DEAFNESS - What´s about...

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , | Posted on 14:43

Sobre Surdez

Nunca ninguém fala dos Surdos, da Surdez. Tudo isso, passa-se ao lado. As pessoas não imaginam e nem deixam-se imaginar. Este mundo não tem peste(dos surdos), mas,  tem imensas ciladas. Uma delas é a linguagem e a forma como se lida  com o mundo exterior.


Sou uma Surda, cujos ruídos externos e internos irritam e incomodam!!!


É tempo, de deixar de ter medo do medo de escrever!! Não porque falte palavras, inspiração, temas, assuntos... ou até de não saber escrever e não ser uma barra em Língua Portuguesa... nada disso. É medo do que posso escrever e não conseguir segurar a emoção do devir. É medo de entregar-me aos sons das palavras que invadem o cérebro. É medo do ridículo. Têm tempos e épocas que escrevo muito bem, outras parece que desço de nível ou capacidade de expressão e sinto-me, apavorada. Pois já perdi uma vez a voz, o raciocino e  muitas vezes, a capacidade de análise e até a memória do aprendido... já tive que reaprender tudo e, sempre foi mais difícil!!! Fases de retrocesso na compreensão das coisas, do mundo. É como se o conhecimento não valesse nada, e outro tivesse que nascer das catacumbas. Só que às vezes, renasce pior que o anterior. Outras, quando se volta ao anterior, encontra-se tantas ratoeiras que até assusta.

Não sou feita de cultura, não tenho cultura. Não sou erudita. Não concedi a mim o privilégio de memorizar o que leio. Quando leio, é como se não lesse e nunca tivesse lido. Supostamente isto tem conexão à Surdez Neurossensorial Bilateral Congénita - ouvidos direito e esquerdo com perdas similares -  do qual sou portadora desde bebé (10 meses) e que é irreversível quanto aos estragos ocorridos, sem saber-se a origem a não ser congénita, e, sem ter alguma sequela interna tanto no ouvido interno como externo. Desde o inicio mantive sempre o mesmo grau de surdez. Para além da surdez moderada para severa, tenho recobro. ( O recobro é exaltação dos sons, ou seja, eles se ampliam!! Causa uma desconcentração porque fere o cérebro e logo, a tendência é fechar os ouvidos e rejeita ouvir!! Ironia, Surdez  com Recobro!! )
Apenas, a comunicação foi extremamente dificultada. Não tinha capacidade de reconhecer as palavras, por mais que tentasse perceber. Nem os aparelhos auditivos vieram a resolver a questão. Parecia uma paralisia do entendimento. Embora, tivesse começado a falar muito cedo, com 7 meses e de forma muito consciente do mundo das palavras, para logo depois, uns 2 meses após a aquisição da verbalização e sentido das palavras, ter perdido a voz e a capacidade de expressão de forma abrupta. Levou anos a ser desenvolvida, que nem à paulada e com aparelhos auditivos consegui. Era um festim turbulento no meu interior. Queria tudo à força. Apaixonada e delirando com a maioria dos Jornalistas nos noticiários. Não ouvia as noticias, ou seja, do que é que elas tratavam, mas a voz, a facilidade com que comunicavam e passavam a noticia. Aos seis anos ficava, quase hirta e hipnotizada, a ouvir as noticias da noite. Eu tinha que ouvir, apenas para ouvir a capacidade de comunicação. 

O mais impressionante em mim, é que nada parece indicar  que tenho surdez. A minha aparência não denuncia, nem a minha expressão verbal. Mas quando a comunicação se inicia, o problema começa... e ninguém se apercebe do meu esforço em ouvir e acima de tudo, discriminar as informações. Às vezes deixo as pessoas a falarem sem ouvir nada. Apenas afirmo, sim e sim. Pois já sei que elas não têm paciência e nem percebem a dificuldade de um surdo em acompanhar os seus raciocinos. Regra geral, ''observo ouvindo'' o contexto sobre o que falam e comunico a partir daí, sem nenhuma análise rigorosa. Fica tudo como que uma nuvem no ar. Imaterial. Eu não ouço o mundo, e, o mundo não me ouve; não há entendimento no plano das formas.

