Fernando Pessoa e Allan Poe - Corvo

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , | Posted on 20:35




O Corvo 
- Edgar Allan Poe traduzido por Fernando Pessoa -


7
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
     Foi, pousou, e nada mais.



8
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
     Disse o corvo, "Nunca mais".

Putziiii

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , | Posted on 21:44


É a  verdade... das verdadinhas!!! Estou pasmada.

Visões paralelas

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in | Posted on 21:39

 (source)

Spine, 2009
Monotype on paper

Joseph Zuccarini 
 American , born 1952

Crónica D´Orelhudos - Luís Novais

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , | Posted on 20:21

PREFÁCIO do Livro:   
Crónica D'orelhudos - Luís Novais
(livro gratuito)

(por Pedro Barroso)


A fábula da gestão difícil é um mito já abordado por todos os autores do mundo.
Aos olhos autocráticos dos maiores, gerir é a arte difícil da conveniência. Da sua conveniência. E aparentemente, conforme defendem, trata-se de um equilíbrio só ao alcance de predestinados, dotados de armas excepcionais de inteligência, poder, sagacidade.
Aparentemente resulta.
Se os profissionais do poder invocarem essa extrema selectividade, ninguém de jeito se candidata a tal árdua e desgastante tarefa. E eles, almas boas, esmoleres e amigas do próximo, nesse caso, e no interesse superior da nação, então sim, se sacrificarão no mais peregrino e último interesse pátrio.
De facto, sempre me pergunto, como homem de dúvidas e desejos de justiça maior, porque raio não vejo nos cargos de decisão… decisores de jeito; gente lúcida, equilibrada, voluntariosa e desprendida, de pensamento livre e julgamento harmonioso.
A resposta é simples.
Esses seres superiores de entendimento abominam as hipocrisias e moléstias do mando e dedicam-se ao crescimento real do Mundo, das Artes e da Vida.
Utilizam o papel do dia para a criação.
Usam o luar das noites para o sonho.
Usam o amor como arma de ternura.
Usam a poesia como acto de suportação do cinzentismo e usam a viagem, a descoberta de civilizações, culturas e pessoas como forma eminente e sempre dialéctica do conhecimento.
Gente do sonho e da paisagem; gente do trato e da descoberta, há muito que aprendeu a ignorar a perfídia dos jogos florentinos.
E, de resto, o poder que ambiciona reside noutra matriz, outra dimensão, outra qualidade.
Até porque governar, - ao contrário do que tanto argumentam os esbirros da prepotência - é um decorrer natural do convívio humano entre gente de bem.
Os mais primitivos formatos descobertos de fórmulas regímentais de vida em sociedade são de facto, por vezes, de uma surpreendente facilidade e decorrência na sua candura e clareza de discurso. São códigos intuitivos na sua decisão moral; são apaziguadores no trato; são corteses no convívio e equilibrados na regulamentação.
Governar no espaço público é sobretudo um acto de atenção e providência.
As sociedades primitivas, apesar da crueza de seus costumes e da rudeza das suas vidas, tinham sentidos de gestão da respublica normalmente claros e precisos.
Havia normas Incontestadas na prática aplicada - fosse ela a transumância dos rebanhos, a gestão dos baldios, o mutualismo ou o forno colectivo da aldeia.
Eram normas de traditio. Mas eram sempre rebatíveis em conselho de cidadãos maiores, caso fosse de bom senso tornar a equacionar o anteriormente decidido.
Tratava-se de conselhos, assembleias de homens bons, senados locais, ou gerúsias, onde se não entrava por truque publicitário ou dispendiosa campanha televisiva, mas sim por mérito próprio, maturidade evidente, sabedoria, ou valor reconhecido.
Fazer crer que estes são processos ultrapassados de gerir, quando muito, velhos e recônditos lugarejos atrasados no tempo, é a velha fórmula de ridicularizar o campo ante a cidade, por falta de progresso e horizonte. Essa sempre foi e será uma falsa questão.
Claro que a oferta na cidade será sempre superior em lojas, produtos, alternativas, oferta cultural, sedução vária. Mas isso não obsta a que no campo se viva com uma qualidade natural,
de espaço e de tempo muito superior. O problema não é de facto, esse.
Estavas tu, linda Inês, posta em sossego, apetece citar.
Eis senão quando uma invasão de colarinhos inteligentes invadiu a nossa vida.
Mas os cavalos de Tróia inseminados de venenos vários, relacionados com a frivolidade e o desmando, não determinam mais felicidade. Fica provado.
E os mais subsequentes e ocultos vapores que de tal organização emana, esses, transformam o poder em cupidez, nepotismo, vaidade, roubo orçamental crónico, volúpia de mandar, abuso e no último lugar da hierarquia, conduzem normalmente a um certo autismo comportamental de etiologia narcísica e difícil erradicação clínica.
Mais que o sistema corrompido complexo e mal-são que se monta, pervertendo a pureza inicial dos agregados humanos, a societas convertida em contributiva, é normalmente governada por um sistema que se convence mesmo da sua infalibilidade, da inteligência imensa de tudo o que implica e decide e esta convencidíssimo de que tem inevitavelmente, toda a razão.
O poder rodeia-se de vários fusíveis de poder, para ser mais distantemente poder, mais impune, mais secreto, mais vigilante, mais informado.
O poder não pode dormir com medo de deixar de ser poder na manhã seguinte.
Para isso instituiu uma teia de regras, mais ou menos kafkiana, de deveres absurdos, papéis em triplicado, instituições e normas complexas, onde o cidadão incauto se perde e transforma, supostamente no seu interesse, mas sem que, estranhamente, isso lhe devolva ou potencie qualquer alegria suplementar de viver.
E o poder isola quem o critica; persegue e mata quem o incomode. Pois não gosta de criatividade, nem de quem lhe questione a proveniência e a implantação.
O poder não gosta de ser interrompido.
O poder não gosta de quem faça perguntas. O poder não quer o sentido crítico.
O poder chega a defender o analfabetismo perante a ameaça do conhecimento.
O poder sofre sempre que se avançam alternativas democráticas, de resolução directa e delegação de autoridade. Mesmo parcelar, regional e inocente.
O poder não atrai os homens verdadeiramente probos, pois esses estão ocupados a construir o mundo da verdade e das ideias.
Luís Novais construiu este fabuloso romance, “Crónica d’Orelhudos”, adoptando um registo maravilhoso de sabor arcaico, extremamente bem escrito e superiormente imaginado, para nos explicar, com pormenor e ironia, os descaminhos da prepotência e da tirania.
Por contraste com os caminhos possíveis da gentileza e do saber.
O sentido político desta obra é fortíssimo e torna-se um libelo de denúncia e indignação cívica.
Assim mais gente houvesse que o entendesse, pois os que o lêem até final, esses, há muito que escolheram o seu campo; e estão, agora mesmo, olhando, espantados, a invasão incrível de burros, incompetentes, incapazes, oportunistas, conflituosos, prolixos, burocratas e simples oportunistas nos degraus vários da nossa hierarquia comandante.
Sítios há em que - desde o porteiro ao Director Geral - o melhor é não transpor aquela porta, nada percorrer de tal edifício, sob pena de severos sentimentos de náusea, cólica urgente, asma repentina, repulsa instintiva, calafrios, simples pudor.
Projectos há em que nos apetece a ignorância para não saber.
Gentes existem que apenas vêm razão de sobreviver impedindo a livre criatividade, o sonho e a diferença aos outros.

Outros ainda que, sempre que vêem algo funcionar bem por si, sem o gasto nem o ónus aparente da raiva e do controle, ficam imediatamente ciosos de intervir, para nos pôr a mesa albardada da conveniência, da corrupção e da intriga, com colarinhos de verniz e camuflagens de amizade.
Os homens probos, esses, são raros; e têm urgentemente de preparar o futuro.
Porque, sem eles, essa tal coisa de Futuro poderá nunca existir decentemente.

Pedro Barroso
Quinta da Raposa, Riachos, Fevereiro 2012

(Source)


Prosas Bárbaras - Eça de Queirós

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , , , , , , | Posted on 20:43

Prosas Bárbaras 

  Eça de Queirós

Trechos

Houve um tempo em que andavam exiladas dos lugares humanos as estátuas, que tinham feito a legenda da beleza antiga. Eram de mármore pálido, e a sua nudez era. doce, melodiosa e velada.
Outrora, no tempo dos idílios divinos, quando ainda vivia o grande Pã, e havia deuses debaixo das estrelas elas viviam entre os jogos, as coreias, e todas as flores do bem: brancas, como as espumas iónias; serenas, como a lua de Delos; melodiosas, como a voz das sereias.
Agora andavam perseguidas, e errantes pelas florestas sonoras, e envolvidas na consolação imensa, que sai do canto das aves e da humidade das plantas.
As vezes um cavaleiro, batalhador escuro, que voltava das cidades de ouro e de coral, encontrava uma das brancas peregrinas, como uma aparição de languidez e de tristeza, evocada pela música das ramagens. E se ele por acaso deixava mergulhar nos seus olhos os raios brancos e aveludados dos olhos de mármore, ao outro dia os caminheiros, os que vão de noite cantando à mole claridade das estrelas, encontravam, junto das grandes árvores pensadoras, um corpo inanimado e lívido, como aquelas crianças das legendas, a quem as bruxas chupam o sangue!
Esta história é de há seiscentos anos, e de ontem à noite.


