Prosas Bárbaras - Eça de Queirós
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Diálogos , Eça de Queirós , Literatura , Livros , Memórias , Música , People , Pessoas , Profundidade , Raridades , Religião | Posted on 20:43
Prosas Bárbaras
Eça de Queirós
Trechos
Houve um tempo em que andavam exiladas dos lugares humanos as estátuas, que tinham feito a legenda da beleza antiga. Eram de mármore pálido, e a sua nudez era. doce, melodiosa e velada.
Outrora, no tempo dos idílios divinos, quando ainda vivia o grande Pã, e havia deuses debaixo das estrelas elas viviam entre os jogos, as coreias, e todas as flores do bem: brancas, como as espumas iónias; serenas, como a lua de Delos; melodiosas, como a voz das sereias.
Agora andavam perseguidas, e errantes pelas florestas sonoras, e envolvidas na consolação imensa, que sai do canto das aves e da humidade das plantas.
As vezes um cavaleiro, batalhador escuro, que voltava das cidades de ouro e de coral, encontrava uma das brancas peregrinas, como uma aparição de languidez e de tristeza, evocada pela música das ramagens. E se ele por acaso deixava mergulhar nos seus olhos os raios brancos e aveludados dos olhos de mármore, ao outro dia os caminheiros, os que vão de noite cantando à mole claridade das estrelas, encontravam, junto das grandes árvores pensadoras, um corpo inanimado e lívido, como aquelas crianças das legendas, a quem as bruxas chupam o sangue!
Esta história é de há seiscentos anos, e de ontem à noite.
(...) Esta transfiguração da Arte foi na Alemanha. Quando veio Lutero. Nesses tempos a alma alemã, que estava na lei católica como numa solidão lívida, desfalecia naquelas melancolias imensas que Alberto Dürer revelou.
Nem ao menos se podia refugiar na grande Natureza sonora, e embalar-se nas consolações vivas, cheias de mel, de frescura e de sóis. A Igreja condenava os arvoredos, as devezas, as eflorescências, as verduras – todas aquelas vidas, verdes, louras e esplêndidas, como as formas do mal em que o Diabo era visível. Naquele tempo de terror, o carvalho era um espectro, e a flor uma maculação. E a alma, para ficar pura, devia passar na vida sem ouvir a voz docemente profunda da velha Natureza – voz que o catolicismo dizia terrível como a das antigas sereias.
Assim a alma alemã tinha toda a sorte de penumbras, de desfalecimentos, de pálidos silêncios, que se exalaram divinamente no canto..
Lutero concorreu para este alívio divino e livre da alma germânica, libertando a música.
A meiga consoladora tivera sempre até aí uma atitude hierática: havia só salmos, cânticos e versículos segundo o rito litúrgico: era a velha melopeia grega esfarrapada pelas asperezas do latim dos versículos.
Nem ao menos se podia refugiar na grande Natureza sonora, e embalar-se nas consolações vivas, cheias de mel, de frescura e de sóis. A Igreja condenava os arvoredos, as devezas, as eflorescências, as verduras – todas aquelas vidas, verdes, louras e esplêndidas, como as formas do mal em que o Diabo era visível. Naquele tempo de terror, o carvalho era um espectro, e a flor uma maculação. E a alma, para ficar pura, devia passar na vida sem ouvir a voz docemente profunda da velha Natureza – voz que o catolicismo dizia terrível como a das antigas sereias.
Assim a alma alemã tinha toda a sorte de penumbras, de desfalecimentos, de pálidos silêncios, que se exalaram divinamente no canto..
Lutero concorreu para este alívio divino e livre da alma germânica, libertando a música.
A meiga consoladora tivera sempre até aí uma atitude hierática: havia só salmos, cânticos e versículos segundo o rito litúrgico: era a velha melopeia grega esfarrapada pelas asperezas do latim dos versículos.
Palestrina, Allegri, Pergolesi foram apenas reveladores de madrigais seráficos e de subtilezas eucarísticas. Ela estava envolta no dogma, vestida de latim, embaraçada de dificuldades, presa, como uma estátua, nas escuridades do santuário.
Lutero tomou aquela bela e fria estátua, despiu-a do latim, desprendeu-a das subtilezas, desligou-lhe os braços descamados, tirou-a do santuário, levou-a para o ar livre – para as largas palpitações. E a estátua delicada, rosada, meiga, consoladora, tomou pela mão a triste Alemanha e levou-a como a Beatriz mística pela orla das moradas santas.
Foi o momento de lirismo e de paixão da Reforma. Aqueles braços que se tinham erguido por entre as constelações caíram logo como asas molhadas. A música teve um momento o rosto aceso nas iluminações divinas, mas ficou de novo fria, hierática – mármore pálido.
A música que é a alma, o espiritualismo, o vapor da Arte – sumiu-se com a aproximação da Renascença, que vinha cheia de rebeliões da carne.
