Série Mulheres - Maria de Lurdes de Sá Teixeira
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in ANTIGUIDADES , Mulher , Primeira Mulher , Raridades , Rubrica da Mulher , Vidas , Vidas Humanas | Posted on 16:27
« Foi na linda manhã de 1 de Junho do ano corrente, prestes a sumir-se nos umbrais do século XX, que eu fui largada na pista da Escola Militar de Aviação. Semelhante à avezita que subitamente se vê liberta de um cativeiro de longos meses, entre as grades da sua prisão, e que voa, voa, em pleno ar, respirando sofregamente a sua pureza na imensidade do espaço infinito, análoga sensação senti, ao ver abrirem-se para mim, de par em par, as portas do AR, e, sozinha, num à vontade, alegre e confiante, a mão firme na “manche”, numa ânsia louca de subir, voei, voei enfim…»
(...) Em entrevista ao grande jornal de
domingo, o Actualidades, Maria de Lourdes regista que
foi hercúlea a batalha travada para ir ao encontro da
sua vocação. Assim, obstáculos de natureza vária que
teve de ultrapassar. Desde logo, a preocupação dos familiares mais próximos, tentando dissuadi-la de seguir
um caminho que não se coadunava com as expectativas
sociais em relação
a uma adolescente
oriunda
da média-alta burguesia.
Na verdade,
seu pai,
dotado
de formação
académica superior,
opor-se-ia
a
tais
“voos”, vindo a ceder pouco mais tarde,
já que os
seus
conhecimentos científicos, enquanto médico, o
coagiam
a dar primazia à saúde de Maria de Lourdes,
a
qual ao ser impedida de ingressar
no treino,
somatizou
a sua frustração
entrando num processo
de debilidade
física.
A experiência do Dr.
Afonso Henrique
Botelho
de Sá Teixeira
falou mais alto do que as convenções
sociais. É sua filha quem o reconhece:
– Entristecia-me muito tanta oposição. Porquê? Que
mal havia em querer voar? Parece que emagreci demais.
Os meus chegaram a recear pela minha saúde. O
médico surgiu na pessoa do pai, que me prometeu, que se
eu me alimentasse e não me entristecesse, - o que era inconveniente para a minha saúde – procuraria obter a
minha admissão na Escola.
–
Cumpriu
4
.
Col Estúdio Mário Novais/Biblioteca de Arte/FCG
Da atitude de seu pai pode ser dito: de opositor a
cooperante foi um passo. À época, a escola de aviação
era militar e o ingresso
feminino vedado, pelo que
as
diligências do médico militar
foram decisivas.
A aspiração de Maria de
Lourdes não deve ser vista como
um capricho, mas como
uma
vocação. Só esta leva
alguém
a empenhar-se
em
aprender,
canalizando todo
o seu tempo e energia para
o treino físico e mental, viabilizar
o exercício
da vontade
para enfrentar
obstáculos e aceitar os inevitáveis sacrifícios.
Apelidando-a de
“verdadeiramente desportiva” o jornal O Globo dirá a
seu respeito:
Apenas por espírito desportivo, por amor à aviação –
porque sim – fez o seu curso de aviadora, a despeito da
doença que a afligiu durante ele, das naturais contrariedades
que sofreu
das oposições
e possivelmente
da maledicência.
Admirável rapariga essa, que resgatou com a
sua galhardia séculos de mazombice freirática
A determinação e o entusiasmo da instruenda contagiaram
o seu mestre,
que a ela dedicou todo o seu
tempo
e saber.
Só a convergência
destes elementos
possibilita
a eficaz aliança, da qual a nossa aviadora
tem
consciência ao afirmar:
Devido ao esforço, solicitude e muita proficiência do meu
instrutor, capitão Craveiro Lopes, e à extrema gentileza
de todos os oficiais da Escola, aliados à minha grande
força de vontade e à minha ambição de todos os dias, consegui
finalmente
ultimar o curso no dia 6 deste
mês.
No link que se segue, poderá ler na integra o texto - formato PDF
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Bichinho Azul, conta p´ra mim quantos dedinhos e buraquinhos contou por aqui?