Confissões De Uma Dançarina

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , , , , , , , | Posted on 19:29

Pintura , Fernando Botero


Confissões De Uma Dançarina
Género: Ficção

Ano: 17-10-2006
Hora: 0:31:41


Por: NãoSouEuéaOutra





(...) perguntou-lhe:
'Linda mulher, filha da graça e do encantamento,
de onde vem tua arte
e como é que comandas
todos os elementos em seus ritmos e versos?'(...)
(Khalil Gibran)


Chego a casa a altas horas da madrugada e o único murmúrio que se ouve é a brisa da noite, onde a alva ainda dorme aconchegada no manto da escuridão. Dispo o casaco que trago vestido e atiro-o para cima da cadeira mais próxima que encontro, escondendo um segredo que ninguém sabe, a não ser aqueles que comigo privam nesse mundo. No corpo trago os cheiros das ambrósias decadentes dos desejos que satisfiz com enorme gozo. O gozo que ninguém desconfia e do qual só as grandes Senhoras são detentoras.


(…) Sou uma Senhora e danço por dinheiro.
Sou uma Senhora durante o dia,
sou uma Dançarina durante a noite
e danço por dinheiro (…)


Sou perfeita no que faço e não faço por menos. Tenho pés perfeitos unidos a um corpo timbrado com esses sons régios que vem das esferas superiores. Mas, hoje tenho cisco nos pés e ainda assim, estou feliz! Ganhei um Diamante. Porque à parte de tudo, sou uma Senhora e não faço por menos. Ganhei-o e nem sei o nome daquele que mo ofereceu e pouco importa os nomes quando tudo o que sei é que sou boa. Danço por dinheiro. Pouco de cismática tenho e tudo o que faço é porque quero e porque sou boa! Não perco tempo e jogo o jogo sem ilusões.


(…) Sou uma Senhora e danço por dinheiro.
Sou uma Senhora durante o dia,
sou uma Dançarina durante a noite
e danço por dinheiro (…)


Olho o diamante por entre os dedos, aproximo-o da luz e mergulho na sua mais íntima essência. Dizem que os diamantes são os amantes das mulheres solitárias e eu rio e rio até não conter mais nenhum riso. Claro, eu não penso assim; penso que são antes o meu wirdarlon por ser uma Senhora, digna de um estatuto de Rainha. Não faço por menos. Danço por dinheiro. Sou uma dançarina privada. Quando eles chegam até mim eu nem os vejo, simplesmente faço o meu trabalho e faço-o com gozo, o gozo que nunca suspeitarão e sou boa, muito boa!! A minha perfeição é tão grande que nem me lembro dos seus rostos, mas, reconheço-lhes os bolsos. Os bolsos de onde voam diamantes presos por fios de seda e que são enlaçados ao meu kleitorís num beijo mortal de gozo.


(…) Sou uma Senhora e danço por dinheiro.
Sou uma Senhora durante o dia,
sou uma Dançarina durante a noite
e danço por dinheiro (…)

Estiro os pés cansados da longa noite e convido-me mais tarde para um belo banho, onde os aromas devastarão os sucos da noite perdidos no corpo e no entanto gozados à tangencia de todas as razões humanas. Sou muito boa, muita boa nesta minha profissão. Faço-a por gozo e por cima de gozo. Danço por dinheiro. Nada mais belo do que avançar por entre a noite dos palcos vestida de forma sumptuosa envolvendo o corpo de tecidos minúsculos e sedosos, com os cabelos reluzindo como o brilho de certas pérolas e de todos os diamantes e o rosto coberto de um véu que esconde o fogo do gozo. Ser um anjo do prazer farto e minucioso e adentrar no desconhecido por puro gozo e chegar perto de ti e agarrar-te no que de mais intenso tens e te ofertar o sumo do prazer numa pequena gota, porque as restantes gotas são todas para mim.