A Reforma tinha sido feita em nome do idealismo, em nome da alma escarnecida: a Europa tinha-se esquecido da alma, da pureza, das castidades, do olhar da Virgem cor de violeta; ela caminhava nas púrpuras e nas fulgurações, seguida das pombas lascivas, com as brancas nudezas cobertas de veludos, escutando os contos da rainha de Navana, acompanhando em serenata profana as cantigas de Ariosto, entre os mármores frescos e os seios macios, desfalecida nas molezas da carne.
O magro Martinho Lutero veio bradar em nome da alma, contra as púrpuras daquele pálido paganismo.
E a Europa assustou-se: os papas tomaram atitudes severas e lívidas; e voltou-se a Deus como no tempo de Dante. Foi momentâneo este puritanismo da velha Europa. O sensualismo tinha visto pela primeira vez a Igreja, sua velha inimiga, tremer, e encaminhou-se feroz com as vinganças da carne.
A Renascença vinha depois daquelas lívidas castidades góticas, dos jejuns transparentes, das faces maceradas, daquelas chagas roxas de Cristo. Vinha com toda a sorte de livres palpitações e de rebeliões soberbas. Vinha cheia da Natureza e em nome dela; sentiam-se-lhe as sonoridades e os acres cheiros das florestas, e as vivas humidades dos mares. A carne ia aparecendo, tremenda, João de Leyde ressonava de noite, cansado de gulas, entre as suas catorze mulheres: começava a surgir o ventre imenso de Gargântua: sentiam-se fumegar as bodas de Gamacho; e para as bandas do Norte já se ouvia o riso do velho Falstaff.
A atmosfera da Renascença, pesada de aromas fortes e de sensualidade, das vaporações da languidez, não podia conservar a vitalidade àquela vaga Ofélia, que se chama a música.
A época da música ainda não tinha vindo: a Arte é como a vegetação – só cresce, só tem coloridos e sombras e repousos dadas certas circunstâncias de vitalidade: mas dadas essas condições, ela nasce espontaneamente, e vem então cheia da alma dessa época, da sua inteligência, da sua fé, das suas tristezas, das suas desesperanças. A música, toda alma, não achou essas condições na Renascença, toda carne. A nossa época é que devia produzir a música como a Grécia produziu a escultura, como a Europa gótica a arquitectura e a era das monarquias e das academias a tragédia raciniana.
Com efeito, nunca, como neste tempo, as profundidades da alma, cavadas e alargadas pelas revoluções, estiveram tão fundas e tão ilimitadas. Durante a lei católica e os embrutecimentos monárquicos, a alma movia-se lenta como o mar, unida, calma, pesada, opaca e coberta de brumas. De repente as revoluções passaram pela noite sacudindo os seus fachos severos, donde saltavam constelações. A alma alumiou-se entre repelões brutais: iluminaram-se longes surpreendentes: houve um desencadeamento de brados, de vontades, de violências: daquela claridade viva saíam desejos, sentimentos, paixões, amores, imaginações, epopeias nos livres turbilhões. Toda a sombra se ia retirando da alma, em amontoações rápidas e cobardes, com o ruído distante de um desabamento de bastilhas. Era uma ressurreição mais cheia de seiva e de violência que a vida flamejante das constelações, que a vida desvairada dos mares. Saíam daquelas profundidades santas, como evaporações de luz, as criticas, as histórias, as filosofias, as medicinas, as químicas, as imaginações, os dramas, toda uma vegetação divina.
A alma começou a entrever cimos luminosos, erguidos por entre os astros, que se chamavam Homero, Ésquilo, Dante, Miguel Angelo, Rabelais, Cervantes e Shakespeare. A alma queria subir àqueles escarpamentos divinos, para colher a pequena flor do ideal. Fia via moverem-se ali mil figuras, voluptuosas e sinistras. disformes. irónicas, apaixonadas, ciosas e lívidas: e nas claridades e nos círculos de um vento divino subirem por entre as irradiações dos astros, os tremores das tormentas, os gritos das andorinhas e os luares silenciosos, subirem gritos, lágrimas, soluços, risos, cantos, suspiros, bênçãos e imprecações. A alma via aquela vida flamejante acesa no espaço
Como uma Jerusalém humana erguida na luz, ao sopro dos fortes peitos. E queria subir à montanha sagrada e andar por entre aquelas imaginações que sofrem, que sangram, que deliram, que são Romeu, Hamlet, D. Quixote, Orestes, Prometeu, Francesca de Rimini e Ofélia! Era um Patmos estranho aquilo, um promontório do pensamento, donde se avistava um mar, ora embalando-se sereno nos silêncios alumiados, ora dando-se lascivo aos beijos do vento, ora indolente e melodioso, depois cheio de iras, de esguedelhamentos, de farrapos lívidos de água, de trágicos soluços do abismo.
