proibido proibir... Com essa música, Caetano Veloso levou sua primeira grande vaia durante o Terceiro Festival Internacional da Canção, em 1968. Sem poder interpretar sua música, o Cantor compositor descarregou sua raiva com um discurso verborrágico em cima da platéia ensandecida: “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?” “É a mesma juventude que vai sempre, matar amanhã, o velhote inimigo que morreu ontem!” “... Se vocês em política forem como são em estética, estamos feitos...” “... vocês não estão entendendo nada... Hoje não tem Fernando Pessoa...” Good times!

Década de 60, anos prolíferos em manifestações, criações culturais! Sob a barbicha do Tio Sam, cantamos “Pra não dizer que falei de flores”, ”Apesar de você...” (proibidas pela vergonhosa censura militar) nos botequins, nas escolas, nos diretórios acadêmicos, cantávamos! Líamos na calada da noite, tudo que era publicado livremente nos Países democráticos. Inclusive nos Estados Unidos, patrões dos nossos ditadores. Líamos Ignácio de Loyola, Henfil, Tolstoi, tantos outros, em páginas e páginas de pensamentos livres que passávamos uns aos outros às vezes em cópias tiradas nos velhos mimeógrafos a álcool. Vem-me uma frase do grande poeta e jornalista Antonio Maria quando teve seus dedos quebrados por outra ditadura: Vargas: “Os idiotas! Eles pensam que os jornalistas escrevem com as mãos...” Tempos difíceis...

Essa extensa introdução, apesar de verborrágica também, foi para dizer que “Os sonhadores” estão em todos os lugares vivendo os mesmos sonhos utópicos e lutando pelos mesmos ideais.

Em plena efervescência devido à demissão pelo governo francês de Henri Langlois, diretor e fundador da Cinémathèque de Paris, dona de um acervo de quase 50 mil filmes salvos dos nazistas durante a segunda guerra mundial, manifestantes protestavam e entre as palavras de ordem, estavam “Proibido proibir...”.

Nesse caos é que Bertolucci mostrando todo seu amor por Paris e pelo cinema, narra sua história. Um jovem americano vai à Paris estudar francês e conhece os gêmeos Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrel) estudante de cinema e manifestante radical. Entre cenas mais ousadas de sexo, brincadeiras, perguntas sobre cinema, cenas de outros filmes expostas no filme, os diálogos são coerentes e às vezes desconcertantes quando Theo diz que os jovens chineses aos milhares marchavam ostentando o livro vermelho de Mao, Mathew (Michael Pitt) argumenta dizendo: Sim, eles marchavam com UM livro...

Com trilha sonora que vai de Bob Dylan, Janis Joplim entre outros, Bertolucci encerra o filme de maneira soberba! Ao som de Edith Piaf em uma música dizendo: “Que não se lamenta, não se arrepende de nada...” e os policiais correndo como um estouro de uma manada, atrás dos manifestantes que como armas tinham apenas o efêmero sonho de uma revolução cultural.

Adendo: Nos Estados Unidos a censura só liberou o filme para NC-17, isso quer dizer que, lá nem acompanhado pelos pais! E se você, maior de idade, for daqueles com o gosto limitado aos novos Blockbusters da vida, deixe o filme na prateleira. Tem mais! Recatado, cheio de pudor, não suportando ver gente pelada, nem chegue perto do filme.

Yon Rique


Ficha técnica: Os Sonhadores (The Dreamers) – ING/FRA/ITA/USA – 2003 – Direção: Bernardo Bertolucci, Roteiro: Gilbert Adair – Elenco: Eva Green, Michael Pitt, Louis Garrel, Anna Chancelor, Robin Rennucci – 115 min. – censura nos E.Unidos: NC-17 (Brasil: 18 anos)


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Bichinho Azul, conta p´ra mim quantos dedinhos e buraquinhos contou por aqui?

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