(…) Sou uma Senhora e danço por dinheiro.
Sou uma Senhora durante o dia,
sou uma Dançarina durante a noite
e danço por dinheiro (…)


Os homens chegam nestes lugares e eles não sabem o que procuram, mas, eu sei e faço-o por gozo. Eles são cruéis, mas a minha crueldade não conhece limites e sou mortal. Faço-o por gozo, o gozo que não suspeitam e gozo em cima através dos seus ignorantes véus; e eles dizem: «Obedecer-te-ei!!!» e eu rio e rio. Sou uma dançarina e danço por dinheiro. Não o faço por eles, faço-o por mim. Por gozo que me faz prenhe todos os dias de mim mesma. Renasço, transfiguro e alimento-me como se fosse uma filha do Drácula. Vivo para gozar e gozar em cima do gozo e danço por dinheiro. Eles não sabem e cumpro a minha missão. Sou filha da Afrodite e nasci para fazer-me dançar e deixar o sonho chegar a ti. Mas, faço-o por mim e só por mim, e sou boa, muito boa. Sou Mulher e encarno todos os seus véus, e venero-a em todas as suas dimensões. Por isso sou boa, muito boa. Danço para ti, dançando para mim e gozo o frémito de todos os gozos.


(…) Sou uma Senhora e danço por dinheiro.
Sou uma Senhora durante o dia,
sou uma Dançarina durante a noite
e danço por dinheiro (…)


É hora de me levantar e tomar um banho, limpar o cisco dos pés e deitar-me. Quando acordar pelo meio da manhã vou vestir um outro corpo. O corpo de mulher igual a todas as outras que andam na claridade no mundo. Ser a Senhora que o sou e muito bem o sou. Sigo em meio delas e nem sentem o cheiro da minha outra vida que me põem prenhe todos os dias e sobre qual gozo o gozo dos mil gozos e na claridade do dia sobre a abóbada do mundo eles, os homens, não existem no meu universo adverso ao dia.


(...) A dançarina (...)
Disse:'Majestade, respostas eu não tenho às vossas perguntas.
Somente isso eu sei: a alma do filósofo vive em sua cabeça,
a alma do poeta vive em seu coração,
a alma do cantor vive em sua garganta,
mas a alma da dançarina habita em todo o seu corpo.'(...)
(Khalil Gibran)


Homens Geniais

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , | Posted on 19:12




É a rede entre os temas da genialidade, da arte e da loucura. Minha tese é que os verdadeiros gênios são raros no curso do acontecer histórico. No mais das vezes, o que se encontra são indivíduos talentosos que, procurando alívio para o seu sofrimento, fazem a projeção e a catarse de suas dores nas obras de arte que produzem. Desta forma, homens talentosos, alavancados pela sua psicopatologia, são capazes de produzir as obras-primas da arte universal.

Em Phaedrus 245 (Platão), Sócrates aparece afirmando que os poetas são susceptíveis à loucura, chegando, mesmo, a asseverar que não obteriam sucesso sem ela (poderíamos aqui, lembrar Torquato Tasso, Poe, Pound, Kleist, Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Musset etc.). Nos diálogos com Íon de Chios, Sócrates declara que os poetas e os críticos são possuídos pela loucura, de modo que eles chegam a perder, conscientemente, o controle sobre suas palavras. No Problemata 30, de Aristóteles, diz o mestre que os poetas e os filósofos têm uma inclinação excessiva à melancolia.

O exaustivo, atual e excelente trabalho publicado por Felix Post, após ter estudado 291 biografias de homens geniais, conclui que graves desvios de personalidade são freqüentes nos artistas plásticos e nos escritores. Avança em suas observações, chegando a dizer que a depressão e o alcoolismo, certamente estariam intimamente ligados a formas de verdadeira criatividade. Cremos que aqui poderíamos citar, sem temor de errar, como exemplos dessa assertiva, Edgar Allan Poe, Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Hemingway, Faulkner e por aí vai.

Slater depois de cuidadosos trabalhos a respeito do excitante tema de criatividade e da patografia, afirma que o evento psicopatológico, quando presente, exerce o poder de alavancar a atividade criadora. Vários outros autores chegaram mesmo a levantar a hipótese de causa e efeito entre anormalidades mentais, sua psicopatologia e a criatividade artística (Eysenck, 1983; Andreason, 1987 e Jamison, 1989).