Os que não se aventuravam naquela passagem ficavam sossegadamente na sua fé ordinária, na sua virtude, na sua sonolência; mas os que as atravessavam entravam nos sofrimentos infinitos: quase que ficavam fora da medida humana: o que quer que fosse de ilimitado entrava neles, com bruscos desvairamentos. O homem sente-se como possuído pelo demónio Legião. Sente as inquietações descoradas, os abati mentos dolorosos, os amores infinitos, as ambições nevrálgicas, as imaginações lívidas, toda uma amontoação apocalíptica de estranhas vitalidades interiores. Vai pálido. Quem é ele? É aquele que sofre. E o infinito que ele tem em si tortura-o como a presença de Deus torturava as sibilas antigas.
E depois, ao mesmo tempo, viu-se que os prometimentos das revoluções tinham mentido. Tinham-se visto tantos derrubamentos, tantas forças desvanecidas, tantos direitos divinos assoprados, tantas fulgurações de Sodomas apagadas, que não se acreditava que ainda pela sombra pudesse estar de pé. e actuante, alguma antiga fatalidade. Pensava-se que a miséria, que a fome, que o erro, que a mentira, que as bruxas e as negruras históricas tinham fugido. como um fumo: mas aqueles lobos trágicos ainda andavam pela noite mordendo as almas.
O mal passava ainda, nas suas façanhas fulgurantes enredando nos vícios e nas tentações, fixando no homem o seu olhar fúnebre através das transparências doentias da noite, batalhando com as almas e fazendo-lhes a chaga incurável do pecado. E então, como que nasceu uma convicção tenebrosa: a impossibilidade do libertamento..
Erguiam-se os braços magros e suplicantes: olhava-se pela Terra, a ver se não viria alguém da parte da Natureza, um monte, uma floresta, um mar, um vulcão, que tomasse o homem pela mão e lhe dissesse com a bonomia dos monstros: Vem, eu te protejo. (...)
Lutero tomou aquela bela e fria estátua, despiu-a do latim, desprendeu-a das subtilezas, desligou-lhe os braços descamados, tirou-a do santuário, levou-a para o ar livre – para as largas palpitações. E a estátua delicada, rosada, meiga, consoladora, tomou pela mão a triste Alemanha e levou-a como a Beatriz mística pela orla das moradas santas.
Foi o momento de lirismo e de paixão da Reforma. Aqueles braços que se tinham erguido por entre as constelações caíram logo como asas molhadas. A música teve um momento o rosto aceso nas iluminações divinas, mas ficou de novo fria, hierática – mármore pálido.
A música que é a alma, o espiritualismo, o vapor da Arte – sumiu-se com a aproximação da Renascença, que vinha cheia de rebeliões da carne.
A Reforma tinha sido feita em nome do idealismo, em nome da alma escarnecida: a Europa tinha-se esquecido da alma, da pureza, das castidades, do olhar da Virgem cor de violeta; ela caminhava nas púrpuras e nas fulgurações, seguida das pombas lascivas, com as brancas nudezas cobertas de veludos, escutando os contos da rainha de Navana, acompanhando em serenata profana as cantigas de Ariosto, entre os mármores frescos e os seios macios, desfalecida nas molezas da carne.
O magro Martinho Lutero veio bradar em nome da alma, contra as púrpuras daquele pálido paganismo.
E a Europa assustou-se: os papas tomaram atitudes severas e lívidas; e voltou-se a Deus como no tempo de Dante. Foi momentâneo este puritanismo da velha Europa. O sensualismo tinha visto pela primeira vez a Igreja, sua velha inimiga, tremer, e encaminhou-se feroz com as vinganças da carne.
A Renascença vinha depois daquelas lívidas castidades góticas, dos jejuns transparentes, das faces maceradas, daquelas chagas roxas de Cristo. Vinha com toda a sorte de livres palpitações e de rebeliões soberbas. Vinha cheia da Natureza e em nome dela; sentiam-se-lhe as sonoridades e os acres cheiros das florestas, e as vivas humidades dos mares. A carne ia aparecendo, tremenda, João de Leyde ressonava de noite, cansado de gulas, entre as suas catorze mulheres: começava a surgir o ventre imenso de Gargântua: sentiam-se fumegar as bodas de Gamacho; e para as bandas do Norte já se ouvia o riso do velho Falstaff.
A atmosfera da Renascença, pesada de aromas fortes e de sensualidade, das vaporações da languidez, não podia conservar a vitalidade àquela vaga Ofélia, que se chama a música.