Para além da auditiva,  há uma determinada surdez numa parte do meu cérebro que não foi e não é possível de entender. Os otorrinolaringologistas (palavra que levei 20 anos para verbalizar sem errar) nada puderam fazer, até hoje, porque não há meios para esta problemática ligada a este tipo de surdez. Nem todos os que são portadores deste tipo de surdez, tem isto. Só eu sei, o que é ter este vazio numa parte da mente.  Ler, é como não ler. Nisto, não guardo passado. Devorei livros e livros. Andava carregada de livros na carteira, nas mochilas, nos braços. Nunca me separava deles. Era obsessão. Queria à força ter um grande cérebro que armazenasse todo o tipo de informação. Era grotesco. Infelizmente, não o tenho. Na vida atrai pessoas com grandes capacidades intelectuais, e que para surpresa minha, se revelaram o que não esperava. Julguei que o saber muito, era ser-se iluminado, livre do abuso do poder... era poder abrir portas a quem não as têm; era abrir caminhos para os que não podiam fazê-lo... seriam os porta vozes de causas maiores... mas o que vi, foi géniozinhos ávidos de poder, de formatar cérebros, de sugar inteligências, oportunistas. Adquirindo mais intelecto para exercer mais poder, e sem humildade nenhuma e sem paciência para os que menos sabem!! Uma arrogância e petulância a uma só vez!!

 Na falta de memória, guardo vozes, e essas são as piores, porque elas devoram-te. São as vozes dos outros. Também, guardo imagens, cheiros e sentires!!!  Elas semearam aquilo que nunca foste e nem deverias ser. Pela fragilidade, tentaram educar-te segundo as suas regras. Ousaram marcar-te como quem marca gado, que tinhas de ser assim e pensar assim e agir dessa forma. Mas nunca te olharam a ti mesma. Vamos ver quem é ela, e não « vamos fazer dela, o que achamos que ela tem de ser! Ela vai estudar esse livro de história e tirar a nota mais alta. Precisamos de ficar bem vistos perante os juízes. Que o nosso trabalho é bem feito.» Pura lenga-lenga. O que eles menos faziam era ensinar!! Anos e anos sem hora de almoço, para estudar e repetir vezes sem conta... não era entender, mas memorizar!! Era uma exigência brutal. Controlada até à mais ínfima substancia. No entanto, como a ceguez é brutal, nunca me direccionaram à Arte!! Era só defeitos e incapacidades...um saco delas em cada rotina de avaliação. Escrever, jamais!! Ainda hoje, aquela voz. « Não, não. Ela nunca saberá escrever uma história.». As afirmações eram colaterais, e ainda por cima, eram feitas à minha frente para terceiros.

De tudo isto, ficou-me sempre essa questão da nossa pureza. Aquilo que somos, sem o «ditado», as «composições» dos outros.

 Uma árvore, classifica-se pelos frutos a que pertence. Essa é a originalidade dela. Essa é a sua pureza. O destino da vida é ser constituída de pureza, ou seja, ser-se quem é. Isto é o que nos devolve à vida, ao mundo, ao destino... mesmo na tristeza, na alegria; na saúde, na doença está ali a tua originalidade, a tua inteireza respeitando a vida e a ti mesma. Quando somos quem somos, ouvimos e escutamos... mesmo sendo surdos e cegos.

Supostamente, ouvi dizer, há imensos anos, que quem nasce sem ou com pouca audição, serve o propósito de não ouvires os outros. Como se estivesses já carregada de tantos outros e menos de ti. Paradoxalmente, devido a essa condição acabas por ouvir demasiado dos outros. Parece que fica informação excessiva demais, para além das meras palavras. Os outros, regra geral, sabendo que não ouves biologicamente, ainda te acusam de não quereres ouvir, como se tivesses os ouvidos tão normalizados como o deles. Nem têm consciência dos esforços que envias para ouvires eles, a pontos de teres que elevar-te acima da tua dificuldade e muitas vezes, nesse esforço, perdes o fio à meada. Eles ainda te dizem que és preguiçosa e só ouves o que queres!! É curioso, não é? Chega a ser patético. É o mesmo que não ter uma perna, e obrigar o sujeito a correr uma milha como se tivesse duas pernas. Não há consciência e elas são de facto preguiçosas para poderem observar a realidade a partir do outro (surdo) e não delas mesmas. Elas mesmas, negam a surdez. Aparentemente, nada em mim denuncia a surdez, mas estão sempre afirmando «não ouves o que digo?». Quando eu, estou sempre a afirmar: ''eu não ouvi.''  Eu não ouço, e não absorvo o conhecimento que vós tentais aconselhar ou discursar. Embora, saibam que posso ficar horas a ouvi-los falar, quando não estou à procura de esclarecer algo que me diga respeito.