Certa ligação entre criatividade e tendência a doenças afetivas hoje é largamente aceita6, bem como há numerosas publicações, como a de Jamison (1993), advogando uma específica relação entre a criatividade e desordens (bipolares) maníaco-depressivas.

Felix Post cita como pacientes com sérios problemas da psicopatologia ou graves distúrbios sexuais: Charlotte Brontë, Colette, George Eliot, Virginia Woolf e Marie Curie. Na pesquisa de F. Post, os cientistas têm uma baixa prevalência quanto às anormalidades psíquicas, ao contrário dos compositores, políticos, artistas, pensadores e escritores.

Quanto à sexualidade, Hitler apresentava ejaculação precoce, enquanto que, em Gandhi, vamos notar uma sublimação da atividade sexual, por deslocamento, para a atividade política, e a conseqüente cessação do intercurso conjugal. Carlyle, Ruskin e Tchaikovsky mostraram-se incapazes de consumar o casamento. O exibicionismo e o alcoolismo de Utrillo chegaram a levá-Io a internação hospitalar.

Quanto à orientação sexual outras, dentre os gênios homossexuais poderíamos citar: Michelangelo, os compositores Britten e Tchaikovsky, os filósofos Foucault e Wittgenstein. Bissexuais, mas predominantemente homossexuais, foram John Maynard Keynes e André Gide. Outros homossexuais, Somerset Maughan, Proust, Oscar Wilde, Dhiaghilev, Nijinsky, Jean Cocteau, Lorca. Dentre homossexuais latentes, Leonardo da Vinci, Gógol e Henry James.

Quanto a doenças da psiquiatria manifestas em personalidades geniais, pode-se lembrar os nomes de Donizetti, Virginia Woolf e Hemingway como apresentando o Transtorno Afetivo Bipolar (ou, Psicose Maníaco-Depressiva); em Schumann, a esquizofrenia paranóide. Van Gogh é um caso interessante, pelos vários diagnósticos que lhe já foram conferidos. De minha parte concordo plenamente com Gastaut, pensando tratar-se de um caso de epilepsia psicomotora (ou epilepsia do lobo temporal). Strindberg era esquizofrênico, dependente de absinto e álcool. James Joyce, esquizóide e esquizopata, que durante um período de depressão, apresentou alucinações auditivas. Lendo Ulysses, de Joyce, Jung7 viu neste livro um exemplo de uma obra produzida por um cérebro esquizofrênico.

Felix Post diz que, em contraste com os cientistas, os novelistas e dramaturgos costumam apresentar em seus ascendentes, casos psiquiátricos, bem como, de regra, tiveram uma infância e uma vida adulta sofrida. Em contraponto com os cientistas, os escritores, artistas e intelectuais freqüentemente apresentam dificuldades psicossexuais e conjugais: como exemplos, podemos recordar Kleist, Wagner, Poe, Sacher-Masoch, Sade, Verlaine, Gide, Stephan Zweig, Picasso, Salvador Dali, Pound.

O conceito de gênio originou-se em um núcleo de indivíduos dotados de manifestas e excepcionais aptidões para a expressão artística ou para a investigação. Neles notamos o mais alto grau da capacidade mental criadora, em qualquer sentido da atividade humana. Se a obra de um homem transcende o condicionamento sociológico da conjuntura em que foi produzida, tornando-se universal, poderemos dizer que temos diante de nós um gênio. Este ocupa o patamar exponencial do espírito humano, tornando-se um epígono do curso histórico; transformando-se em uma individualidade peculiar e excepcional, no tropel da humanidade que não pára.

Por outro lado, o homem suficientemente feliz, o Homo medius, aquele que, com muita clareza e visão, foi definido por Bovio como sendo o mais dócil e acomodatício, isto é, o mais capaz de adaptação a todas e às menores circunstâncias da vida social, será, via de regra, do ponto de vista da imaginação criadora, um medíocre. Não terá necessidade de potencializar suas hipotéticas virtuosidades e talentos, pois que, satisfeito de modo pleno com os conceitos da vida e de mundo da época em que vive, a ela se acomodará sossegada e frouxamente.