(...) Esta transfiguração da Arte foi na Alemanha. Quando veio Lutero. Nesses tempos a alma alemã, que estava na lei católica como numa solidão lívida, desfalecia naquelas melancolias imensas que Alberto Dürer revelou.
Nem ao menos se podia refugiar na grande Natureza sonora, e embalar-se nas consolações vivas, cheias de mel, de frescura e de sóis. A Igreja condenava os arvoredos, as devezas, as eflorescências, as verduras – todas aquelas vidas, verdes, louras e esplêndidas, como as formas do mal em que o Diabo era visível. Naquele tempo de terror, o carvalho era um espectro, e a flor uma maculação. E a alma, para ficar pura, devia passar na vida sem ouvir a voz docemente profunda da velha Natureza – voz que o catolicismo dizia terrível como a das antigas sereias.
Assim a alma alemã tinha toda a sorte de penumbras, de desfalecimentos, de pálidos silêncios, que se exalaram divinamente no canto..
Lutero concorreu para este alívio divino e livre da alma germânica, libertando a música.
A meiga consoladora tivera sempre até aí uma atitude hierática: havia só salmos, cânticos e versículos segundo o rito litúrgico: era a velha melopeia grega esfarrapada pelas asperezas do latim dos versículos. 
 Palestrina, Allegri, Pergolesi foram apenas reveladores de madrigais seráficos e de subtilezas eucarísticas. Ela estava envolta no dogma, vestida de latim, embaraçada de dificuldades, presa, como uma estátua, nas escuridades do santuário.
Lutero tomou aquela bela e fria estátua, despiu-a do latim, desprendeu-a das subtilezas, desligou-lhe os braços descamados, tirou-a do santuário, levou-a para o ar livre – para as largas palpitações. E a estátua delicada, rosada, meiga, consoladora, tomou pela mão a triste Alemanha e levou-a como a Beatriz mística pela orla das moradas santas.
Foi o momento de lirismo e de paixão da Reforma. Aqueles braços que se tinham erguido por entre as constelações caíram logo como asas molhadas. A música teve um momento o rosto aceso nas iluminações divinas, mas ficou de novo fria, hierática – mármore pálido.
A música que é a alma, o espiritualismo, o vapor da Arte – sumiu-se com a aproximação da Renascença, que vinha cheia de rebeliões da carne.
A Reforma tinha sido feita em nome do idealismo, em nome da alma escarnecida: a Europa tinha-se esquecido da alma, da pureza, das castidades, do olhar da Virgem cor de violeta; ela caminhava nas púrpuras e nas fulgurações, seguida das pombas lascivas, com as brancas nudezas cobertas de veludos, escutando os contos da rainha de Navana, acompanhando em serenata profana as cantigas de Ariosto, entre os mármores frescos e os seios macios, desfalecida nas molezas da carne.
O magro Martinho Lutero veio bradar em nome da alma, contra as púrpuras daquele pálido paganismo.
E a Europa assustou-se: os papas tomaram atitudes severas e lívidas; e voltou-se a Deus como no tempo de Dante. Foi momentâneo este puritanismo da velha Europa. O sensualismo tinha visto pela primeira vez a Igreja, sua velha inimiga, tremer, e encaminhou-se feroz com as vinganças da carne.
A Renascença vinha depois daquelas lívidas castidades góticas, dos jejuns transparentes, das faces maceradas, daquelas chagas roxas de Cristo. Vinha com toda a sorte de livres palpitações e de rebeliões soberbas. Vinha cheia da Natureza e em nome dela; sentiam-se-lhe as sonoridades e os acres cheiros das florestas, e as vivas humidades dos mares. A carne ia aparecendo, tremenda, João de Leyde ressonava de noite, cansado de gulas, entre as suas catorze mulheres: começava a surgir o ventre imenso de Gargântua: sentiam-se fumegar as bodas de Gamacho; e para as bandas do Norte já se ouvia o riso do velho Falstaff.
A atmosfera da Renascença, pesada de aromas fortes e de sensualidade, das vaporações da languidez, não podia conservar a vitalidade àquela vaga Ofélia, que se chama a música.
A época da música ainda não tinha vindo: a Arte é como a vegetação – só cresce, só tem coloridos e sombras e repousos dadas certas circunstâncias de vitalidade: mas dadas essas condições, ela nasce espontaneamente, e vem então cheia da alma dessa época, da sua inteligência, da sua fé, das suas tristezas, das suas desesperanças. A música, toda alma, não achou essas condições na Renascença, toda carne. A nossa época é que devia produzir a música como a Grécia produziu a escultura, como a Europa gótica a arquitectura e a era das monarquias e das academias a tragédia raciniana.
Com efeito, nunca, como neste tempo, as profundidades da alma, cavadas e alargadas pelas revoluções, estiveram tão fundas e tão ilimitadas. Durante a lei católica e os embrutecimentos monárquicos, a alma movia-se lenta como o mar, unida, calma, pesada, opaca e coberta de brumas. De repente as revoluções passaram pela noite sacudindo os seus fachos severos, donde saltavam constelações. A alma alumiou-se entre repelões brutais: iluminaram-se longes surpreendentes: houve um desencadeamento de brados, de vontades, de violências: daquela claridade viva saíam desejos, sentimentos, paixões, amores, imaginações, epopeias nos livres turbilhões. Toda a sombra se ia retirando da alma, em amontoações rápidas e cobardes, com o ruído distante de um desabamento de bastilhas. Era uma ressurreição mais cheia de seiva e de violência que a vida flamejante das constelações, que a vida desvairada dos mares. Saíam daquelas profundidades santas, como evaporações de luz, as criticas, as histórias, as filosofias, as medicinas, as químicas, as imaginações, os dramas, toda uma vegetação divina.
A alma começou a entrever cimos luminosos, erguidos por entre os astros, que se chamavam Homero, Ésquilo, Dante, Miguel Angelo, Rabelais, Cervantes e Shakespeare. A alma queria subir àqueles escarpamentos divinos, para colher a pequena flor do ideal. Fia via moverem-se ali mil figuras, voluptuosas e sinistras. disformes. irónicas, apaixonadas, ciosas e lívidas: e nas claridades e nos círculos de um vento divino subirem por entre as irradiações dos astros, os tremores das tormentas, os gritos das andorinhas e os luares silenciosos, subirem gritos, lágrimas, soluços, risos, cantos, suspiros, bênçãos e imprecações. A alma via aquela vida flamejante acesa no espaço
Como uma Jerusalém humana erguida na luz, ao sopro dos fortes peitos. E queria subir à montanha sagrada e andar por entre aquelas imaginações que sofrem, que sangram, que deliram, que são Romeu, Hamlet, D. Quixote, Orestes, Prometeu, Francesca de Rimini e Ofélia! Era um Patmos estranho aquilo, um promontório do pensamento, donde se avistava um mar, ora embalando-se sereno nos silêncios alumiados, ora dando-se lascivo aos beijos do vento, ora indolente e melodioso, depois cheio de iras, de esguedelhamentos, de farrapos lívidos de água, de trágicos soluços do abismo.
Os que não se aventuravam naquela passagem ficavam sossegadamente na sua fé ordinária, na sua virtude, na sua sonolência; mas os que as atravessavam entravam nos sofrimentos infinitos: quase que ficavam fora da medida humana: o que quer que fosse de ilimitado entrava neles, com bruscos desvairamentos. O homem sente-se como possuído pelo demónio Legião. Sente as inquietações descoradas, os abati mentos dolorosos, os amores infinitos, as ambições nevrálgicas, as imaginações lívidas, toda uma amontoação apocalíptica de estranhas vitalidades interiores. Vai pálido. Quem é ele? É aquele que sofre. E o infinito que ele tem em si tortura-o como a presença de Deus torturava as sibilas antigas.
E depois, ao mesmo tempo, viu-se que os prometimentos das revoluções tinham mentido. Tinham-se visto tantos derrubamentos, tantas forças desvanecidas, tantos direitos divinos assoprados, tantas fulgurações de Sodomas apagadas, que não se acreditava que ainda pela sombra pudesse estar de pé. e actuante, alguma antiga fatalidade. Pensava-se que a miséria, que a fome, que o erro, que a mentira, que as bruxas e as negruras históricas tinham fugido. como um fumo: mas aqueles lobos trágicos ainda andavam pela noite mordendo as almas.
O mal passava ainda, nas suas façanhas fulgurantes enredando nos vícios e nas tentações, fixando no homem o seu olhar fúnebre através das transparências doentias da noite, batalhando com as almas e fazendo-lhes a chaga incurável do pecado. E então, como que nasceu uma convicção tenebrosa: a impossibilidade do libertamento..
Erguiam-se os braços magros e suplicantes: olhava-se pela Terra, a ver se não viria alguém da parte da Natureza, um monte, uma floresta, um mar, um vulcão, que tomasse o homem pela mão e lhe dissesse com a bonomia dos monstros: Vem, eu te protejo.  (...)

Orangotangos fêmea usadas como prostitutas em bordéis

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , | Posted on 20:02



Texto de Tiago Mesquita, 100 reféns
Eu pensava que já tinha visto de tudo um pouco sobre a capacidade infinita do ser humano se reinventar e reinventar a sua própria estupidez, mas o facto de que vou falar ultrapassa largamente os limites da minha capacidade para tentar entender a imbecilidade que assola alguns seres vivos que os mais ousados apelidam de seres humanos. Darwin provavelmente rir-se-ia do atrevimento.

Ora parece que na Indonésia alguma rapaziada não fica satisfeita com o facto dos orangotangos poderem estar extintos já em 2015 devido à destruição massiva do seu habitat natural causada pelo crescimento desenfreado de plantações de óleo de palma, e muito menos com o facto disto ter causado a morte a  50,000 orangotangos em apenas duas décadas. Não, para o bicho homem isto não chega. Então o que fazer? "Ah já sei" - diz um iluminado indonésio de olho fisgado numa orangotango fêmea mais roliça e felpuda- "vamos pegar nas "macacas", abrir um bordel e violá-las como se não houvesse amanhã até que caiam para o lado mortas de exaustão". E assim foi. As fêmeas são capturadas, presas em casas preparadas para o efeito e abusadas sexualmente por tudo o que é taradinho da região. Uma lástima.

Eu não consigo descrever o nojo que esta gente me mete. Não consigo sequer pedir que compreendam o facto de achar que isto não é gente na verdadeira acepção da palavra, são coisas que acontecem porque dois infelizes se lembraram de praticar o coito e se esqueceram de o interromper. Mas infelizmente o nosso mundo está cada vez mais cheio desta gente e menos povoado por orangotangos.

Fica o link da petição
http://www.thepetitionsite.com/841/068/757/stop-using-orangutans-as-prostitutes/



Aqui, neste ( LINK ), podem ler a história do orangotango Pony, usada como prostituta.

Série Mulheres - Maria de Lurdes de Sá Teixeira

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , , | Posted on 16:27





« Foi na linda manhã de 1 de Junho do ano corrente, prestes a sumir-se nos umbrais do  século XX, que eu fui largada na pista da Escola Militar de Aviação. Semelhante à avezita que subitamente se vê liberta de um cativeiro de longos meses, entre as grades da sua prisão, e que voa, voa, em pleno ar, respirando sofregamente a sua pureza na imensidade do espaço infinito, análoga sensação senti, ao ver abrirem-se para mim, de par em  par, as portas do AR, e, sozinha, num à vontade, alegre e confiante, a mão firme na “manche”, numa ânsia louca de subir, voei, voei enfim…»

(...) Em entrevista ao grande jornal de domingo, o Actualidades, Maria de Lourdes regista que foi hercúlea a batalha travada para ir ao encontro da sua vocação. Assim, obstáculos de natureza vária que teve de ultrapassar. Desde logo, a preocupação dos familiares mais próximos, tentando dissuadi-la de seguir um caminho que não se coadunava com as expectativas sociais em relação a uma adolescente oriunda da média-alta burguesia. 

Na verdade, seu pai, dotado de formação académica superior, opor-se-ia a tais “voos”, vindo a ceder pouco mais tarde, já que os seus conhecimentos científicos, enquanto médico, o coagiam a dar primazia à saúde de Maria de Lourdes, a qual ao ser impedida de ingressar no treino, somatizou a sua frustração entrando num processo de debilidade física. 

A experiência do Dr. Afonso Henrique Botelho de Sá Teixeira falou mais alto do que as convenções sociais. É sua filha quem o reconhece: – Entristecia-me muito tanta oposição. Porquê? Que mal havia em querer voar? Parece que emagreci demais. Os meus chegaram a recear pela minha saúde. O médico surgiu na pessoa do pai, que me prometeu, que se eu me alimentasse e não me entristecesse, - o que era inconveniente para a minha saúde – procuraria obter a minha admissão na Escola. – 

Cumpriu 4 . Col Estúdio Mário Novais/Biblioteca de Arte/FCG Da atitude de seu pai pode ser dito: de opositor a cooperante foi um passo. À época, a escola de aviação era militar e o ingresso feminino vedado, pelo que as diligências do médico militar foram decisivas. A aspiração de Maria de Lourdes não deve ser vista como um capricho, mas como uma vocação. Só esta leva alguém a empenhar-se em aprender, canalizando todo o seu tempo e energia para o treino físico e mental, viabilizar o exercício da vontade para enfrentar obstáculos e aceitar os inevitáveis sacrifícios.

 Apelidando-a de “verdadeiramente desportiva” o jornal O Globo dirá a seu respeito: Apenas por espírito desportivo, por amor à aviação – porque sim – fez o seu curso de aviadora, a despeito da doença que a afligiu durante ele, das naturais contrariedades que sofreu das oposições e possivelmente da maledicência. 

Admirável rapariga essa, que resgatou com a sua galhardia séculos de mazombice freirática A determinação e o entusiasmo da instruenda contagiaram o seu mestre, que a ela dedicou todo o seu tempo e saber. Só a convergência destes elementos possibilita a eficaz aliança, da qual a nossa aviadora tem consciência ao afirmar: Devido ao esforço, solicitude e muita proficiência do meu instrutor, capitão Craveiro Lopes, e à extrema gentileza de todos os oficiais da Escola, aliados à minha grande força de vontade e à minha ambição de todos os dias, consegui finalmente ultimar o curso no dia 6 deste mês.



No link que se segue, poderá ler na integra o texto - formato PDF 

Women

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , , , | Posted on 17:10






La Belle Fille
"Portrait of a woman," circa 1900.


The Human Torch: 1942
DeLand, Florida. "Aircraft construction class."


Evelyn Nesbit
New York circa 1901. "Evelyn Nesbit, age 16, brought to the studio by Stanford White."


Fast Woman
Washington circa 1915. "Women auto racers. Miss Elinor Blevins."


 Queenie Ladovitch
Washington, D.C., circa 1920.

Hybrid Vehicle
Washington, D.C., circa 1918. "Woman on motorized bicycle."

.junipergallery - (Source) - women


Primeira Mulher Polícia de Tráfico

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , | Posted on 16:49


Leola N. King primeira polícia de tráfico em Washington DC, 1918 
Fotografia © Shorpy


P.S: Interessante, as botas são (descaradamente) femininas; a farda é feminina à excepção da gravata que é tida como um acessório masculino. Por ser Mulher Policia, não deixa de vestir uma farda que a favorece tendo em conta o género. 
Esteticamente há classe e elegância nesta farda  de mulher policia,  « woman police concept ». O alfaiate esmerou-se no conceito.
Era 1918, século passado.

