As Crises Das Lolitas. The Crisis Of Lolitas.
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Crónicas , Histórias Humanas , Vidas Humanas | Posted on 11:25
As memórias das Meninas que não se esquecem.
As Crises Das Lolitas.
Margarida era amiga de Helena. Conheceram-se nos corredores do Liceu. Margarida, era uma jovem voluptuosa, curvas generosas, cuja adoração eram saias até ao joelho com sapato de salto alto de agulha em cor - de - rosa. Sempre elegante e cheirosa. Os cabelos sempre arranjados. Margarida não perdoava nada, para ela, a elegância era fundamental. Não tinha namorados. Não conseguia ter namorados e queria tê-los. Raramente comentava sobre o alvo das suas paixões. Nunca se conheceu algum namorado durante bastante tempo.Margarida era a rapariga que sendo vistosa e provocadora não tinha namorados. Margarida era vaidosa e pretensiosa e maldosa. Sempre tudo tinha que girar à volta do seu centro. Pisava o chão, olhando-o bem para ele, naqueles sapatos de salto alto. Como se movesse em bico de pé.
Helena, pequena e magra. Simples no vestir e meia maria - rapaz. Sempre de ténis, calça de ganga e camisa de rapazinho. Usava a camisa fora das calças. Helena, era tímida e não se sentia muito bem na sua pele. Queria esconder o corpo, e portanto, o oposto de Margarida. Pouca conversadora. Gostava apenas de estar, desde que não pudesse falar. Sabia que sempre que falasse, o encanto se perdia. Qualquer coisa deixava de funcionar. Quanto mais recuada e menos o centro de atenção, mais as coisas pareciam despertar o interesse na sua direcção. Desde que nunca se pronunciasse. Tinha imensas paixões. Apaixonava-se e deslumbrava-se. Nunca namorou aqueles por quem nutria paixão. Tinha complexos estranhos. Queria namorar e não sabia como fazê-lo sem represálias, ou a chamassem de puta. Mal tinha um namorico, vinha logo o estigma da puta, da fácil. A rapariga só beijava. Enquanto as outras, essas ninguém lhes dizia nada e até tinham relações sexuais. Era fiel e leal às amigas, talvez por conta de uma ingenuidade muito peculiar, que às vezes caía no ridículo. Muitas vezes era motivo de risadas impróprias, só pela sua própria presença.
Conheceu Margarida e nem se recorda porque se interessou pela sua presença. Desciam juntas a pé, do Liceu, em direcção ao centro da cidade. Almoçavam, também, juntas num restaurante. Era um ritual diário e quase sempre à mesma hora. Os horários coincidiam. O restaurante era de qualidade e, oferecia um desconto apreciável a jovens estudantes. Mas era raro, encontrar por lá estudantes. Helena, nunca comera na cantina da escola. Margarida, também não. Não era uma questão de serem jovens que pudessem pagar todos os dias um almoço no restaurante. Helena, nunca pensara porque nunca usara o refeitório. Nem se lembrava alguma vez de ter entrado nele. Margarida, gostava de restaurantes, e foi ela que levou Helena a almoçar a primeira vez. Helena, gostou e nunca mais deixou-o. Durante quatro anos comeram diariamente no restaurante e nem sempre juntas. Pagavam entre 250 escudos e 500 escudos por cada refeição. A ementa era variada, mas a eleição de ambas ia para um prato de atum com cebolada, a acompanhar com arroz e salada fresca. Era um delírio. Saiam de lá sem poder respirar de tanto comer. Helena era mais selectiva quando gostava de alguma coisa no cardápio. Margarida, era o diferencial... comia tudo o que lhe surgia. O atum, era uma história à parte de todo o cardápio. O Chefe da Cozinha, tinha de facto uma mestria em saber cozinhar o atum.
Helena e Margarida sempre se faziam acompanhar uma à outra, tanto para o restaurante como no regresso a casa, às suas cidades. Apanhavam o autocarro, viviam a 5 quilómetros uma da outra. Não eram ''amigas'' fora do Liceu. Apenas mantinham uma suposta amizade incompreensível dentro do Liceu e no almoço e, no regresso de autocarro a casa. Nunca se soube porque nunca ambas se relacionaram para lá dos portões da escola. Nunca as férias as juntaram. Nunca elas se perguntaram ou falaram sobre isso. Elas, apenas, estavam juntas e sem muita conversa. Eram, apenas as ''amigas'' e colegas de escola. Nunca houve uma ida ao cinema juntas. Nunca houve um encontro para irem a qualquer lugar ou encontrar outras pessoas fora do período escolar. Nunca houve uma ida à praia, à piscina. Elas pareciam não existir na vida fora dos portões da escola. Nunca se soube o motivo! O que as juntava na escola e o que as repelia fora dela, era um mistério.
