Psicopatologia Portuguesa e Europocêntrica
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Afonso Cautela , Ecologia Humana e de Diálogo | Posted on 05:04
O objectivo da publicidade é tornar-nos infelizes
Segundo li, há em Portugal um milhar e tal de publicitários.
Melhor
do que ninguém esses portugueses podem testemunhar sobre o papel
redentor que a publicidade teve e tem, neste País, na redução de cada um
à sua insignificância e na criação de uma maior e mais esclarecida
consciência de classe.
De facto, se o estatuto de «gente» só é
conferido a quem tiver dentes brancos, hálito puro, moradia na praia,
alcatifas Cuf-têxtil, margarina vaqueiro que torna tudo mais apetitoso
(...), se a gigantesca lavagem ao cérebro operada pelos geniais Portela
Filho deste País nos convenceu de há muito da nossa incurável
mediocridade, da nossa insanável modéstia, da alvar insignificância dos
nossos gestos e comportamentos, então o caminho da felicidade e da
qualidade de vida, hoje, só pode ser o que o «marketing» e os poderosos
líderes da opinião nos apontam: mais pasta colgate, mais alcatifas
Cuf-têxtil, mais desodorizante, (...).
8-11-1992
Afonso Cautela
Afonso Cautela
O MUNDO DA (IN) TOLERÂNCIA
À mentalidade europocêntrica
há que substituir uma mentalidade excêntrica, quer dizer, substituir a
noção de absolutismo cultural pela relatividade e pluralidade cultural,
relatividade que deixe de considerar a Europa e o europeu o centro do
Universo ao qual tudo se subordina e refere.
Com a exploração do
espaço cósmico, será possível que o europeu ainda continue convencido de
ser o umbigo do infinito? E convencido de que a Razão A é a única razão
surgida em todos os tempos e lugares para uso de todas as humanidades?
É
evidente que a sociedade de consumo – reduzir o homem a mercadoria, a
objecto de compra e venda, a animal consumidor – apenas vem intensificar
um processo que já está implícito nos fundamentos da cultura A, movida
pela razão A, intolerante para todas as outras – de A a Z – etiquetando
essas outras, sempre, de epítetos pejorativos, deprimentes, humilhantes:
louco, anormal, raça inferior, povo selvagem, língua primitiva,
atrasado mental, comportamento irracional, mentalidade pré-lógica,
perigo social – eis alguns clichés que a sociedade de consumo vai buscar
ao racionalismo de via reduzida – razão A como única e dominante ,
senhora absoluta e prepotente de tudo e de todos – para oprimir e
aviltar.
As morais maniqueístas, por exemplo, resultam directamente
da epistemologia racista que é o racionalismo A. Os conceitos de
virtude, honra, sacrifício, traição, fidelidade (e todos os que compõem o
chamado “psiquismo” do civilizado) são pré-conceitos.
Códigos e
Cânones – de beleza e de virtude, do belo e do bem – resultam de um
código de verdade que é o da verdade A ou razão A. E mais nenhuma tem
direito à vida. O índio coloca-se na reserva ou extermina-se, como
traidor à beleza, à virtude, à verdade.
A mitologia romanesca em vigor está empapada de constantes alusões ao belo rosto, ao bom comportamento, à ideia verdadeira.
7-11-1971Afonso Cautela
«O Caos empurra-nos para a Ordem,
o Diabo para Deus»
Afonso cautela
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Bichinho Azul, conta p´ra mim quantos dedinhos e buraquinhos contou por aqui?