First of fair sex to obtain motorcycle license

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , | Posted on 16:35


15 de Setembro de 1937 - Sally Halterman
Fotografia Shorpy

 Nesta fotografia vemos a Sally Halterman, 27 anos,  a quem foi concedida a primeira licença para andar de motocicleta. Distrito da Columbia. Após ter sido emitida a licença, Sally entrou de imediato para o «D.C. Motorcycle Club».

WORST

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , | Posted on 12:57



« O Ser Humano não passou da Idade da Caverna. O desenvolvimento do cérebro não lhe deu humanidade alguma, apenas aprofundou-lhe a ganância à Terra - Mãe e à aspiração de ser um Deus que pode, dispor e indispor;  usar e abusar como lhe bem entender do que está ao seu redor. »


Mais uma que me surgiu nos neurónios naufragados...


« No Ser Humano, a animalidade é uma espécie de animosidade. »

Lilith - Visions of Lilith - Primeira Mulher

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , , , , , , | Posted on 18:32





De acordo com J. Gordon Melton, 
"Lilith, uma das mais famosas figuras do folclore hebreu, originou-se de um espírito maligno tempestuoso e mais tarde se tornou identificada com a noite. Fazia parte de um grupo de espíritos malignos demoníacos dos americanos que incluíam Lillu, Ardat Lili e Irdu Lili."
Segundo ele, Lilith apareceu também no Gilgamesh Epic babilônico (aproximadamente 2000 a. C.) como uma prostituta vampira que era incapaz de procriar e cujos seios estavam secos. Foi retratada como uma linda jovem com pés de coruja (indicativos de vida noctívaga) que fugiu de casa perto do Rio Eufrates e se estabelece no deserto.

Lilith aparece no Antigo Testamento quando Isaías ao descrever a vingança de Deus, durante a qual a Terra foi transformada num deserto, proclamou isso como um sinal de desolação: "Lilith repousará lá e encontrará seu locar de descanso" (Isaías 34:14)
Lilith aparece em relatos da Torah assírio-babilônica e hebraica entre outros textos apócrifos. Na versão jeovística (da tradição religiosa hebraica) para o Gênesis, enriquecida pêlos testemunhos orais dos rabinos consta que Lilith foi criada com pó negro e excrementos, condenada por Jeová-Deus a ser inferior ao homem.

Considerando-se que Adão vivia no Jardim do Éden no pleno equilíbrio de sua sagrada androginia (pois fora criado a imagem e semelhança do criador), compreende-se como o surgimento da primeira mulher fez nascer um distanciamento entre Deus e Homem.
Num outro texto, um comentário bíblico do Beresit-Rabba (rabi Oshajjah) a primeira mulher é descrita cheia de saliva e sangue, o que teria desagradado a Adão, de modo que Jeová-Deus "tornou a cria-la uma segunda vez".
Lilith, então, veio ao mundo com os répteis e demônios feitos ao cair da noite do sexto dia da criação, uma sexta feira (segundo o Bereshit Rabba). Por isso, ela já fora criada como um demônio. (Lilith é representada como, rainha da Noite, mãe dos súcubos).
Consumida a união carnal com Lilith, Adão teria mergulhado na angústia da paixão, vendo o seu distanciamento da divindade como um preço pelo êxtase orgástico que nunca sentira.
Lilith foi citada pela edição hebraica e inglesa de "The Babylonian Talmud", organizada pelo rabi Epstein e publicado pela Socino Press, de Londres, em 1978. Aqui, Lilith aparece um demônio noturno de longos cabelos, que perturba os homens. Segundo a tradição talmúdica, Lilith é a "Rainha do Mal", a Mãe dos Demônios e a Lua Negra.

No Talmude, ela é descrita como a primeira mulher de Adão. Ela brigou com Adão, reivindicando igualdade em relação a seu marido, deixando-o "fervendo de cólera". Lilith queria liberdade de agir, de escolher e decidir, queria os mesmos direitos do homem mas quando constatou que não poderia obter status igual, se rebelou e, decidida a não submeter-se a Adão e, a odia-lo como igual, resolveu abandoná-lo.

Segundo as versões aramaica e hebraica do Alfabeto de Ben Sirá (século 6 ou 7). Todas as vezes em que eles faziam sexo, Lilith mostrava-se inconformada em ter de ficar por baixo de Adão, suportando o peso de seu corpo. E indagava: "Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual." Mas Adão se recusava a inverter as posições, consciente de que existia uma "ordem" que não podia ser transgredida. Lilith deve submeter-se a ele pois esta é a condição do equilíbrio preestabelecido.

Vendo que o companheiro não atendia seus apelos, que não lhe daria a condição de igualdade, Lilith se revoltou, pronuncia nervosamente o nome de Deus, faz acusações a Adão e vai embora.
É o momento em que o Sol se despede e a noite começa a descer o seu manto de escuridão soturna, tal como na ocasião em que Jeová-Deus fez vir ao mundo os demônios.

Adão sente a dor do abandono; entorpecido por um sono profundo, amedrontado pelas trevas da noite, ele sente o fim de todas as coisas boas. Desperto, Adão procura por Lilith e não a encontra: "Procurei-a em meu leito, à noite, aquele que é o amor de minha alma; procurei e não a encontrei" (Cântico dos Cânticos III, 1).

Lilith partiu rumo ao Mar Vermelho (Diz-se que quando Adão insistiu em ficar por cima durante as relações, Lilith usou seus conhecimentos mágicos para voar até o Mar Vermelho). Lá onde habitam os demônios e espíritos malignos, segundo a tradição hebraica. É um lugar maldito, o que prova que Lilith se afirmou como um demônio, e é o seu caráter demoníaco que leva a mulher a contrariar o homem e o questionar em seu poder.

Desde então, Lilith tornou-se a noiva de Samael, o senhor das forças do mal do SITRA ACHRA (aramaico, significa "outro lado"). Como conseqüência, deu à luz toda uma descendência demoníaca, conhecida como "Liliotes ou Linilins", na prodigiosa proporção de cem por dia.
[Alguns escritos contam que Adão queixou-se a Deus sobre a fuga de Lilith e, para compensar a tristeza de Adão, Deus resolveu criar Eva, moldada exatamente como as exigências da sociedade patriarcal. A mulher feita a partir de um fragmento de Adão. É o modelo feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão. A mulher submissa e voltada ao lar. Assim, enquanto Lilith é força destrutiva (o Talmude diz que ela foi criada com "imundície" e lodo), Eva é construtiva e Mãe de toda Humanidade (ela foi criada da carne e do sangue de Adão).]

Jehová-Deus tenta salvar a situação, primeiro ordenando-lhe que retorne e, depois, enviou ao seu encalço uma guarnição de três anjos, Sanvi, Sansavi e Samangelaf, para tentar convencê-la; porém, uma vez mais e com grande fúria, ela se recusou a voltar. Lilith está irredutível e transformada. Ela desafiou o homem, profanou o nome do Pai e foi ter com as criaturas das trevas. Como poderia voltar ao seu esposo?

Os anjos ainda ameaçaram: "Se desobedeces e não voltas, será a morte para ti." Lilith , entretanto, em sua sapiência demoníaca, sabe que seu destino foi estabelecido pelo próprio Jeová-Deus. Ela está identificada com o lado demoníaco e não é mais a mulher de Adão. (Uma outra versão conta que esses mesmos anjos, a teriam condenado a vagar pela terra para sempre).

Acasalando-se com os diabos, Lilith traz ao mundo cem demônios por dia, os Lilim, que são citados inclusive na versão sacerdotal da Bíblia. Jeová-Deus, por seu lado, inicia uma incontrolável matança dessas criaturas, que, por vingança, são enfurecidas pela sua genitora. Está declara a guerra ao Pai. Os homens, as crianças, os inválidos e os recém casados, são as principais vítimas da vingança de Lilith. Ela cumpre a sua maligna sorte e não descansará assim tão cedo.

Uma outra versão diz que foram os anjos mataram os filhos que tivera com Adão. Tão rude golpe transformou-a, e ela tentou matar os filhos de Adão com sua segunda esposa, Eva. Lilith Alegou ter poderes vampíricos sobre bebês, mas como os anjos a queriam impedir, fizeram-na prometer que, onde quer que visse seus nomes, ela não faria nenhum mal aos humanos. Então, como não podia vencê-los, ela fez um trato com eles: concordou em ficar afastada de quaisquer bebês protegidos por um amuleto que tivesse o nome dos três anjos.

Não obstante, esse ódio contra Adão e contra sua nova (e segunda) mulher, Eva, resultou, para Lilith, no desabafo da sua fúria sobre os filhos deles e de todas as gerações subseqüentes.

A partir daí, Lilith assume plenamente sua natureza de demônio feminino, voltando-se contra todos os homens, de acordo com o folclore assírio babilônico e hebraico. E são inúmeras as descrições que falam do pavor de suas investidas. Conta-se, por exemplo, que Lilith surpreendia os homens durante o sono e os envolvia com toda sua fúria sexual, aprisionando-os em sua lasciva demoníaca, causando-lhes orgasmos demolidores. Ela montava-lhes sobre o peito e, sufocando-os (pois se vingava por ter sido obrigada a ficar "por baixo" na relação com Adão, conduzia a penetração abrasante. Aqueles que resistiam e não morriam ficavam exangues e acabavam adoecendo. Por isso Lilith também está identificada com o tradicional vampiro. Seu destino era seduzir os homens, estrangular crianças e espalhar a morte.

Lilith permaneceu como um item de tradição popular embora pouco tivesse sido escrito sobre ela quando da compilação do Talmude (século 6 a.C.) até o século 10. Sua biografia se expandiu em detalhes elaborados e muitas vezes contraditórios nos escritos dos antigos países hassídicos.
Durante os primeiros séculos da era cristã, o mito de Lilith ficou bem estabelecido na comunidade judaica.

Lilith aparece no Zohar, o livro do Esplendor, uma obra cabalística do século 13 que constitui o mais influente texto hassídico e no Talmud, o livro dos hebreus. No Zohar, Lilith era descrita como succubus, com emissões noturnas citadas como um sinal visível de sua presença. Os espíritos malignos que empesteavam a humanidade eram, acreditava-se, o produto de tais uniões.
No Zohar Hadasch (seção Utro, pag. 20), está escrito que Samael - o tentador - junto com sua mulher Lilith, tramou a sedução do primeiro casal humano. Não foi grande o trabalho que Lilith teve para corromper a virtude de Adão, por ela maculada com seu beijo; o belo arcanjo Samael fez o mesmo para desonrar Eva: E essa foi a causa da mortalidade humana.

O Talmude menciona que "Quando a serpente envolveu-se com Eva, atirou-lhe a mácula cuja infecção foi transmitida a todos os seus descendentes... (Shabbath, fol. 146, recto)".
Em outras partes, o demônio masculino leva o nome de Leviatã, e o feminino chama-se Heva. Essa Heva, ou Eva, teria representado o papel da esposa de Adão no éden durante muito tempo, antes que o Senhor retirasse do flanco de Adão a verdadeira Eva (primitivamente chamada de Aixha, depois de Hecah ou Chavah). Das relações entre Adão e a Heva-serpente, teriam nascido legiões de larvas, de súcubos e de espíritos semiconscientes (elementares).

Os rabinos fazem de Leviatã uma espécie de ser andrógino infernal, cuja a encarnação macho (Samael) é a "serpente insinuante" e a incarnação fêmea (Lilith), é a "cobra tortuosa" (ver o Sepher Annudé-Schib-a, fol. 51 col. 3 e 4). Segundo o Sepher Emmeck-Ameleh, esses dois seres serão aniquilados no fim dos tempos: "Nos tempos que virão o Altíssimo (bendito seja!) decapitará o ímpio Samael, pois está escrito (Is. XVII, 1): 'Nesse tempo Jeová com sua espada terrível visitará Leviatã, a serpente insinuante que é Samael e Leviatã, a cobra tortuosa que é Lilith' (fol. 130, col. 1, cap.XI)".
Também segundo os rabinos, Lilith não é a única esposa de Samael; dão o nome de três outras: Aggarath, Nahemah e Mochlath. Mas das quatro demônias só Lilith dividirá com o esposo a terrível punição, por tê-lo ajudado a seduzir Adão e Eva.