A época da música ainda não tinha vindo: a Arte é como a vegetação – só cresce, só tem coloridos e sombras e repousos dadas certas circunstâncias de vitalidade: mas dadas essas condições, ela nasce espontaneamente, e vem então cheia da alma dessa época, da sua inteligência, da sua fé, das suas tristezas, das suas desesperanças. A música, toda alma, não achou essas condições na Renascença, toda carne. A nossa época é que devia produzir a música como a Grécia produziu a escultura, como a Europa gótica a arquitectura e a era das monarquias e das academias a tragédia raciniana.
Com efeito, nunca, como neste tempo, as profundidades da alma, cavadas e alargadas pelas revoluções, estiveram tão fundas e tão ilimitadas. Durante a lei católica e os embrutecimentos monárquicos, a alma movia-se lenta como o mar, unida, calma, pesada, opaca e coberta de brumas. De repente as revoluções passaram pela noite sacudindo os seus fachos severos, donde saltavam constelações. A alma alumiou-se entre repelões brutais: iluminaram-se longes surpreendentes: houve um desencadeamento de brados, de vontades, de violências: daquela claridade viva saíam desejos, sentimentos, paixões, amores, imaginações, epopeias nos livres turbilhões. Toda a sombra se ia retirando da alma, em amontoações rápidas e cobardes, com o ruído distante de um desabamento de bastilhas. Era uma ressurreição mais cheia de seiva e de violência que a vida flamejante das constelações, que a vida desvairada dos mares. Saíam daquelas profundidades santas, como evaporações de luz, as criticas, as histórias, as filosofias, as medicinas, as químicas, as imaginações, os dramas, toda uma vegetação divina.
A alma começou a entrever cimos luminosos, erguidos por entre os astros, que se chamavam Homero, Ésquilo, Dante, Miguel Angelo, Rabelais, Cervantes e Shakespeare. A alma queria subir àqueles escarpamentos divinos, para colher a pequena flor do ideal. Fia via moverem-se ali mil figuras, voluptuosas e sinistras. disformes. irónicas, apaixonadas, ciosas e lívidas: e nas claridades e nos círculos de um vento divino subirem por entre as irradiações dos astros, os tremores das tormentas, os gritos das andorinhas e os luares silenciosos, subirem gritos, lágrimas, soluços, risos, cantos, suspiros, bênçãos e imprecações. A alma via aquela vida flamejante acesa no espaço
Como uma Jerusalém humana erguida na luz, ao sopro dos fortes peitos. E queria subir à montanha sagrada e andar por entre aquelas imaginações que sofrem, que sangram, que deliram, que são Romeu, Hamlet, D. Quixote, Orestes, Prometeu, Francesca de Rimini e Ofélia! Era um Patmos estranho aquilo, um promontório do pensamento, donde se avistava um mar, ora embalando-se sereno nos silêncios alumiados, ora dando-se lascivo aos beijos do vento, ora indolente e melodioso, depois cheio de iras, de esguedelhamentos, de farrapos lívidos de água, de trágicos soluços do abismo.
Os que não se aventuravam naquela passagem ficavam sossegadamente na sua fé ordinária, na sua virtude, na sua sonolência; mas os que as atravessavam entravam nos sofrimentos infinitos: quase que ficavam fora da medida humana: o que quer que fosse de ilimitado entrava neles, com bruscos desvairamentos. O homem sente-se como possuído pelo demónio Legião. Sente as inquietações descoradas, os abati mentos dolorosos, os amores infinitos, as ambições nevrálgicas, as imaginações lívidas, toda uma amontoação apocalíptica de estranhas vitalidades interiores. Vai pálido. Quem é ele? É aquele que sofre. E o infinito que ele tem em si tortura-o como a presença de Deus torturava as sibilas antigas.
E depois, ao mesmo tempo, viu-se que os prometimentos das revoluções tinham mentido. Tinham-se visto tantos derrubamentos, tantas forças desvanecidas, tantos direitos divinos assoprados, tantas fulgurações de Sodomas apagadas, que não se acreditava que ainda pela sombra pudesse estar de pé. e actuante, alguma antiga fatalidade. Pensava-se que a miséria, que a fome, que o erro, que a mentira, que as bruxas e as negruras históricas tinham fugido. como um fumo: mas aqueles lobos trágicos ainda andavam pela noite mordendo as almas.
O mal passava ainda, nas suas façanhas fulgurantes enredando nos vícios e nas tentações, fixando no homem o seu olhar fúnebre através das transparências doentias da noite, batalhando com as almas e fazendo-lhes a chaga incurável do pecado. E então, como que nasceu uma convicção tenebrosa: a impossibilidade do libertamento..
Erguiam-se os braços magros e suplicantes: olhava-se pela Terra, a ver se não viria alguém da parte da Natureza, um monte, uma floresta, um mar, um vulcão, que tomasse o homem pela mão e lhe dissesse com a bonomia dos monstros: Vem, eu te protejo. (...)
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Bichinho Azul, conta p´ra mim quantos dedinhos e buraquinhos contou por aqui?