Lembrem-se disto, as pessoas que têm falta de vista, sabem que a determinado momento quando ganham certa diopetria mais elevada e que mesmo que vejam, têm uma certa dificuldade em situar os objectos, porque estes se apresentam deslocados, ou dispersos aos olhos... como se houvesse uma certa dificuldade em ler os objectos e encontrá-los. Quando se coloca os óculos, há logo uma diferença substancial, e que vem retirar, a indiferenciação, a dispersão e leva a que quando se olha o espaço, de  imediato o objecto procurado é encontrado. Quando sem óculos, mesmo na nossa frente não conseguimos torná-lo perceptível, entendido, consciente. O Objecto está diante dos olhos, mas não há consciência.

Com a surdez se passa o mesmo, não se consegue dar sentido às frases, é como se não tivéssemos definição para a palavra, ela é abstracta... fora do nosso entendimento e, quando os discursos de terceiros são em sequência, maior é a dificuldade de assimilação, além da permanente concentração nos lábios e nos gestos do rosto que é investida pelo portador de surdez... e, alguns sons desaparecem, ou ficam omitidos quando o locutor dirigi a palavra. Isto é só o aspecto da surdez enquanto biológica, mas, quando aliado à surdez se tem esse vazio, algo que não se consegue explicar,  numa determinada área da mente que impede certos processos analíticos, as coisas se complicam. Porque essa área é como se estivesse morta para a lógica. Apesar de vazia, não pensa, não memoriza... além disso, tem uma particularidade que não serve a este mundo, às coisas lógicas deste mundo... que é de estar à alerta, é um lugar onde não há mente, mas é mente... só que não diz nada. Pertence a um outro nível que nunca soube o que era... e não pretendo desenvolver aqui o que poderá ser...Particularmente, detesto...

No entanto, o lado da memória visual, dos factos ocorridos no passado ao nível das vivências e sentimentos da vida é extraordináriamente activo. O sistema límbico é muito desenvolvido. Todos os rostos estão memorizados, as vestimentas, os espaços, os cheiros, as emoções... é como se fosse um livro aberto à paisana sem qualquer pudor... assim escancarado, sem vergonha. Abre-se essa memória visual, e tudo fica tão nítido que até assusta. Mas este lado, não tem nada a ver com mente analítica, processos lógicos... e nem com esse vazio que não permite memorizar e compreender o que é dito directamente. Não se abre a mesma memória para tudo o que foi lido, estudado, porque tudo é remetido ao esquecimento como se nunca tivesse existido.
Se ler uma enciclopédia com todo o empenho, e esforçar-me em concentração e até escrever todas as palavras e fizer cálculos sobre o que li, de forma a absorver o entendimento... ao chegar ao fim da sua leitura, não sei o que li e nem sobre o quê!!! Isto tem sido um mistério para mim!!! Obviamente, se me falarem sobre o assunto, sei do que falam, mas não habita qualquer memória para falar sobre o assunto, apesar de ter lido tudo, revolvido detrás para a frente.

Como é que ainda escrevo? Não sei!!! Mas sei que está-me no sangue escrever. Beethoven era surdo e conseguiu compor, Helen Keller, era surda e muda e aprendeu a escrever... levou mais tempo que os outros, mas conseguiu... porque, para conseguir, tem-se de ter pessoas dispostas a ajudar e não a complicar. A puxar pelos talentos, e não a exigir aprendizagens sobre coisas que não servem ao desenvolvimento das capacidades aprisionadas do surdo!!!