Aggarath e Mochlath tem apenas um papel apagado, ao contrário do que acontece com as outras duas irmãs, Nahemah e Lilith.

No livro História da Magia, Eliphas Levi transcreve: "Há no inferno - dizem os cabalistas - duas rainhas dos vampiros, uma é Lilith, mãe dos abortos, a outra Nahema, a beleza fatal e assassina. Quando um homem é infiel à esposa que lhe foi destinada pelo céu, quando se entrega aos descaminhos de uma paixão estéril, Deus retoma a esposa legítima e santa e entrega-o aos beijos de Nehema. Essa rainha dos vampiros sabe aparecer com todos os encantos da virgindade e do amor; afasta o coração dos pais, leva-os a abandonar os deveres e os filhos; traz a viuvez aos homens casados, força os homens devotados a Deus ao casamento sacrílego. Quando usurpa o título de esposa, é fácil reconhece-la: no dia do casamento está calva, porque os cabelos das mulheres são o véu do pudor e está proibido para ela neste dia; depois do casamento finge desespero e desgosto pela existência, prega o suicídio e afinal abandona violentamente aquele que resistir, deixando-o marcado com uma estrela infernal entre os olhos. Nahema pode ser mãe, mas não cria os filhos; entrega-os a Lilith, sua funesta irmã, para que os devore." (Sobre isso pode-se ver também o Dicionário Cabalístico de Rosenhoth e o tratado De Revolutionibus Animorum, 1.° e 3.° tomos da Kabala Denudata, 1684, 3 col. in-4.)

Diz a lenda que depois que Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden, Lilith e suas asseclas, todas na forma de incubus/succubus, os atacaram, fazendo assim com que Adão procriasse muitos espíritos impuros e Eva mais ainda. Segundo a tradição judaica, Lilith faz os homens terem poluções noturnas para gerar filhos demônios . Há um costume, ainda praticado em Jerusalém, de espantar esses filhos do corpo morto de seu pai, andando em círculo com o cadáver antes do sepultamento e atirando moedas em diferentes direções para distrair os filhos demônios.

Durante a idade média, as histórias sobre Lilith se multiplicaram.  Já foi, por exemplo, identificada como uma das duas mulheres que foram ao Rei Salomão para que ele decidisse qual das duas era a mãe de uma criança que ambas reivindicavam.

Em outros escritos, foi identificada como a rainha de Sabá. Segundo uma antiga tradição judaica, Lilith apareceu a Salomão disfarçada na rainha de Sabá, uma visitante real da Etiópia ou da Arábia à corte do rei Salomão (I Reis 10). Sabá era um país pacífico, cheio de ouro e prata, cujas plantas eram irrigadas pelos rios do Paraíso. Por ter ouvido falar relatos sobre o seu maravilhoso país, o Reino de Sabá, e sua rainha de uma ave, cuja linguagem compreendia, Salomão desejava muito conhecer a rainha e ela desejava conhecê-lo devido à sua reputação de sábio, e queria fazer-lhe perguntas sobre magia e feitiçaria. Mas ele suspeitou que algo estava errado e conseguiu ludibria-la: Quando chegou, encontrou-o sentado em uma casa de vidro, e pensando que fosse água, levantou a saia, revelando pernas bem cobertas de pêlos, o que indicava que ela uma feiticeira. Não obstante, Salomão desposou-a e preparou uma poção para eliminar o pêlo de suas pernas.

Conta-se, que a casa real da Etiópia alegava ser descendente da união de Salomão com a Rainha de Sabá, e os judeus negros da Etiópia, os falashes, localizam suas origens nos israelitas que o rei Salomão enviou com a rainha para a Etiópia. Outro descendente dessa união foi Nabucodonosor, que se tornou rei da Babilônia. Uma tradição totalmente diferente nega que tenha sido uma rainha quem veio visitar Salomão, afirmando que foi o rei de Sabá.

Proteção conta Lilith: Lilith foi descrita como uma figura sedutora com longos cabelos, que voa como uma coruja noturna para atacar aqueles que dormem sozinhos, para roubar crianças e fazer mal a bebês recém-nascidos. Foi encontrada entre os elementos mais conservadores da comunidade judaica do século 19, uma forte crença na presença de Lilith, sendo que alguns deles podem ser visto ainda hoje. Lilith foi descrita como uma assassina de crianças para roubar suas almas. Ela atacava os bebês humanos, especialmente os nascidos de relações sexuais inadequadas. Se não consegue consumir crianças humanas ela come até mesmo sua própria prole demoníaca.

Também é de opinião geral que foi Lilith quem provocou o ódio de Caim contra Abel, seu irmão, e levou-o a revoltar-se contra ele e matá-lo.

Os homens eram alertados para não dormirem numa casa sozinhos para que Lilith não os surpreendesse. Em "O Livro das Bruxas", Shahrukh Husain relembrou um antigo conto judeu "Lilith e a Folha de Capin", de Jewish Folktales, que dizia que certa vez um judeu que foi seduzido por Lilith e ficou enfeitiçado por seus encantos. Mas ele estava muito perturbado com isso, e então foi ao Rabino Mordecai de Neschiz para pedir ajuda.

Mas o rabino sabia por clarividência que o homem estava vindo, e avisou a todos os judeus da cidade para não deixa-lo entrar em suas casas ou dar-lhe lugar para dormir. Assim, quando o homem chegou não encontrou nenhum lugar para passar a noite e deitou-se num monte de feno num quintal. À meia-noite, Lilith apareceu e sussurrou-lhe: "Meu amor, saia desse feno e venha até aqui". Curioso, o homem perguntou: "Por que eu deveria ir até você? Você sempre vem a mim." Ela explicou-se dizendo: "Meu amor, nesse monte de feno há uma folha de capim que me causa alergia".

O homem perguntou: "Então por que você não me mostra? Eu a jogo fora e você pode vir."
Assim que Lilith a mostrou, o homem pegou a folha de capim e enrolou em seu pescoço, livrando-se para sempre do domínio dela.

Lilith foi marcada como sendo especialmente odiosa para o acasalamento sexual normal dos indivíduos que ela atacava como succubi e incubi. Descarregava sua ira nas crianças humanas resultantes de tais acasalamentos ao sugar-lhes o sangue e estrangulando-as. Acrescentava, também, quaisquer complicações possíveis às mulheres que tentassem ter crianças - esterilidade, abortos etc. Por isso, Lilith passou a assemelhar-se a uma gama de seres vampíricos que se tornavam particularmente visíveis na hora do parto e cuja presença era usada para explicar problemas ou mortes inesperadas.

Para combatê-los, os que acreditavam em Lilith desenvolveram rituais elaborados para bani-la de suas casas. O exorcismo de Lilith e de quaisquer espíritos que a acompanhavam muitas vezes tomava a forma de um mandado de divórcio, expulsando-os nus noite adentro.

Usam-se amuletos (em hebraico "kemea") como proteção contra demônios, mau olhado, doença, combater hemorragia nasal ou para fazer uma mulher estéril conceber, tornar fácil o parto, garantir a felicidade de um recém nascido, obter sabedoria e outros fins.

Esses amuletos são textos e desenhos geralmente escritos em pequenos pedaços de pergaminho e incluem sinais mágicos, permutações de letras e os nomes de Deus (Agla, Tetragramaton, etc.) ou de anjos como o de Rafael, Gabriel ou dos poderosos anjos Sanvi, Sansavi e Samangelaf que garantem proteção contra Lilith, que ataca as mulheres no parto e causa a morte dos infantes.
O amuleto é usado em volta do pescoço ou às vezes pendurado numa parede de casa.
Para que um amuleto seja considerado eficaz, tem que ser escrito por uma pessoa santa (segundo a tradição judaica), exímia na prática da Cabala. Se o ele se mostrar eficaz na cura de alguém em três ocasiões diferentes, será então, comprovadamente, considerado um amuleto.

Embora, aparentemente, amuletos tenham sido amplamente usados no período talmúdico, Maimônides e outros rabinos de mente mais voltada para a filosofia, como Ezequiel Landau, opunham-se a eles, considerando-os superstições vazias. Seu uso, no entanto, foi apoiado pelos místicos e pela crença popular. Até mesmo os cristãos buscavam amuletos com os judeus na Idade Média.

Em muitas partes do mundo atual há pessoas que ainda usam amuletos representando os três Anjos que foram enviados em busca de Lilith (ou Lilah, como também é chamada, o que talvez nos tenha dado Da-Lila, também uma sedutora e tentadora.) Esses talismãs são usados porque, embora Lilith se recusasse a voltar, prometeu a esses três Anjos que, se visse os seus nomes inscritos junto de um recém-nascido, ela deteria sua mão e o pouparia - o que vem a ser o propósito do ritual. Um talismã típico é um círculo mágico no qual as palavra "Eva e Adão" barram a entrada de Lilith, habitualmente escritas com carvão na parede do aposento onde a criança está e em cuja porta estão escritos os nomes dos três anjos. A alternativa: "Não deixem Lilith entrar aqui" costuma ser escrita na cabeceira da cama da mulher que espera um filho, usando-se tinta vermelha (cor da planta de Marte).

Como proteção contra ela costumava-se pendurar amuletos e talismãs na parede e sobre a cama para mantê-la afastada ou pregar amuletos com as palavras "Adão e Eva excluindo Lilith" nas paredes da casa em que uma mulher se preparava para o nascimento do filho.

No passado, o processo de nascimento era cercado de práticas mágicas com a intenção de proteger a mãe e o filho das forças demoníacas. Lilith tem inveja da alegria da maternidade, pois foi apartada do marido (Adão) logo no início de seu casamento. Ela constitui assim uma ameaça ao embrião. Também se sussurravam sortilégios no ouvido das mulheres para facilitar o trabalho de parto. A porta do quarto das crianças tinha os nomes dos três anjos escritos sobre ela, e, às vezes, cercava-se o quarto com um círculo de carvões ardentes. Nas vésperas de Shabat e da lua nova, quando uma criança sorri é porque Lilith está brincando com ela. Para livrá-la de qualquer mal, deve-se bater de leve três vezes em seu nariz pronunciando-se uma fórmula de proteção contra Lilith. Também crianças que riam no sono, acreditava-se, estavam brincando com Lilith e daí o perigo de morrerem em suas mãos.

Na Idade Média era considerado perigoso beber água nos solstícios e equinócios, porque nessa época o sangue menstrual de Lilith pingava, poluindo líquidos expostos.

Parece que Lilith é mais bondosa com as meninas porque estas só podem correr o risco da hostilidade a partir dos vinte anos, enquanto os meninos estão sob  a mira das suas perversidade e malevolências até o seu oitavo aniversário.

Num livro sobre "Magia das velas", encontramos uma versão moderna de um Talismã de Proteção Contra Lilith: "Se você quiser fazer um talismã de altar que o proteja de Lilith, e ele não precisa ficar restrito a esse uso, pode fazê-lo da seguinte maneira: pegue uma folha de papel forte, branco (o tamanho dependerá do espaço disponível). Desenhe nela um grande círculo preto, e dentro desse círculo desenhe outro menor. Divida esse círculo interior em três partes iguais de 120° e faça pequenas marcas nessas pontas. Una essas marcas para fazer um triângulo no centro do talismã. Nos três pontos em que o triângulo toca o círculo interior, entre o círculo interior e o exterior, escreva os três nomes angélicos - Sanvi, Sansavi e Semengalef - no sentido horário, um em cada ponta do triângulo. No meio do trecho, entre esses nomes, desenhe uma cruz. Coloque a vela para Lilith no centro do triângulo (Lilith é representada por uma vela branca que se tornou negativa com cera preta ou por uma vela preta), com uma vela para cada um dos três anjos do lado de fora do círculo exterior, , em oposição aos seus nomes (pode marcar as velas, se desejar) na ponta do triângulo. Só que não se deve deixar de observar infalivelmente neste ou em qualquer outro talismã, o seguinte: a linha que desenha o círculo exterior deve ser inteira, sem falhas, sem interrupções. Se necessário, desenhe-o de forma extraforte, para obter isso. Se o que está tentando é conter algo, não deve haver interrupções através das quais esse algo possa escapar ou engana-lo."

Segundo a tradição judaica, as influências astrológicas determinam a vida de uma pessoa, mas Israel é diretamente guiado por Deus. Porém, enquanto os cabalistas e muitos rabinos medievais acreditavam que os céus eram "o livro da vida" e a astrologia a "ciência suprema", Maimônides repudiou tais idéias como superstições proibidas.