Não se sabia se Margarida era amiga de Helena, e se esta era amiga dela. Durante um tempo, nunca se soube bem. Margarida tinha comportamento aparentemente de mulher crescida. Ela tentava ser mulher à força e vestia-se dessa forma. Helena, era menina e bonita, mas estava longe dos padrões de beleza física que a Margarida tinha. Margarida não tinha o corpo propriamente bonito. Ela transformava o corpo com a roupa que usava. Insinuava-se. Saia justa até aos joelhos, sapato de salto alto. Ela tinha 14 anos. Uma Lolita rechonchuda. Não era um corpo de manequim, e era pequena de estatura e ossos largos. Helena era esguia, mais alta, cintura de vespa, que durante o Inverno vivia escondida e, com o verão, se desnudava e os colegas que a viam na praia ficavam surpreendidos. A Feia virava A Bela. Mas, logo tudo era esquecido e na volta à escola, ninguém se lembrava de nada. Helena se apagava da história. Margarida, era essa coisa, gorda ou torta, estava sempre lá.
Esta crónica, leva-nos a uma crucial viravolta na ligação destas duas raparigas. Não seria suposto tal ocorrer. Margarida revela-se uma perfeita maldosa. Helena e Margarida em conjunto com mais colegas se dirigem para o centro da cidade, ficando o Liceu para trás naquele meio-dia, por conta de uma aula perdida. Em grupo conversam, Helena caminha ao lado de Margarida. Sem que ninguém esperasse, Margarida humilha Helena. Margarida de um só golpe, desfere sobre Helena uma sentença cruel, que ela se afastasse da sua presença. Helena, não tinha feito nada. Nunca fora mal educada, nunca agredira e alguma vez falara mal de Margarida. Continuara agredindo Helena sem motivo aparente. Helena, se encolhe ferida. Não reage. Fica muda. Não percebe. Os colegas que as acompanhavam, entrevem e dirigem a palavra para Margarida e pedem que, parasse de desferir sobre Helena, golpes tão baixos. ''A miúda, não fizera nada! Porque estás a dizer tais coisas. A miúda gosta de ti. O que te mordeu, Margarida?! Nem pareces tu!!!'' - diz uma das colegas que tinha se juntado a elas. Margarida furiosa, responde que está farta de ver a Helena sempre atrás dela. Chateava-a. Não tinha paciência para a aturar. Os colegas tentaram acalmar os uivos da Margarida. Helena, estava assustada com tal agressão. Não fizera nada. Não entendia o comportamento de Margarida, que até ali parecera ser sempre simpática e exemplar. Helena, uma jovem que nunca pronunciava mal algum sobre alguém. Foi um golpe repentino, para Helena. Margarida não tinha qualquer sentimento pela sua actuação. Quando sozinhas, nunca tinha tratado Helena daquela forma. Em grupo, já existia subtilmente essa atitude de humilhação, mas Helena nunca percebera o grave que isso representava. Em que Helena, poderia representar uma ameaça à Margarida!?
Vieram as férias, e não mais se viram. No regresso à escola, Margarida, afastou-se sem que Helena alguma coisa tivesse feito. Helena não comentara o infeliz episódio para ninguém. Tinha sido ferida na sua lealdade para com a Margarida. Não existia motivo algum naquela reviravolta no comportamento da Margarida. Helena era ingénua, Margarida, o que ela não tinha era ingenuidade. Inicia então, sempre que a oportunidade surgia, espalhar maldizeres sobre Helena de grosso modo. As coisas ditas, não chegavam aos ouvidos de Helena. Ela, não fazia ideia. Margarida sentia prazer em dizer coisas para que a reputação de Helena, fosse por água abaixo. Queria envenenar tudo. Helena não sabia porque aquilo ocorria, e, Margarida nunca contou o motivo real do seu sentimento que a levou a actuar dessa forma rude sem justificação.
Elas se afastaram. Poucos anos, passaram-se, e Helena ainda ouvira coisas ruins, pela boca de colegas, que Margarida haveria dito sobre ela. Margarida fora cruel. Tivera a intenção de humilhar. Helena tinha presença. Helena tinha imensas capacidades, e que não eram claras. Margarida, que se julgava uma rapariga bem comportada, revela-se invejosa, maldosa e destruidora. Helena não soubera se proteger e responder às ofensas. Engolira os sapos e se fechara numa dor surda, sem ter podido feito a sua sentença.
Outros anos se passaram e, a tão vaidosa Margarida formou-se em psicologia clinica. A coisa não resulta, e ela vira enfermeira de pessoas idosas... oferecendo apoio!! Margarida, nunca mais se lembrou de Helena e da sua desconsideração perante uma amiga que gostava dela e era leal, e de certa forma indefesa. Margarida era maldosa e ferrada, não se lembra dos males que fez. Helena, lembrou-se umas quantas vezes. Riu-se imenso do castigo que a vida lhe deu, à pretensiosa e maldosa, que agora, cuida de idosos. Concerteza, que a vocação de maldosa deve ter sido transformada...
Helena, perdeu-se. Encontrou-se, anos depois, através de um relacionamento amoroso-afectivo com um homem, cuja estrutura psicológica e inteligência emocional lhe fez despertar os talentos adormecidos. Deixou de ser a mulher tímida para passar a ser alguém com força. Helena, renasceu das próprias cinzas atoalhadas no tempo. Renasceu das maldades.
Porque todo o mal, tem um término!!
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Bichinho Azul, conta p´ra mim quantos dedinhos e buraquinhos contou por aqui?