Writing - José Saramago

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , | Posted on 09:02

Eu, NãoSouEuéaOutra, penso, '' O que diria, José Saramago, hoje, sobre estes tempos e estas mudanças abruptas e estes engajamentos, engaiolamentos que estamos todos a viver?? Foi um homem com um talento extraordinário para a escrita... afinal, ganhou o prémio Nobel da Literatura e concerteza não foi pelo saber escrever apenas... é um homem sem tempo e as palavras escritas estão aí para as ditar!!  A Língua Portuguesa é difícil. Eu que nunca tive talento ou aptidão para a disciplina de português... e por isso, reconheço na sua escrita esta particularidade muito bem expressa. A linguagem escrita, de Saramago, está mergulhada em pérolas, e daí a extrema dificuldade em ler as frases, um livro. É preciso concentração e gostar de palavras, e também gostar do que ele escreve... de uma outra forma, estamos condenados a deixar o livro sobre a cabeceira e os beiços pendidos. 

Confesso, que poderia-se  aprender e apreender a escrever o português, lendo-o. Mas, lamentavelmente, estamos quase todos, dotados para a facilidade e uma preguiça e por isso, não há educação!! À excepção de certos indivíduos que nasceram já com o talento para a Linguagem escrita e verbalizada, que não precisam muito de leituras e de Saramagos... 

Eu tenho pena, de não saber escrever nos dois dominios da condição humana, da mente e do coração. Porque para se escrever, é preciso escrever bem, dominar a linguagem, e depois, é preciso dar/preencher/emanar, a essa mesma escrita,  a voz do coração, diria que, de uma certa emanação espirituosa. Porque só assim, se Humaniza as palavras numa dimensão que atinge a consciência.

É nestas alturas, que estes homens e também mulheres deviam estar vivos, porque deles e delas vêm aquilo que se poderia chamar de «respostas», e que não são forjadas nos almanaques, mas desenterradas do pântano fundo onde as coisas realmente estão encarceradas. 
«Está calado, oh, bico», diriam alguns, em especial àqueles,  também  com profundidade de esclarecimento,  ainda vivos, e que não lhes é permitido terem a força... ninguém lhes liga...  somente após a morte, quando o morto e mais o esqueleto já não podem se defender e acima de tudo, dar mais Conhecimento, portanto consciência, à Humanidade. Assim, continuamos mergulhados em Trevas e a caminho de um colapso Humanitário.

Os grandes Ídolos de facto, são Pessoas Mortas, porque elas já não podem argumentar, opinar, discursar e analisar; fazerem revoluções que mudam o mundo... estão lá no fundo da terra, e no fundo do universo - não se sabe bem onde, mas estão em contínua respiração, porque isso é coisa do Universo e emprestada à Vida na Terra -. 
Lamento que as coisas do espírito tenham-se afundado no rescaldo desta desorganização global, e que ainda nem um Cristo tenha ressuscitado... pois dizem que, agora, o Deus está dentro de ti e que deves descobri-lo... é verdade (!) mas, a Humanidade que se vive projectando, precisa de uma Entidade que a faça mudar, que a guie e oriente, porque por ela, e devido à tal diversidade, acaba por se esmagar e andar sempre em contra mão! Individuos entregue  a si mesmos e em grupos, não  acabam bem. Para quando um Emissário?  ''

Agora, deixo-vos com José Saramago... porque já estou a empestar a página com as minhas «elucubrações» dispersas, ou melhor, do tipo ''mixed media''!!...



"Estamos afundados na merda do mundo e não se pode ser otimista. O otimista, ou é estúpido, ou insensível ou milionário", disse em dezembro de 2008, durante apresentação em Madri de "As pequenas memórias"...


As Mulheres São Mais Fortes. Para Começar, gosto das mulheres. Acho que elas são mais fortes, mais sensíveis e que têm mais bom senso que os homens. Nem todas as mulheres do mundo são assim, mas digamos que é mais fácil encontrar qualidades humanas nelas do que no género masculino. Todos os poderes políticos, económicos, militares são assunto de homens. Durante séculos, a mulher teve de pedir autorização ao seu marido ou ao seu pai para fazer fosse o que fosse. Como é que pudemos viver assim tanto tempo condenando metade da humanidade à subordinação e à humilhação?