No mapa astral, Lilith ou Lua Negra indica sedução e ânsia de liberdade. Influências que atingem nossas personalidades. A Lua exerce uma influência no inconsciente, nos sonhos, no sono, na memória, nas emoções e nas reações espontâneas.

Segundo o astrólogo e tarólogo Hermínio Amorim, foi a partir de 1914, quando Lilith apareceu sob a influência de Plutão, que fez uma órbita longa até 1938, que as mulheres começaram os movimentos de libertação. Antes, Lilith aparecia sob influência do signo de câncer. Atualmente as mulheres vivem melhor sua sensualidade, sem culpa, sem medo de serem acusadas de bruxas, como antigamente.

Os conteúdos psíquicos simbolizados pela Lilith são muitas vezes interpretados como raiz da libido. É claro que também são percebidos como geradores de poderes paranormais, inclinação para bruxaria, mediunidade, etc. De qualquer maneira, é uma potencialidade simbólica e inconsciente. Uma feminilidade que dura muito tempo foi oprimida e omitida (A Lua Negra. Na Idade Média foi personificada pela bruxa, contra a qual o homem, e principalmente a Igreja Católica, moveu uma das mais sangrentas perseguições de toda a sua história).

De acordo com Hermínio, "Lilith foi feita por Deus, de barro, à noite, criada tão bonita e interessante que logo arranjou problemas com Adão". Esse ponto teria sido retirado da Bíblia pela Inquisição. O astrólogo assinala que ali começou a eterna divergência entre o masculino e o feminino, pois Lilith não se conformou com a submissão ao homem.

Bibliografia:
Ferreira, Fernando Mendes (editor). Revista AXÉ, ANO 1 N° 1. Publicação mensal da Ninja Comércio e Distribuidora Ltda., São Paulo/SP. Impressão: Brasiliana. Guaita, Marie Victor Stanislas de.
Le Temple de Satan (le Serpent de la Gênèse). Librairie du Merveilleux, Paris, 1891. Husain, Shahrukh.
O Livro das Bruxas (The Virago Book of Wtiches). Editora Objetiva LTDA, Rio de Janeiro, Brasil. 1995. Melton, J. Gordon.
The Vampire Book. Copyring © 1994 by Gale Research, uma divisão da International Thomson Publishing Inc. Sicuteri, Roberto.
 Lilith, a Lua Negra. Ed. Paz e Terra, 1985. Unterman, Alan.
Dictionary of Jewish Lore & Legend. Copring © 1991, Thames and Hudson Ltd, London.


Texto e Pesquisa de Shirlei Massapust


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Lusitânia - Lendas - Portugal - Deuses de Portugal Antigo

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , | Posted on 05:11

Lusitânia
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Capital: Emerita Augusta (Mérida)
Fronteiras (províncias): Sudeste: Bética
Norte e nordeste:  Tarraconense
Correspondência actual: Portugal (até ao rio Douro) e Estremadura espanhola


Os romanos dividiram a Península Ibérica em três grandes províncias: Tarragona, Lusitânia e Betica. A Lusitânia ficava no ocidente da Península, a sul do Rio Douro, abrangendo parte da Estremadura espanhola, tendo Emérita (actual Mérida) como capital. O Minho e Trás-os-Montes pertenciam à província Tarraconense. A Lusitânia tinha três conventos jurídicos: Emérita, Pax Júlia (Beja), Scalabis (Santarém). Existem ainda muitos vestígios de estradas romanas e vias militares. Em certas região de Portugal ainda hoje se descobrem cerâmicas, moedas, mosaicos e inscrições lapidares da época romana. Muitos restos existem dos povos pré-romanos na Lusitânia, Celtas e Ibéricos. Passado o domínio Romano, o nome Lusitânia esmoreceu. No século X aparece o nome Portugal. Os lusitanos eram ágeis, vigorosos e frugais. Dormiam na terra dura, usavam compridos e soltos cabelos, como os da mulher. Apreciavam muito os sacrifícios e tiravam prognósticos das entranhas das vítimas. Eram disciplinados, valente e hábeis na arte da guerra.
Lusitânia é um nome errado para Portugal, cujo território não corresponde ao da província romana da Lusitânia. O nome deriva do étnico lusitani, com o sufixo ia, sendo assim designada por nela viverem os Lusitanos.
Estrabão descreveu a Lusitânia pré-romana desde o Tejo à costa cantábrica, tendo a Ocidente o Atlântico e a Oriente as terras de tribos célticas. Quando em 29 a.C. foi criada por Augusto a província Lusitânia, o limite ao norte passou a ser o Douro e ao sul ultrapassou o Tejo, anexando grande parte da Estremadura, Alentejo e Algarve; e a oriente ocupou parte das terras dos célticos.
Apesar de as fronteiras da Lusitânia não coincidirem com as de Portugal de hoje, os povos que aqui habitaram são a base etnológica dos portugueses do centro e sul. Desde épocas remotas que esta faixa territorial foi ocupada pelo homem. Dos tempos pré-históricos restam vestígios como as grutas naturais e artificiais de Estoril, Cascais, Peniche, Palmela e Escoural. Esta, descoberta acidentalmente por uma detonação de uma pedreira e estudada de imediato pelo dr. Farinha dos Santos, que encontrou intactos os restos de trogloditas que em remotas eras as ocuparam como refúgio, abrigo e jazida funerária; outras jazidas com restos de paleolítico e neolítico, são os conceiros do vale do Tejo e Sado, em Muge, da ribeira de Magos, dos arredores da Figueira. Mas principalmente a cultura megalítica, com os dólmens ou antas, monumentos de falsas cúpulas de Alcalar no Algarve, que teve no nosso território um dos seus maiores focos de expansão, constitui um testemunho, que desde épocas longínquas este território foi um «habitat» privilegiado.
Supõe-se que o Périplo de um navegador marselhês, efectuado por volta de 520 a.C. que descreve a sua viagem marítima ao longo das costas da península, tenha sido aproveitado por Rufo Festo Avieno, escritor do século IV para compor a Ode Marítima. No seu poema, Avieno refere-se aos Estrímnios, que podem ser considerados o mais antigo povo identificado neste território, procedente do Norte de África. O poema ainda refere que as regiões da costa cantábrica eram habitadas pelos Dráganas, e a sul, na actual região do Algarve, os Cinetes ou Cónios.
Muitos dos povos antigos que entraram na Península Ibérica deixaram no território da Lusitânia vestígios bem marcados dos contactos comerciais e de influência cultural, nomeadamente, e perfeitamente acentuados e reveladores de uma assimilação mais profunda, são os vestígios da ocupação romana e também os das invasões dos visigodos e dos árabes. Alguns historiadores antigos referem-se ao ouro da Lusitânia, riqueza que como a prata é hoje testemunhada pela frequência dos achados em Portugal, de numerosas jóias típicas fabricadas com esses metais — colares, braceletes, pulseiras, arrecadas, etc. O cobre, em abundância, extraía-se das minas do Sul. O chumbo encontrava-se, segundo Plínio, na cidade lusitana de Medubriga Plumbaria, que da abundância local daquele minério teria recebido o nome.
Na divisão administrativa romana foi dividida em três conventus, no total de 46 cidades, sendo 5 de colonos romanos, entre as quais as duas que correspondiam a Beja (Pax Julia) e Santarém (Scalabis); uma outra município de direito romano, Olissipo (Lisboa); três usufruíam o direito lácio - Ebora, Myrtilis e Salacia (Évora, Mértola e Alcácer do Sal); finalmente 37 eram da classe estipendiária, entre as quais se destacam Aeminium (Coimbra), Balsa (Tavira), Miróbriga (Santiago do Cacém).
Algumas dessas comunidades encontram-se por localizar com precisão: Ossonoba (Faro?), Cetóbriga (Tróia de Setúbal?), Colipo (Leiria?), Arábriga, Arcóbriga (Arcos de Valdevez?).
O vínculo administrativo com Roma terminaria em 411 quando o imperador Honório, após um prolongado período de guerra civil, estabeleceu um pacto com os Alanos que lhes concedia a Lusitânia. Dois anos mais tarde, porém, seriam os Visigodos a expulsar os Alanos, iniciando o domínio da Lusitânia a sul do Tejo..
Os lusitanos são normalmente vistos, erradamente, como os antepassados dos portugueses. Eram um povo celtibérico que viveu na parte ocidental da Península Ibérica. Primeiramente, uma única tribo que vivia entre os rios Douro e Tejo. Ao norte do Douro limitavam com os galaicos e astures na província romana de Galécia, ao sul com os béticos e ao oeste com os celtiberos na área mais central da Hispânia Tarraconense.
A figura mais notável entre os lusitanos foi Viriato, um dos seus líderes no combate aos romanos.

Viriato (180 a.C. — 139 a.C.) foi um dos líderes da tribo lusitana que confrontou os romanos na Península Ibérica, e que morreu traído por um punhado de seguidores por dinheiro. Contudo, depois de Viriato morrer, os seus seguidores foram mortos ou escravizados.
Viriato, um pastor e caçador nos altos Montes Hermínios da Lusitânia, actual Serra da Estrela, de onde era natural (de Loriga), foi eleito chefe dos lusitanos. Depois de defender vitoriosamente as suas montanhas, Viriato lançou-se decididamente numa guerra ofensiva. Entra triunfante na Hispânia Citerior, (divisão romana da Península Ibérica em duas províncias, Citerior e Ulterior, separadas por uma linha perpendicular ao rio Ebro e que passava pelo saltus Castulonensis (a actual Serra Morena, em Espanha), e lança contribuições sobre as cidades que reconhecem o governo de Roma.
Em 147 a.C. opõe-se à rendição dos lusitanos a Caio Vetílio que os teria cercado no vale de Betis, na Turdetânia. Mais tarde derrotaria os romanos no desfiladeiro de Ronda, que separa a planície de Guadalquivir da costa marítima da Andaluzia, onde viria a matar o próprio Vetílio. Mais tarde, nova vitória contra as forças de Caio Pláucio, tomando Segóbriga e as forças de Cláudio Unimano que, em 146 a.C. era o governador da Hispânia Citerior. No ano seguinte as tropas de Viriato voltam a derrotar os romanos comandados por Caio Nígidio.
Ainda nesse ano, Fábio Máximo, irmão de Cipião o Africano, é nomeado cônsul da Hispânia Citerior e encarregado da campanha contra Viriato sendo-lhe, para isso, fornecidas duas legiões. Após algumas derrotas, Viriato consegue recuperar e, em 143 a.C. volta a derrotar os romanos, empurrando-os para Córdova. Ao mesmo tempo, as tropas celtibéricas revoltavam-se contra os romanos iniciando uma luta que só terminaria por volta de 133 a.C. com a queda de Numância.
Em 140 a.C. Viriato inflinge uma derrota decisiva a Fábio Máximo Servilliano, novo cônsul, onde morreram em combate cerca de 3000 romanos. Servilliano consegue manter a vida oferecendo promessas e garantias da autonomia dos lusitanos e Viriato decide não o matar. Ao chegar a Roma a notícia desse tratado, foi considerado humilhante para a imponência romana e o Senado volta atrás, declarando guerra contra os lusitanos.
Assim, Roma envia novo general, Servílio Cipião que tinha o apoio das tropas de Popílio Lenas. Este renova os combates com Viriato, mas este mantém superioridade militar e força-o a pedir uma nova paz. Envia, neste processo, três comissários de sua confiança, Audas, Ditalco e Minuros. Cipião recorreu ao suborno dos companheiros de Viriato, que assassinaram o grande chefe enquanto dormia. Um desfecho trágico para Viriato e os lusitanos, e vergonhoso para Roma, superpotência da época, e que se intitulava arauto da civilização.
Após o seu assassinato, Decius Junius Brutus pôde marchar para o nordeste da península, atravessando o rio Douro subjugando a Galiza. Júlio César ainda governou o território (agora Galécia) durante algum tempo.