O gênio verdadeiro, genuíno, ninguém explica. Creio, contudo, que o verdadeiro talento, propulsionado pelo sofrimento da loucura, da desadaptação, tem, nas suas turbulências anímicas, um papel potencializador, impulsor de suas potencialidades, podendo elevar a obra de um grande talento às culminâncias da obra genial. Como exemplo esplêndido de nossa tese, temos Kleist, que só na iminência do suicídio (de formulação tipicamente psicótica), escreveu o seu genial poema Litania da Morte. Picasso só formulou e concebeu o cubismo, em decorrência de sua esquizofrenia latente, e o mesmo se pode dizer de Salvador Dali.

Pensamos que os gênios, os que chamamos de genuínos (Leonardo da Vinci, Michelangelo, Bach) são algo escassos no decorrer do curso da história. No mais das vezes, pensamos se tratar de grandes talentos, que pelos sofrimentos e angústias da loucura, tiveram necessidade premente, para seu alívio anímico, de produzir artisticamente. Pela sua imperiosa necessidade de projeção e catarse, ao produzir uma obra de arte genial, o artista logra, concomitantemente, algum alívio anímico, que a projeção e a purgação de suas cargas emocionais angustiantes, provindas de sua loucura, lhe podem proporcionar.

Se entendermos a loucura como o fruto de um conjunto de distúrbios graves dos processos perceptivos, do juízo crítico de realidade, da consciência moral, da consciência do eu e dos objetos, dos afetos, sentimentos e dos processos intelectivos, vamos perceber que tal situação clínica será vivenciada de maneira terrivelmente angustiante pelo paciente. Sendo, este, talentoso, há de querer aliviar seu sofrimento através de sua arte, projetando aflitivamente, na tela, no mármore, no papel, suas angústias, purgando seu padecer, e elevando, desta forma, às culminâncias geniais, a sua obra artística.

A loucura, em si, nada cria. Haja vista o caso de HöIderlin que, à medida em que a demência esquizocárica, incipientemente progredia, seu talento poético foi-se extinguindo. A loucura, em si mesma, separada de outros fatores que estão amalgamados na personalidade, tudo destrói. Porém, se a loucura se abate sobre um talento ou um gênio, não o consumirá de todo. Ele se defenderá pela projeção e pela catarse, situando-se em uma zona limítrofe instável, entre a insanidade e a normalidade. Aí encontraremos a zona de luz da verdadeira criação artística genial, pois que ainda algo apegado à realidade, pode o artista produzir obras que as mentes comuns jamais seriam capazes de fazê-Ias (por exemplo, o impressionismo, o fauvismo, o cubismo, o surrealismo, o abstracionismo, as colagens, a arte conceitual).

Se por um lado encontramos o homem normótico, o homem médio, com sua filosofia de Sancho Pança, que por nada quer perder sua tranqüilidade, e com sua ingênua indiferença diante do insólito, não se aborrece; por outra parte temos o indivíduo excepcional, o talento, à genialidade alçado pela loucura, parcialmente psicopático, com seus nervos hipersensíveis, suas vivas reações afetivas, sua escassa capacidade de adaptação, humores e destemperos, angústias e ansiedades, a produzir a arte eterna, fruto dessas erupções anímicas e tectônicas da personalidade e assim o faz seu próprio alívio, para a glória de seus pósteros e gáudio da humanidade.

Contrariamente à tese de Foucault, julgo que a loucura deva ser tratada e que ela, por si só, nada cria. As demências esquizocáricas de Nijinsky, Salvador Dali e HöIderlin são exemplos bem característicos do que disse. A loucura tudo destrói, quando dissocia ou demencia uma personalidade. Em contraposição, VilIa-Lobos e Stravinsky, por exemplo, eram pessoas geniais, mas pragmáticas e bem adaptadas à sua época e às exigências de seu tempo.