José Saramago, in 'L'Orient le Jour (2007)'

"A violência desde sempre exercida sobre a mulher encontrou no cárcere em que se transformou o lugar de coabitação (neguemo-nos a chamar-lhe lar) o espaço por excelência para a humilhação diária, para o espancamento habitual, para a crueldade psicológica como instrumento de domínio. É o problema das mulheres, diz-se, e isso não é verdade. O problema é dos homens, do egoísmo dos homens, do doentio sentimento possessivo dos homens, da poltronaria dos homens, essa miserável cobardia que os autoriza a usar a força contra um ser fisicamente mais débil e a quem foi reduzida sistematicamente a capacidade de resistência psíquica.''

in DN - 2009 - JOSÉ SARAMAGO 


“O personagem central da história [Ensaio sobre a Cegueira] é outra vez uma mulher. Suponho que às minhas leitoras lhes agradará que isto seja uma constante, porque verdadeiramente, como personagens, quem sempre salva os meus livros são as mulheres. Não é que os homens não sejam pessoas boas, que o são e podem sê-lo, mas ao lado delas aparecem sempre como pequenos aprendizes. Quero clarificar algo que já assinalei antes, a propósito do facto de não se encontrarem heróis nos meus romances, apenas gente normal, que vive vidas normais, embora no caso de Baltasar e Blimunda eles assistam com naturalidade a certos prodígios. Reflito e escrevo sobre pessoas comuns porque essa é a gente que conheço. É provável que as mulheres que invento não existam, talvez não sejam mais do que projetos, talvez me seja mais fácil imaginar um projeto de mulher que um projeto de homem. Em qualquer caso, e para não fugir à questão, acrescentarei que o facto de ter sido criado por mulheres, de viver e crescer sempre entre mulheres, pressupôs, em definitivo, ter aprendido com elas o que efetivamente é benéfico, não no sentido utilitário, mas em profundidade e humanismo. Devo isto às mulheres e, por isso, assim fica refletido nos meus livros.” 

Ensaio sobre a Cegueira - (pp. 34-35)


Acabo de ver nos noticiários da televisão manifestações de mulheres em todo o mundo e pergunto-me uma vez mais que desgraçado planeta é este em que ainda metade da população tem que sair à rua para reivindicar o que para todos já deveria ser óbvio…

Chegam-me informações oficiais de solenes instituições que dizem que pelo mesmo trabalho a mulher cobra dezasseis por cento menos, e seguramente esta cifra está falseada para evitar a vergonha de uma diferença ainda maior. Dizem que os conselhos de administração funcionam melhor quando são compostos por mulheres, mas os governos não se atrevem a recomendar que quarenta por cento, já não digamos cinquenta, sejam compostos por mulheres, ainda que, quando chega o colapso, como na Islândia, chamem mulheres para dirigir a vida pública e a banca. Dizem que para evitar a corrupção na organização do trânsito em Lima vão colocar guardas mulheres, porque se comprovou que nem se deixam subornar nem pedem coimas. Sabemos que a sociedade não funcionaria sem o trabalho das mulheres, e que sem a conversação das mulheres, como escrevi há algum tempo, o planeta sairia da sua órbita, nem a casa nem quem nelas habita teriam a qualidade humana que as mulheres colocam, enquanto os homens passam sem ver, ou, vendo, não se dão conta de que isto é coisa de dois e que o modelo masculino já não serve. Continuo vendo manifestações de mulheres na rua. Elas sabem o que querem, isto é, não ser humilhadas, coisificadas, desprezadas, assassinadas. Querem ser avaliadas pelo seu trabalho e não pelo acidental de cada dia.

Dizem que as minhas melhores personagens são mulheres e creio que têm razão. Às vezes penso que as mulheres que descrevi são propostas que eu mesmo quereria seguir. Talvez sejam só exemplos, talvez não existam, mas de uma coisa estou seguro: com elas o caos não se teria instalado neste mundo porque sempre conheceram a dimensão do humano”.

José Saramago, O Caderno I, 8 de março de 2009.

 Há uma regra fundamental quando se vive como nós estamos a viver – em sociedade, porque somos uns animais gregários – que é simplesmente não calar. Não calar! Que isso possa custar em comunidades várias a perda de emprego ou más interpretações já o sabemos, mas também não estamos aqui para agradar a toda a gente. Primeiro, porque é impossível, e segundo, porque se a consciência nos diz que o caminho é este então sigamo-lo e quanto às consequências logo veremos.

José Saramago, in 'Uma Longa Viagem com José Saramago'

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Bichinho Azul, conta p´ra mim quantos dedinhos e buraquinhos contou por aqui?

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