Mitologia lusitana

Os deuses lusitanos (ou Portugueses Antigos) estiveram em síntese com os invasores, quer os celtas quer os romanos. O povo lusitano adoptou os cultos de ambas as civilizações, influenciando deste modo as crenças locais. Algumas divindades lusitanas foram assimiladas pelos romanos. Cada Divindade ibérica (Lusitana) tem os seus atributos e é de grande importância no uso de objectos adequados e os cultos em locais apropriados, salvaguardando a situação urbana do nosso século, pode-se adorar, por exemplo, Tongoenabiagus em casa. Quando se trata de Divindade de cura e das nascentes, se for no interior, representa-se simbolicamente com o elemento Água. Abrir o Círculo para Atégina, ou para a Deusa Trebaruna, entra-se em conexão com a Deusa, honrando os nossos Deuses é prestar a melhor homenagem e entrar nos seus Mistérios. Por exemplo, Endovélico é o Deus protector de Portugal, representado mais tarde pela figura do Arcanjo Miguel. Estes são os mistérios do Portugal simbólico...:


Atégina ou Ataegina era a deusa do renascimento (Primavera), fertilidade, natureza e cura na mitologia lusitana. Viam-na como a deusa lusitana da Lua. O nome Ataegina é originário do celta Ate + Gena, que significaria "renascimento".
O animal consagrado a Atégina era o bode ou a cabra. Ela tinha um culto de devotio, em que alguém invocava a deusa para curar alguém, ou até mesmo para lançar uma maldição que poderia ir de pequenas pragas à morte.
Atégina era venerada na Lusitânia e na Bética, existem santuários dedicados a esta deusa em Elvas (Portugal), e Mérida e Cáceres em Espanha, além de outros locais, especialmente perto do Rio Guadiana. Ela era também uma das principais deusas veneradas em locais como Myrtilis (Mértola dos dias de hoje), Pax Julia (Beja), ambas cidades em Portugal, e especialmente venerada na cidade de Turobriga, cuja localização é desconhecida. A região era conhecida como a Baeturia celta.
Existem diversas inscrições que relacionam esta deusa com Proserpina: ATAEGINA TURIBRIGENSIS PROSERPINA, esta relação aconteceu durante o período romano.


- Ares Lusitani era o deus dos cavalos na mitologia lusitana.


- Deusa Bandonga -
- Deus  Bormanico –


- Cariocecus ou Mars Cariocecus era o deus da guerra na mitologia lusitana. Era o equivalente lusitano para os deuses romanos Marte e para o grego Ares.
Os lusitanos praticavam sacrifícios humanos e quando um sacerdote feria um prisioneiro no estômago fazia previsões apenas pela maneira como a vítima caia e pela aparência dos intestinos. Os sacrifícios não estavam limitados a prisioneiros mas também incluiam animais, em especial cavalos e bodes. É o que diz Estrabão, "ofereciam um bode, os prisioneiros e cavalos". Os lusitanos cortavam a mão direita dos prisioneiros e as consagravam a Cariocecus.


- Duberdicus –


- Endovelicus (Endovélico) -   era um deus da Idade do Ferro de medicina e segurança, de caráter simultaneamente solar e ctônico, venerado na Lusitânia pré-romana. Depois da invasão romana, o seu culto espalhou-se pela maioria do Império Romano, subsistindo por meio de sua identificação com Esculápio ou Asclépio, mas manteve-se sempre mais popular na Península Ibérica, mais propriamente nas províncias romanas da Lusitânia e Bética.
Endovélico tem um templo em São Miguel da Mota no Alentejo em Portugal, e existem numerosas inscrições e ex-votos dedicados a ele no Museu Etnológico de Lisboa. O culto de Endóvelico sobreviveu até ao século V, até que o cristianismo se espalhou na região.

Endovélico tem um templo em São Miguel da Mota no Alentejo em Portugal, e existem numerosas inscrições e ex-votos dedicados a ele no Museu Etnológico de Lisboa. O culto de Endóvelico sobreviveu até ao século V, até que o cristianismo se espalhou na região.
A Região do Alentejo é uma região portuguesa, que compreende integralmente os distritos de Portalegre, Évora e Beja, e as metades sul dos distritos de Setúbal e de Santarém. Limita a norte com a Região Centro e com a Região de Lisboa, a leste com a Espanha, a sul com o Algarve e a oeste com o Oceano Atlântico e a Região de Lisboa. Área: 31 152 km² (33% do Continente). População (2001): 766 339 (8% do Continente).

Compreende 5 subregiões estatísticas:
Alentejo Central
Alentejo Litoral
Alto Alentejo
Baixo Alentejo
Lezíria do Tejo

O Alentejo compreende 58 concelhos (18,8% do total nacional).
Note-se que esta divisão não coincide com a antiga região tradicional do Alentejo (que não constituía uma província por si, embora muitos se referissem ao Alentejo como a reunião das duas províncias do Alto e Baixo Alentejo), a qual era ligeiramente menor que a actual: incluía apenas os distritos de Évora e Beja (na sua totalidade), praticamente todo o distrito de Portalegre (excepto o concelho de Ponte de Sôr, que fazia parte do Ribatejo), e a metade sul do de Setúbal (os concelhos desse distrito que fazem parte da actual região do Alentejo Litoral, a saber: Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines).
Além disso, fez parte, até 1801, da antiga comarca do Alentejo (outrora chamada Entre Tejo e Odiana e Além-d'Odiana), o município de Olivença, que desde então se encontra ocupado pela Espanha.

TEMPLO ENDOVELICO - Terena
Hoje vou transcrever um texto da autoria de Mariana  Pereira, retirado  do Jornal comemorativo das Festas de Setembro de 1957 (festas em honra de Nª Srª da Conceição do Alandroal), editado pela Casa do Concelho do Alandroal; bem revelador da importância do Templo Endovelico:
"Nos arredores da Vila, onde hoje é a herdade de S. Miguel da Mota e houve uma ermida em honra do santo do mesmo nome, está provado ter existido um templo pagão, fundado 340 A.C., em louvor dum deus chamado Endovelico na linguagem dos Lusitanos e que talvez referir-se a Cupido. Frei Bernardo de Brito, o célebre historiador alcobacense do século XVII, autor da Monarquia Lusitana, refere-se à seguinte história relacionada com o templo em questão.
Mahasbal, ilustre cidadão de Cartago, conseguiu dominar parte da Lusitania. Foi depois a oriente da Península impor autoridade sobre uns rebeldes e ao voltar, desembarcou em Vila Nova de Portimão. Quando ali se encontrava, aportou uma nau de gregos que então estavam em luta com os cartagineses, mas Mahabal submeteu-se e fê-los seus escravos.
Meses depois, dirigiu-se ao norte a  pretexto de conhecer a província que ocupava e, quando passava nos arredores do Alandroal, adoeceu gravemente. Consultados os agoureiros, estes disseram-lhe que o deus Endovelico estava irado contra ele por causa das desgraças que tinha infligido aos gregos, que devia restituir-lhes a fazenda e levantar um templo em desagravo do mal que praticara. Assim foi. O templo levantou-se e lá dentro foi posta uma imagem do deus, feita de prata e com asas nos pés.
Noutras memórias antigas, encontrei referência a uma inscrição que foi levada daquele lugar e esteve na Capela-Mor da Igreja da Senhora da Boa-Nova em Terena e que dizia que o templo aos deus Endovelico tinha sido levantado em virtude dum sonho que teve a filha dum importante senhor romano chamado Quinto Sidónio.
Quer desta ou doutra forma, o que parece é que foi uma construção maravilhosa. Há notícia que o Duque de Bragança, D. Teodósio mandou dali levar alguns mármores que foram aplicados no frontispício  do Mosteiro dos Agostinhos em Vila Viçosa, outros apareceram na já citada Igreja da Senhora da Boa-Nova e outros, segundo a lenda, serviram a D. Henrique, filho do rei D. Manuel, na construção do Colégio do Espírito Santo, hoje Liceu de Évora.
O Dr. José Leite de Vasconcelos fez várias pesquisas no local e de lá levou esculturas, asas, cipós, inscrições, fragmentos e objectos de barro e moedas que se encontram actualmente no Museu Etnológico de Lisboa.
Numa dessas asas há uma inscrição que representa um ex-voto dedicado ao deus, como se lê:
«Consagração ao deus Endovélico.
Marco Fannio Augurino a fez
A este deus que ele teve como
Propício.»"

Lenda

Um dia há muito anos fez Baco uma visita ao seu amigo Endovélico, o Deus da Lusitânia. Atravessou as serras e subiu penosamente ladeiras até chegar a terras banhadas pelo rio Dão. Quando chegou a uma tosca cabana de pedra e troncos, onde vivia um casal lusitano com um filhito gritou:
Pelos Deuses dai-me de beber!
0 lusitano entrou na cabana e regressou com uma escudela de barro cozida ao sol, cheia de água.
Água? Por acaso não tendes vinho?
0 lusitano arregalou os olhos, coçou a barba e voltou-se espantado:
Não. Nós não sabemos o que isso é. Quereis vós comer? E sem esperar resposta voltou com uma perna de cabrito montanhês. À despedida, Baco, estava comovido pela franca hospitalidade do luso, disse-Ihe:
Ainda um dia hás-de saber o que é vinho.
Alguns anos mais tarde os legionários vieram a casa do luso, e cada um deles abriu uma vala e plantou uma videira. Quando partiram colocaram uma tabuleta nos bacelos onde se poderia ler: "Baco oferece reconhecido”.
Aquelas cepas foram crescendo em mais tarde deram saborosos bagos, cujo suco lusitano espremeu para beber no Inverno numa comunhão de força e rejuvenescimento, e assim daquelas uvas que eram uma delícia do bom Baco, havia nascido o grandioso e salutar vinho do Dão.
FONTE: Agro-Bayer


- Mars Cariocecus
- Nabia


- Nantosvelta - Era uma deusa celta da natureza e da caça, assimilada pelos romanos como sendo Diana. Pelo menos um baixo-relevo dela foi encontrado na Alemanha. Nantosvelta era também a deusa da Natureza entre os lusitanos.


- Runesocesius - Era o deus dos dardos na mitologia lusitana, possuindo uma natureza misteriosa e um carácter marcial. Com Atégina e Endovélico, este deus formaria a trindade da mitologia lusitana.


- Sucellus - Na mitologia celta, Sucellus era o deus da agricultura, florestas e bebidas alcoólicas, por vezes qualificado como rei dos deuses, carregava um grande martelo de cabo longo. O seu nome significava O que Bate Bem. Ele usava o martelo para bater na terra, acordando as plantas e anunciando o início da primavera.
Sua mulher era a deusa da natureza Nantosvelta, outra figura da fertilidade, que era tambem deusa do lar. Quando juntos, são frequentemente acompanhados por símbolos associados à prosperidade e domesticidade. Este deus também era venerado entre os lusitanos.


- Tongoenabiagus - Era o Deus do Poder dos Gróvios. Um povo que habitava no vale do Rio Minho.
Turiacus em latim era TVRIACVS, seria um deus poderoso, é o que "tur" (de "tor") sugere, pois significa "senhor" ou "rei".


- Trebaruna
- Turiacus

.