Nossa tese é de que os gênios verdadeiros, ao contrário do que supôs Kretschmer em Hombres Geniales (de onde tomamos emprestado o título deste artigo), são escassamente encontrados na história da humanidade. Os grandes talentos, que são a maioria dentre os artistas tidos como "geniais", é que, quando acometidos de processos psicopatológicos, procuram, avidamente, aliviar a sua tensão, o seu sofrimento, produzindo artisticamente, fazendo a projeção e a catarse de sua dor.

Assim, é que surgem as obras geniais. Não estabeleço, pois, uma ligação inelutável entre a loucura e a genialidade, como querem Eysenck, Andreason, Jamison e Hare; nem estabeleço uma relação direta, de causa e efeito, entre uma obra artística genial e o possível "gênio" que a elaborou. Penso, sim, que na grande maioria dos casos, em que se observam obras geniais, seus autores eram, sim, indivíduos talentosos, cuja necessidade de criação artística representava o elemento leniente para a dor de sua loucura.

Como exemplo, posso citar Rimbaud: não existiria Une Saison en Enfer, sem o seu desvario. Não existiria o cubismo sem a dissociação do pensamento de Picasso em Les Demoiselles d'Avignon; nem Les Fleurs du Mal sem a loucura de Baudelaire e, nem mesmo, o Ulysses sem a esquizofrenia de Joyce, na opinião de Jung7, que, aliás, fizera o mesmo diagnóstico de Picasso ao visitar uma exposição de sua pintura em Zurique7.

Em suma, penso que as obras artísticas geniais são, no mais das vezes, produtos de um talento que sofre, do que a criação plácida de um gênio verdadeiro.

Essa tese assim exposta justificaria a presença de tantas doenças mentais e transtornos de personalidade em indivíduos tidos como "geniais" e que legaram sua obra, fruto de seu sofrimento, para a admiração e o deleite dos pósteros.


Referências bibliográficas

1. ANDREASON NC - Creativity and mental illness: prevalence rates in writers and their first-degree relatives. American Journal of Psychiatry, 144: 1288-1296, 1987.
2. ARISTÓTELES - Os Pensadores. Rio de Janeiro: Abril Cultural, 1983.
3. EYSENCK HJ - The roots of creativity: cognitive ability of personality trait? Roper review, pp. 10-12, may, 1983.
4. FOUCAULT M - História da Loucura. Paris: Editora Perspectiva, 1972.
5. GASTAUT H - La maladie de Vincent Van Gogh envifagée a Ia lumière des conceptions nouvelles sur l'epilepsie psychomotrice. Ann Méd Psych, 114 année. T.I., 1956.
6. HARE E - Creativity and mental illness. British Medical Journal, 295:1587-1589,1987.
7. JAFFÉ A - EI Simbolismo en Ias Artes Visuais. Em Jung, CG El Hombre y sus Símbolos. Madri: Aguillar, 1966.
8. JAMISON KR - Mood disorders and patterns of creativity in British writers and artists. Psychiatry, 32:125-134, 1989.
9. JAMISON KR - Touched with Fire. Nova Iorque: Free Press, 1993.
10. PLATÃO - ¬Os Pensadores. Rio de Janeiro: Abril Cultural, 1983.
11. POST F ¬- British Journal of Psychiatry, 165:22-24, 1994.
12. SLATER E - The Creative Personality. Em Psychiatry Genetics and Pathography (eds. M. Roth & V. Cowie). Londres: Gaskell Press, 1979.
13. SLATER E - The problems of pathography. Acta Psychiatrica Scandinavica (Suppl. 219):209-215, 1970.
14. SÓCRATES - Encyclopedia Britannica, vol. 20. Londres: William Benton, Publisher, 1971.




Papini l

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , | Posted on 17:18



O Triunfo dos Imbecis


Não nos deve surpreender que, a maior parte das vezes, os imbecis triunfem mais no mundo do que os grandes talentos. Enquanto estes têm por vezes de lutar contra si próprios e, como se isso não bastasse, contra todos os medíocres que detestam toda e qualquer forma de superioridade, o imbecil, onde quer que vá, encontra-se entre os seus pares, entre companheiros e irmãos e é, por espírito de corpo instintivo, ajudado e protegido. O estúpido só profere pensamentos vulgares de forma comum, pelo que é imediatamente entendido e aprovado por todos, ao passo que o génio tem o vício terrível de se contrapor às opiniões dominantes e querer subverter, juntamente com o pensamento, a vida da maioria dos outros.
Isto explica por que as obras escritas e realizadas pelos imbecis são tão abundante e solicitamente louvadas - os juízes são, quase na totalidade, do mesmo nível e dos mesmos gostos, pelo que aprovam com entusiasmo as ideias e paixões medíocres, expressas por alguém um pouco menos medíocre do que eles.