Não tenho inveja, de quem escreve muito bem; mas detesto os arrogantes que usam as capacidades para adulterar e dominar os outros; para ferir e destruir!!
Quem escreve com alma e sentido de vida, e te esfrega amorosamente tudo isso na cara, nos olhos, na boca , no coração sem te colocar no limbo dos ratos, ganha a minha maior amizade. Aquele que te fala, com a simplicidade, e consegue abrir-te uma janela, podeis ter a certeza que a tua vida cresce, expande!! Um surdo, para além de não ouvir, parece ouvir outras coisas... mais reais que a fachada concebida, costumo ouvir!!

Tenho esta paixão das palavras, porque julgo que não as tenho. Durante imensos anos, não abri a boca e nem escrevia. Não percebia de nada!!! Tenho tantas histórias, que podia escrever um livro sobre a Surdez, e, situações derivadas dela.

Não uso aparelhos auditivos, por consequência do Recobro. Recobro é não suportar determinados ruídos... resumindo poluição sonora!! Obviamente que o vento, não é poluição sonora, mas ouvir o ruído é aflitivo!!!  Sim, vivo muito bem com isto. Mas é uma chatice se vou a uma palestra. Ou, se estou numa aula.


Na minha pré-adolescencia, era apresentada pelas minhas colegas a novas colegas, como a, Surda. Invejosas. Sim, sempre estudei em escolas para pessoas normais. Era engraçado, nunca diziam o meu nome, apresentavam e logo acrescentavam, é Surda. Eu via as pessoas ficarem em choque quando ouviam aquilo. Notava-se um prazer mórbido naquelas que me apresentavam como surda. Não era para esclarecer que não ouvia, era pura maldade. Eu não dizia nada!! Pouco falava. Daí me chamavam de Observadora Crónica. Daí diziam, ela não ouve, mas é uma observadora e portanto, cuidado com o que fazem e dizem, é que ela capta tudo... às vezes uma pessoa ainda não disse nada, já ela sabe!! 


SOBRE O PROCESSO DA SURDEZ NEUROSSENSORIAL, O QUE É?

 O ouvido tem a capacidade de transformar o som, que é essencialmente energia mecânica (vibratória) em sinal eléctrico. Uma vez transformado em sinal eléctrico, o mesmo é capaz de ser transmitido através do VIII par craniano até ao sistema nervoso central. Quando há lesão da cóclea ou das estruturas nervosas que se encontram para além da cóclea, então o diagnóstico será de surdez neurossensorial.

A surdez neurossensorial adquire especial importância no caso das crianças, pela limitação da patologia no desenvolvimento cognitivo e social da criança. O diagnóstico de surdez neurossensorial é feito com base em testes psicoacústicos, acústicos/fisiológicos e electrofisiológicos.

por, Ilda da Piedade Almeida Moreira



As frequências agudas são as mais afectadas numa perda neurossensorial; frequentemente, existem grandes problemas para diferenciar as consoantes, especialmente o f, o s e o z. Tem-se a sensação de "ouvir mas não perceber".


O Problema

As estruturas localizadas no ouvido interno (cóclea, ou nervo auditivo) não funcionam corretamente.

Possíveis Causas

Hereditariedade / genética.

Perda auditiva induzida pelo ruído.

Lesões na Cabeça.

Certos remédios causam danos às células ciliadas (células ciliadas do ouvido interno).

Doenças (sarampo, caxumba, meningite, Meniere).

Processo de envelhecimento.

Congênitas.


Grau e Sintomas

Você pode ter uma perda auditiva leve a profunda.


Os sons não são apenas mais suaves, mas podem parecer abafados ou distorcidos, tornando difícil separar um som do outro (como conversas em um ambiente ruidoso).


Relatos de algumas pessoas portadoras de Deficiência Auditiva:

« sinto muita dor quando exposta a sons altos e ainda sou vítima " surda que nada , só ouve quando quer ".

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Bichinho Azul, conta p´ra mim quantos dedinhos e buraquinhos contou por aqui?

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