Topónimos romanos em Portugal

- Nome Romano e Nome actual:
- Aeminium – Coimbra - CARLOS LEITE RIBEIRO
 - Acoutinium - Alcoutim
- Aquae Flaviae – Chaves - Chaves
- Arabriga – Alenquer
- Arannis - Castro Verde
- Aretium - Alvega
- Alavarium – Aveiro - Aveiro
- Baesuris - Castro Marim
- Bevipo - Alcácer do Sal - Alcácer do Sal
- Bracara – AugustaBraga - CARLOS LEITE RIBEIRO
- Caetobriga - Setúbal ou Tróia - Setúbal
- Calipolis - Vila Viçosa
- Castra Leuca - Castelo Branco
- CilpesRocha Branca – Silves - Silves
- Cyneticum Iugum - Cabo de Sines
- Civitas Aravorum - Marialva
- Collipo – Leiria - Leiria
- Conímbriga - Condeixa-a-Nova
- Dipo – Elvas
- Ebora -  Ebora Cerealis, Liberalitas JuliaÉvora - Évora
- Eburobrittium – Óbidos - Óbidos
- Egitânia - Idanha-a-Velha
- Equabona - Coina
- Ipses - Alvor
- Lacobriga – Lagos - CARLOS LEITE RIBEIRO
- Lancobriga - Fiães
- Lamecum – Lamego - Lamengo
- Lorica - Loriga
- Malateca - Marateca
- Metallum Vispascense - Mina de Aljustrel
- Mirobriga Celticorum, ou Miróbriga - Santiago do Cacém
- Mondóbriga - Alter do Chão
- Myrtilis – Mértola - Mértola
- Olisipo Felicitas Iulia, Olisipo, Ulyssipolis, Felicitas Julia Olissipo, Ulisseia – Lisboa - Lisboa
- Ossonoba – Faro - Faro
- Pax Iulia, Pax Augusta, Colonia Pacensis – Beja - Beja
- Portus Alacer – Portalegre - Portalegre
- Portus Cale - Porto
- Salacia - Alcácer do Sal - Alcácer do Sal
- Scalabis – Santarém - Santarém
- SegobrigaSegóvia - Campo Maior
- Sellium – Tomar - CARLOS LEITE RIBEIRO
- Sirpe - Serpa
- Talabara - Alpedrinha
- TalabrigaMarnel - Águeda
- Tongobriga - Trás-os-Montes
- Tritium – Covilhã
- Veniatia - Vinhais
- Villa Euracini - Póvoa de Varzim - Póvoa de Varzim
- Vispasca - Aljustrel
- Verurium – Viseu - CARLOS LEITE RIBEIRO


Rios ( Fl.= Fluvius, R.= Rio)
Nome Romano e Nome actual:


- Minius Fl.R. - Minho
- Limia Fl.R. - Lima
- Nebis Fl.R. - Neiva
- Avus Fl.R. - Ave
- Tamaca Fl.R. - Tâmega
- Durius Fl.R. - Douro
- Vacua Fl.R. - Vouga
- Monda Fl.R. - Mondego
- Tagus Fl.R. - Tejo
- Calipus Fl.R. - Sado
- Ana Vel Anas Fl.R. - Guadiana
- Nabantius Fl.R. - Nabão



Entre as numerosas tribos que habitavam a Península Ibérica quando chegaram os romanos, encontrava-se, na parte ocidental, a dos lusitani, considerada por alguns autores a maior das tribos ibéricas, com a qual durante muitos anos lutaram os romanos. Não se sabe ao certo qual a sua origem. Alguns autores também incluem nos Lusitanos, os Galaicos, que, por sua vez, tinham por vizinhos, a oriente, os Astures e os Celtiberos. Os galaicos aparecem documentados por vez primeira formando parte do exército do caudilho luso Viriato como mercenários de guerra mas os galaicos (castrejos) ao norte do Douro posteriormente seriam administrados por Roma como província autónoma na Gallaecia (Galécia) à margem da Lusitânia e da Hispânia Tarraconensis trás ser conquistados por Décimo Júnio Bruto o Galaico. [1]
Tito Lívio na História Romana escritor do século I a.C., menciona-os incorporados como mercenários no exército de Aníbal, tomando parte na batalha da Trébia e depois atravessando os Pirinéus, após a destruição de Sagunto, a caminho de Itália.
Os lusitanos, segundo teses mais modernas, seriam de origem pré-celta, como o provam os escritos em língua lusitana encontrados em território português e Estremadura espanhola.
Conhecem-se só três inscrições lusitanas, todas elas muito tardias; todas elas usam já o alfabeto latino. Anteriormente ao período romano não existia uma epigrafia lusitana própria. As principais inscrições foram feitas em território português em Lomas de Moledo e Cabeço das Fraguas; a outra inscrição procede de Arroyo de Cáceres (Estremadura, Espanha). A modo de exemplo mostramos aqui a inscrição de Cabeço das Fráguas do século III d.C.:
OILAM TREBOPALA INDI PORCOM LAEBO COMMAIAM ICCONA LOIM INNA OILAM VSSEAM TREBARVNE INDI TAVROM IFADEM[...] REVE TRE[...]
Esta inscrição traduz-se habitualmente como: "[é sacrificada] uma ovelha a Trebopala, e um porco a Laebo, oferenda a Iccona Luminosa, uma ovelha de um ano a Trebaruna e um touro semental a Reve Tre[baruna".
Descrição linguística: As inscrições lusitanas (escritas em alfabeto latino) mostram uma língua celtoide facilmente traduzível e interpretável, já que conserva em maior grau a sua semelhança com o celta comum. A conservação do p- inicial nalgumas inscrições lusitanas, faz que muitos autores não considerem o lusitano como uma língua celta mas celtoide. O celta comum perde o p- indoeuropeu inicial. Por exemplo: "porc/om" em lusitano seria dito "orc/os" em outras línguas celtas como o celtibero, galaico, goidélico ou gaulês.
Para estes autores, o lusitano mais do que uma língua descendente do celta comum ,seria uma língua aparentada ao celta comum, é dizer, uma variante separada do celta mas com muita relação a ele.
Os lusitanos foram considerados pelos historiadores hábeis na luta de guerrilhas, como o provaram quando chefiados por Viriato se livraram do cerco de Vetílio e o perseguiram até ao desfiladeiro da Serra de Ronda, onde desbarataram as tropas romanas. Utilizavam como armas o punhal e a espada, o dardo ou lança de arremesso, todo de ferro, e a lança de ponta de bronze. Diz-se também que eles untavam o corpo: que usavam banhos de vapor, lançando água sobre pedras ao rubro, e tomavam em seguida um banho frio; comiam apenas uma vez por dia. Praticavam sacrifícios humanos e quando o sacerdote feria o prisioneiro no ventre faziam vaticínios segundo a maneira como a vítima caía. Sacrificavam a Ares, deus da guerra, não só prisioneiros, como igualmente cavalos e bodes. Praticavam exercícios de ginástica como o pugilato e corridas, simulacros de combates a pé ou a cavalo: bailavam em danças de roda, homens e mulheres de mãos dadas, ao som de flautas e cornetas; cada um tinha apenas uma mulher. Usavam barcos feitos de couro, ou de um tronco de árvore.
As lutas dos lusitanos contra os romanos começaram em 193 a.C.. Em 150 a.C. o pretor Sérvio Galba, após ter infligido aos lusitanos grandes punições aceitou a paz com a condição de eles entregarem as armas, aproveitando depois que os viu desarmados para os chacinar. Isto fez lavrar ainda mais a revolta e durante oito anos os romanos sofreram pesadas baixas. Esta luta só acabou com o assassínio traiçoeiro de Viriato por três companheiros tentados pelo ouro romano. Mas a luta não parou e para tentar acabá-la mandou Roma à Península o cônsul Décimo Júnio Bruto, que fortificou Olisipo, estabeleceu a base de operações em Méron próximo de Santarém, e marchou para o Norte, matando e destruindo tudo o que encontrou até à margem do Rio Lima. Mas nem assim Roma conseguiu a submissão total e o domínio do norte da Lusitânia só foi conseguido com a tomada de Numância, na Celtibéria que apoiava os castros de Noroeste.
Em 60 a.C. Júlio César dá o golpe de misericórdia aos lusitanos. No entanto ainda algumas guerrilhas continuaram pois em 19 a.C. desenvolveram-se acções de submissão nas Astúrias, Leão e Norte de Portugal, onde Augusto e Agripa tiveram de levar a guerra, ficando célebre a última resistência oferecida às tropas romanas pelo castro do monte Medúlio, sobranceiro ao rio Minho, cujos defensores, prestes a serem dominados, acabaram por suicidar-se, preferindo a morte à escravidão.
Citando Caius Julius Caesar (100-44 AC) "Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar."



Ocupação dos Iberos na Península Ibérica.
Os Iberos eram um povo moreno, de estatura mediana, que habitou a península Ibérica na antiguidade. A respeito da sua origem, há duas teorias:
Uma diz-nos que os Iberos eram os habitantes originais da Europa ocidental e os criadores da grande cultura megalítica que teve início em Portugal1, no fim do VI milénio a.C., e se espalhou pela península Ibérica, França, Inglaterra, Irlanda e Dinamarca, até meados do II milénio a. C. Essa teoria está apoiada em evidências arqueológicas, genéticas e linguísticas. A ser verdade esta teoria, os Iberos teriam sido o mesmo povo dominado pelos Celtas no primeiro milénio a.C., na Irlanda, Grã-Bretanha e em França. A própria Enciclopédia Britânica define os ingleses como descendentes dos Iberos e dos Celtas.
Alternativamente outra teoria sugere que eram originários do Norte da África, de onde emigraram provavelmente no século VI a.C. para a península Ibérica (à qual cederam o nome), onde ocuparam uma faixa de terra entre a Andaluzia e o Languedoc (na França). Foram parceiros comerciais dos Fenícios, os quais fundaram dentro do território dos Iberos várias colónias comerciais, como Cádiz, Eivíssia e Empúries. Foram assimilados pelos Celtas no século I a.C. formando o povo conhecido como Celtiberos.
Iberos – Os Iberos eram um povo pré-histórico que vivia no Sul e no Este do território que mais tarde tomou o nome de Península Ibérica. As ondas de emigração de povos Célticos que desde o século VIII até ao século VI a. C. entraram em massa no noroeste e zona centro da actual Espanha, penetraram também em Portugal e Galiza, mas deixaram intactos os povos indígenas da Idade do Bronze Ibérica no Sul e Este da península.
Os geógrafos gregos deram o nome de Ibéria, provavelmente derivado do rio Ebro (Iberus), a todas as tribos instaladas na costa sueste, mas que no tempo do historiador grego Herodotus (500 a.C.), é aplicado a todos os povos entre os rios Ebro e Huelva, que estavam provavelmente ligados linguisticamente e cuja cultura era distinta dos povos do Norte e do Oeste. Havia no entanto áreas intermédias entre os povos Célticos e Iberos, como as tribos Celtiberas do noroeste da Meseta Central e na Catalunha e Aragão.
Das tribos Iberas mencionadas pelos autores clássicos, os Bastetanos eram territorialmente os mais importantes e ocupavam a região de Almeria e as zonas montanhosas da região de Granada. As tribos a Oeste dos Bastetanos eram usualmente agrupadas como "Tartessos", derivado de Tartéssia que era o nome que os gregos davam à região.
Os Turdetanos do vale do rio Guadalquivir eram os mais poderosos deste grupo. Culturalmente as tribos do noroeste e da costa valenciana eram fortemente influenciadas pelas colónias gregas de Emporium ( a moderna Ampúrias ) e na região de Alicante a influência era das colónias fenícias de Malaca ( Malága ), Sexi ( Almuñeca ), e Abdera ( Adra ), que passaram depois para os cartagineses.
Na costa este as tribos Iberas parecem ter estado agrupadas em cidades-estado independentes. No sul houve monarquias, e o tesouro de El Carambolo, perto de Sevilha, parece ter estado na origem da lenda de Tartessos. Em santuários religiosos encontraram-se estatuetas de bronze e terra-cota, especialmente nas regiões montanhosas. Há uma grande variedade de cerâmica de distintos estilos ibéricos.
Foi encontrada cerâmica ibérica no sul da França, Sardenha, Sicília, e África e eram frequentes as importações gregas . A esplêndida Dama de Elche, um busto com características que mostram forte influência clássica grega. A economia Ibérica tinha uma agricultura rica , forte exploração mineira e uma metalurgia desenvolvida.
A língua Ibérica era uma língua não Indo-Europeia, e continuou a ser falada durante a ocupação romana. Ao longo da costa Este utilizou-se uma escrita Ibérica, um sistema de 28 sílabas e caracteres alfabéticos, alguns derivados dos sistemas fenício e grego, mas de origem desconhecida. Ainda sobrevivem muitas inscrições dessa escrita, mas poucas palavras são compreendidas, excepto alguns nomes de locais e cidades do III século, encontradas em moedas. Os Iberos conservaram a sua escrita durante a conquista romana, quando se começou a utilizar o alfabeto latino. Ainda que inicialmente se pensou que a língua basca era descendente do Ibero, hoje considera-se que eram línguas separadas.