Este favor quase universal que acolhe os frutos da imbecilidade instruída e temerária aumenta a sua já copiosa felicidade. A obra do grande, ao invés, só pode ser entendida e admirada pelos seus pares, que são, em todas as gerações, muito poucos, e apenas com o tempo esses poucos conseguem impô-la à apreciação idiota e ovina da maioria. A maior vitória dos néscios consiste em obrigar, com certa frequência, os sábios a actuar e falar deles, quer para levar uma vida mais calma, quer para a salvar nos dias da epidemia aguda da loucura universal.

Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'


Papini

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , | Posted on 17:06

Mariah - olhares fotografia



Todos os Homens São Proprietários

Todos os homens são proprietários, mas na realidade nenhum possui. Não são proprietários apenas porque até o último dos pedintes tem sempre alguma coisa além do que traz em cima, mas porque cada um de nós é, a seu modo, um capitalista.
Além dos proprietários de terras, de mercadorias, de máquinas e de dinheiro, existem, ainda mais numerosos, os proprietários de capitais pessoais, que se podem alugar, vender ou fazer frutificar como os outros. São os proprietários e locadores de força física - camponeses, operários, soldados - e proprietários e prestadores de forças intelectuais - médicos, engenheiros, professores, escritores, burocratas, artistas, cientistas. Quem aluga os seus músculos, o seu saber ou o seu engenho obtém um rendimento, que pressupõe um património.

Um demagogo ou um dirigente de partido pode viver pobremente, mas se milhões de homens estão dispostos a obedecer a uma palavra sua, é, na realidade, um capitalista, que, em vez de possuir milhões de liras, possui milhões de vontades. O talento visual de um pintor, a eloquência de um advogado, o espírito inventivo de um mecânico são verdadeiros capitais e medem-se pelo preço que deve pagar, para obter os seus produtos, quem não os possui e carece deles. E não existe ninguém, a menos que seja paralítico ou néscio, que não possua uma porção de capitais da segunda espécie, ainda que seja a sua capacidade de trabalho físico, vendível, como qualquer outro bem, com um contrato verdadeiro e apropriado.

Dir-se-á que os possuidores dos capitais pessoais são forçados, para viver, a cedê-los, dia a dia, aos capitalistas que dispõem dos bens visíveis e estão, por isso, ao seu serviço. Mas essa dependência, para quem vê claro, é recíproca: um proprietário de terras, mesmo que possua meio país, é como se não tivesse nada, se não encontra camponeses que façam frutificar os seus latifúndios; o grande fabricante tem de vender como sucata as suas excelentes máquinas, se não conta com operários que as façam funcionar e produzir lucros; o político está às ordens do especulador, mas este não poderá efectuar os seus negócios, se não dominar, por meio daquele, a opinião pública e o Estado; e se médicos, advogados e professores não poderiam viver sem doentes, culpados e ignorantes, é igualmente verdade que os segundos, em determinados momentos, não podem prescindir dos primeiros. Até o aleijado, o cego e o leproso obtêm um certo rendimento das suas muletas, da sua escuridão e das suas chagas.
Por conseguinte, aqueles a que os instigadores da plebe chamam «possuidores de nada», «destituídos» ou «deserdados» não existem.




A Multidão Embrutece

Assim que muitos homens se encontram juntos, perdem-se. A multidão transporta as suas unidades do presente para o passado e precipita-as de cima para baixo: trata-se de um recuo e uma decadência.
Todo o homem, lá dentro, converte-se noutro - mas pior. Nas multidões, a união é constituída pelos inferiores e fundada nas partes inferiores de todas as almas. São florestas em que os ramos altos não se entrelaçam, mas apenas, em baixo na escuridão, as raízes terrosas. Todos perdem o que os torna diferentes e melhores, enquanto o antigo rústico - que, entre obstáculos, mordaças e açaimos, parecia aniquilado - acorda e muge. Em todas as multidões, como em toda a Humanidade, os medíocres são infinitamente mais que os grandes, os calmos que os violentos, os simples que os profundos, os primitivos que os civilizados, e é a maioria que cria a alma comum que imbrica e nivela todo o agrupamento de homens.

Aquele que em cada um forma o seu superior não pode conformar-se e fundir-se - é a pessoa única e, portanto, incomunicável. Toda a pessoa se opõe às outras, existe enquanto é diferente, não se pode liquefazer num todo. Mas há em cada um de nós, mesmo no maior, um eu inferior, antiquíssimo, bestial, infantil, esquecido, renegado, oculto, refreado - amortecido, mas não morto. Quando os homens se reúnem, o eu superior anula-se e os inferiores, despertados, reconhecem-se e assumem a supremacia. A multidão é niveladora e gosta de decapitar, ainda que metaforicamente. Já não são intelectos ou sentimentos que contrastam, mas instintos elementares que combatem. Quanto mais o homem se eleva, mais a turba se divide. Quando volta a emergir na turba, tem forçosamente de regressar à homogeneidade originária. Nenhum génio se assemelha a outro, mas todos os medíocres são cópias. A altura separa, a baixeza reúne.

Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'


Do Poeta

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , | Posted on 20:20



"Não é o temor da loucura que vai nos obrigar a içar
a meio pau a bandeira da imaginação.
"
(A. Breton)



"Do Poeta"
por, NãoSouEuéaOutra


«aos poetas mal amados, a sombra faz companhia. da companhia nasce a experiência do inaudível e, da certeza não sendo certeza, a luz encerra o mistério da sombra. seja qual for o beiral, onde o poeta enterra as razões seculares da absurda condição humana, ele estará acima das luzes efémeras que reinam as pedras fáceis dos homens terra. »




"Os sonhos são pétalas entre os dedos..."
desfazem-se se não forem bem sonhados!


ABC dos Espelhos

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , , | Posted on 23:09

Procurar um espelho verdadeiro é uma tarefa difícil. Um espelho fundo que reflicta o nosso rosto. Aquele rosto que nos liberta. O nosso Rosto e não o rosto do outro. Imitações não nos salvam, e nem todos percebem a alma humana. O mesmo diálogo ou sentença não se aplica a todos. Assim um medicamento não serve para todas as doenças e nem todos os doentes podem tomar medicamentos. Tal como nem todos os astrólogos são conscientes, apenas são verdadeiras diarreias mentais. Quer dizer, intelectuais, que não estão se interessando minimamente, mas a contar a hora para acabar a consulta e claro, ‘’ passe para cá o dinheiro!!!’’
Por isso quando queremos ver realmente o nosso Rosto, temos de olhar fundo, e aí não é qualquer espelho que vai reflecti-lo.

ABC dos Espelhos – NãoSouEuéaOutra




Ouro

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , , | Posted on 23:03




Quebra o laço, quebra. É uma Ordem!! – digo eu! Quebra, quebra e quebra. Nunca ouças um animal de palco e nem queiras partilhar o sangue azul das tuas descobertas difíceis e que foram feitas com guerras internas, quedas abissais, infernos pior que o de Dante. Dar Ouro ao Bandido é um crime espiritual!!!!



Contos curtos ''A Terceira Vida'' por NãoSouEuéaOutra


Não Sei Se Sabes??

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , , , , | Posted on 23:02





Tenho esta saudade mergulhada até à raiz do nervo floral. Já nem sei do tempo. O que é o tempo senão uma espera brutal. Uma espera de nós mesmos. Uma espera pela liberdade! A liberdade está em encontrar aquela parte que nos faz tanta falta e que no mundo não existe!


Contos curtos ''A Terceira Vida'' por NãoSouEuéaOutra





Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...