Os Celtas na Península Ibérica
Pequeno resumo das novas perspectivas da investigação num campo tão apaixonante como os Celtas da Península Ibérica.
Os Celtas da Península Ibérica é um dos temas mais interessantes da proto-história peninsular, já que é uma etapa chave para entender processos posteriores que aconteceram na Hispânia, e a par disso, forma parte de um movimento cultural que afecta grande parte da Europa.
Este tema despertou bastante interesse nos estudiosos internacionais como Joqueville, que se dedicou ao campo da linguística, e Schulten, que estudou o histórico. Em 1920 foi Bosh Gimpera quem relacionou os estudos anteriores com os Campos de Urnas da Catalunha e iniciou as teorias "invasionistas" tradicionais, teorias que integravam a cultura material, a linguística e as fontes históricas. Estas teorias mantiveram-se até à actualidade, apesar das dificuldades existentes, sobretudo devido à recente investigação arqueológica.
Por este motivo alguns arqueólogos, como Almagro e outros, ao não poderem documentar ditas invasões, preferem falar de uma única "invasão", muito mais complexa e indiferenciada, frente à versão tradicional, liderada por Tovar, da ocorrência de várias invasões, em concreto duas, mas às quais não se pode atribuir uma data ou, inclusive, a época da sua chegada. Recentes estudos a partir de novas perspectivas, tentam explicar a origem, a evolução e personalidade dos Celtas, valorizando os seus aspectos comuns e peculiares.
Celtas e Celtiberos
A primeira pergunta é a seguinte: desde quando se pode falar de Celtas na Península Ibérica? Segundo as fontes documentais mais antigas, a "Ora Marítima" de Avieno, ou mesmo Heródoto, já habitavam dito território no século VI a.C., como alguns antropónimos nas Estelas do Sudoeste parecem confirmar. Para a Península Ibérica surge outro problema: o significado e diferenciação entre Celtas e Celtiberos. Ora bem, Celtas, Keltoi em grego e Celtici em latim, cujo uso mais antigo seguramente serviu para distinguir os povos célticos daqueles que não o eram, enquanto que Celtibero, Celtiberi para romanos, como helénicos, parece diferenciar os celtas hispânicos, sendo um termo restritivo, e referindo-se aos que povoavam as terras altas entre o Sistema Ibérico e a Meseta, os quais enfrentaram Roma mais arduamente. A chave esconde-se na identificação e diferenciação arqueológica dos povos célticos para assim, se poder encontrar a sua origem, a sua evolução e a sua personalidade própria.
Origem
A Península Ibérica sofreu um duplo processo de influência durante o I milénio a.C., por um lado um influxo mediterrânico, enquanto que pelo outro, um processo de celtização afectou as zonas central e ocidental principalmente. A cultura dos "Campos de Urnas", que se havia identificado com os Celtas até agora, foi delimitada no noroeste, logo, as teses "invasionistas" encontram-se com o problema de que esta zona não coincide com a área geográfica e linguística dos Celtas, já que eram sociedades que falariam o ibérico, como parece indicar a epigrafia e as referências históricas.
Segundo a investigação actual, a partir da Idade do Bronze, o interior da Península conheceu a chamada Cultura de Cogotas I, de economia mista agrícola-ganadeira de ovicápridos e transumância local, que desde o II milénio a.C.  estava absorvendo influências do Bronze Atlântico. Até ao século IX a.C. aparecem materiais do mundo tartéssico, como fíbulas, espadas, cerâmicas de decorações geométricas e outras influências, mais leves, do "Campos de Urnas" em consequência de zonas fronteiriças. Este substrato pode relacionar-se com elementos linguísticos indo-europeus, os chamados pré ou protoceltas, que se conservam em alguns topónimos, etnónimos e antropónimos, como o P inicial que conserva o Lusitano, língua diferente da celtibérica ou língua posterior, ou ainda elementos ideológicos, como o ritual de expor os cadáveres dos guerreiros aos abutres entre celtiberos e vaceus, tradição anterior ao ritual de incineração do "Campos de Urnas", como se pode ver em algumas cerâmicas numantinas, ou mesmo como indicaram Sílico Itálico e Eliano. Este substrato também se pode observar na preservação de cultos fisiolátricos, como os santuários de Ulaca, Cabeço das Fráguas, Lamas de Moledo…, com as águas, como evidenciam as oferendas de armas do Bronze Final, com bosques sagrados possível de se observar nos topónimos que mantém Nemeto-, ou divindades muito arcaicas sem forma humana, as quais se iniciam com Bandu-, Navia- ou Reve- que são uma componente não indo-europeia.
Este substrato protocéltico manteve-se no ocidente e norte, mas também aparece entre os povos do interior, como os Carpetanos, Vaceus e Vetões, Lusitanos e Galaicos. Substrato que seria fragmentado e absorvido pela expansão da cultura celtibérica a partir do século VI a.C., sendo esta hipótese a que permite explicar as semelhanças culturais, linguísticas e ideológicas entre todas as populações célticas peninsulares, e que também serve para diferenciar os celtas dos celtiberos.
As explicações são duas. Uma, a "invasionista" tradicional, que aponta para a chegada de grupos humanos que traziam consigo a cultura já formada, explicação que tem sido impossível documentar por não se saber qual é o seu lugar de origem, e sobretudo, as vias de chegada. A outra, que sem excluir movimentos de gentes, sobretudo de elites guerreiras, aponta para uma formação complexa por aculturação e evolução através de diversas vertentes.
Influência e "Celtização"
Os povoados fortificados, e os posteriores Oppida explicam a hierarquização do território que surge em relação à transumância sazonal do gado, para evitar tanto a seca estival da Meseta (fenómeno conhecido como agostamiento), como a dureza invernal das serras. Este tipo de economia produziria uma sociedade hierarquizada, sendo que no topo estaria a classe guerreira, como parecem indicar as fontes históricas.
O ritual de incineração dos cadáveres, pode explicar-se através de influências de "Campos de Urnas", como ocorre nos Celtiberos ou Vetões. A construção de túmulos como o de Pajaroncillo, ou as estelas alinhadas podem ser resultado das diferenças étnicas, cronológicas e sociais. As fíbulas, os adornos e as espadas documentam o uso do ferro desde as primeiras fases de introdução da influência colonizadora (fenícios e gregos), evidenciando influências multi-direccionais, tanto mediterrânicas como transpirenaicas, o que não permite pensar numa única via de chegada, nem numa origem comum. Esses objectos devem considerar-se como objectos de prestígio das elites guerreiras, cujo grande desenvolvimento seria favorecido pelos intercâmbios com o mundo colonial mediterrânico, como pela organização pastoril e guerreira do interior. Assim se compreende que a quantidade destes objectos no interior seja minoritária e que existam variantes locais, dada a sua difusão por intercâmbio e a imitação artesanal.
Esta organização hierarquizada e guerreira, unida à introdução do ferro, produto abundante e difundido rapidamente, explica a formação das características da Cultura celtibérica e a sua tendência para a expansão, a qual se traduziu num processo de "celtização" de outras populações, e chocou com os romanos. O processo de "celtização" explica a aparição de elementos arqueológicos, linguísticos, socio-económicos comuns e atribuíveis aos Celtiberos: como armas "celtibéricas" nas necrópoles, fíbulas, topónimos em briga, antropónimos e topónimos em Seg-; antropónimos "celtius" ou em ambatus, organizações supra-familiares que se reflectem nos genitivos em plural, pactos de hospitalidade, e inclusive um elemento religioso comum, como Lug.
Isto indica a existência de uma zona nuclear nas terras altas do Sistema Ibérico e da Meseta Oriental, a Celtibérica, desde onde parece ter-se alargado a celtização a terras mais Ocidentais, muito permeáveis, por tratar-se de zonas de meio ambiente pastoril. Este processo é posterior à formação das necrópoles celtibéricas a partir do século VII a.C., por exemplo, a cultura vetona das Cogotas "celtiza-se" a partir do século V a.C., aparecendo mais tarde na Estremadura, sul de Portugal e da Bética, assim como do Alto Vale do Ebro e a Noroeste.
Trata-se de um processo intermitente e só seria interrompido com a chegada de Roma. Esta expansão é documentada por Plínio (3, 13) ao dizer que os celtici da Bética procediam dos Celtiberos de Lusitânia. Do mesmo modo o antropónimo Celtius na Lusitânia explica-se como apelativo étnico em áreas não célticas originariamente do Ocidente. Esta "celtização" tardia confirma-se pelos topónimos formados com briga já na época romana: Iuliobriga, Augustóbriga…
Para poder compreender os Celtas da Península Ibérica temos que ter em conta que estes foram permeáveis às influências dos seus vizinhos, sobretudo na cultura material. O contacto com os iberos conduziu à assimilação de elementos mediterrânicos, que se reflecte no conceito de Celtibero e a sua diferenciação material com outras culturas célticas, ainda que se mantivesse a língua e organização sócio-ideológica das elites guerreiras. Estas elites "celtizadas" foram generalizando-se no Ocidente, notabilizando-se em povos como os Vetões, Lusitanos e Galaicos, e mesmo os Iberos, já que os relevos de Osuna e Liria apresentam armas de tipo céltico. O mercenarismo provocaria movimentos de gentes, o que pode ter determinado o controle de algumas cidades por elites célticas, sendo que esta presença pode explicar a aparição de fíbulas de La Tené na Serra Morena.
Este processo não seria pontual, mas antes largo e intermitente no tempo, com um efeito de celtização paulatina, isto é, diferenciado por áreas e momentos, o que nos dá um quadro complexo que permite compreender a falta de uniformidade da celtização da Península Ibérica.
Bibliografia consultada:

* Almagro-Gorbea, M. (1991): Los Celtas en la Península Ibérica. En García Castro, J. A. Los Celtas en la Península Ibérica. Revista de Arqueología, número monográfico. Páginas: 12-17.
* Almagro-Gorbea, M. (1993): Los Celtas en la Península Ibérica: origen y personalidad cultural. En Almagro-Gorbea, M. y Ruiz Zapatero, G (Eds.): Los Celtas: Hispania y Europa. Editorial Actas. Madrid. Páginas: 121-173.

Os celtiberos são o povo que resultou, segundo alguns autores, da fusão das culturas do povo Céltico e a do povo Ibero, nativo da Península Ibérica. Habitavam a Península Ibérica, nas regiões montanhosas onde nascem os rios Douro, Tejo e Guadiana, desde o século VI a.C.. Não há, contudo, unanimidade quanto à origem destes povos entre os historiadores. Para outros autores, tratar-se-ia de um povo Celta que adoptou costumes e tradições iberas. Estavam organizados em gens, uma espécie de clã familiar que ligava as tribos, embora cada uma destas fosse autónoma, numa espécie de federação. Esta organização social e a sua natural belicosidade, permitiram a estes povos resistir tenazmente aos invasores Romanos até cerca de 133 a.C., com a Queda de Numância.
Deste povo desenvolveram-se, na parte ocidental da Península, os Lusitanos, considerados pelos historiadores como os antecessores dos portugueses, que viriam ser subjugados ao Império Romano no século II a.C..

Celtas e Celtiberos
Na mesma altura (entre os sécs. V e IV a.C.), uma nova vaga migratória de origem Céltica, penetra na Península Ibérica, provocando um conjunto de migrações nos povos indígenas.
As profundas alterações que estas migrações provocaram, marcaram a realidade hispânica até à chegada das tropas romanas.
Essencialmente, contribuíram para acentuar e demarcar duas realidades distintas já existentes: uma região sul e litoral mediterranizada (com centros urbanos e uma economia baseada na agricultura e comércio), e uma outra região fortemente continental de organização tribal (com uma economia fundamentalmente pastoril e guerreira).
Por motivos desconhecidos, algumas regiões conseguiram ficar impermeáveis tanto às influências mediterrânicas como às influências célticas.
Os autores clássicos são unânimes em afirmar que a região compreendida entre o Tejo e o Guadiana era habitada pelos Celtas
A área mais fortemente influenciada pelos Celtas no actual território português foi o Alentejo e o Algarve.
Na sua "Historia Natural", Plínio afirma que estes Celtas descendiam dos Celtiberos e tinham vindo da Lusitânia.

Lusitanos
Os Lusitanos e os Celtiberos são as duas grandes nações hispânicas de origem continental.
No entanto, aparentemente nunca se fundiram, e parecem corresponder até a duas diferentes vagas da migração indo-europeia (aos Lusitanos corresponde a mais antiga, aos Celtiberos, a mais recente).
É por isso provável, que estes Celtas se tenham expandido para ocidente ao serem escorraçados pelos Celtiberos (na sua retaguarda), e ao encontrarem a poderosa nação dos Lusitanos, se tenham dirigido para as regiões meridionais.
O povo lusitano vivia da pastorícia, da pesca, da agricultura e da mineração.
Bibliografia consultada:
- Mattoso, José, "História de Portugal" vol. 1, ed. Estampa
- Marques, A. H. de Oliveira, "História de Portugal" vol. 1, ed. 1972



Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro

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