As Mulheres e a Espiritualidade

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , | Posted on 15:20

Didi Sudesh descreve o papel único que as mulheres desempenham dentro da Brahma Kumaris



Num mundo onde as mulheres têm sido vistas tradicionalmente como a esposa, a mãe, a filha ou a irmã de alguém, porque é que uma mulher escolheria seguir um caminho espiritual?



Talvez porque, lá no fundo, cada mulher tenha o desejo de “ser” alguém por si mesma – totalmente consciente de si, segura e no comando. Quando falamos de poder espiritual, estamos na realidade a referir-nos ao poder original do ser, para ser completo e independente – livre da teia do domínio e da repressão, livre da necessidade de existir por causa de mais alguém.



Nos últimos dois mil anos ou mais, as mulheres não têm utilizado o seu poder espiritual por completo. Em vez disso, os aspectos do “feminino” tomaram essencialmente formas simbólicas, desde a Virgem Maria às virgens vestais, desde as Deusas da Terra às Devis Shakti. Por um lado, as mulheres foram colocadas num pedestal e foram adoradas devido à sua pureza ou feminilidade. E ao mesmo tempo, foram excluídas das práticas religiosas e impedidas, mesmo até agora, de entrar nalguns locais de adoração.



Elevadas ou castigadas, exoneradas ou condenadas, o problema principal com o qual as mulheres se deparam é que elas nunca foram tratadas da mesma forma que os homens – nem como líderes espirituais nem como devotas. Essa falta de igualdade tem as suas raízes não apenas nos sistemas sociológico e cultural, mas mais particularmente dentro dos níveis de consciência sobre os quais a espiritualidade e as atitudes estão baseadas.



As Mulheres como Líderes Espirituais

As mulheres tornam-se líderes espirituais quando elas mesmas reconhecem que possuem a capacidade e os atributos necessários para desempenhar tal papel. A mudança de consciência que é necessária consiste em afastar-se dos sentimentos e das atitudes indignas e ver a grandeza existente dentro do eu. As qualidades femininas como o amor, a tolerância, a compaixão, o entendimento e a humildade são qualidades de liderança. Elas também são necessárias para o progresso espiritual, pois sem elas seria impossível aproximar-se de Deus e alcançar a auto-realização. Todos os seres humanos têm estas qualidades, mas as mulheres são mais fácil e naturalmente capazes de as alcançar, já que normalmente os sentimentos de amor e devoção são mais naturais para as mulheres, combinados com um profundo sentido de disciplina e ordem. Um verdadeiro líder lidera através do exemplo.



As mulheres sabem como servir e como doar. A noção de serviço ou de colocar os outros “na frente” tem frequentemente sido vista como um sinal de fraqueza ou de falta de poder. Na verdade é o contrário. A capacidade de se curvar diante dos outros, com verdadeira humildade, é o sinal da grandeza de uma alma que conquistou o ego.



No entanto, essa qualidade de doar aos outros também deve ser balanceada com as qualidades da coragem, da determinação, do pensamento claro e do auto-respeito. Muito frequentemente, as mulheres têm uma tendência de doar aos outros e de negligenciar as suas próprias necessidades espirituais. Esta é uma das principais razões pelas quais as mulheres se sentem esgotadas e com falta de poder espiritual. Assim, a base para assumir a liderança espiritual é a mudança de consciência. Ultrapassar as grandes barreiras físicas, religiosas e sociológicas que privaram as mulheres de se tornarem líderes espirituais, pode ser apenas conseguido através do desenvolvimento do auto-respeito. A qualidade do auto-respeito vem do conhecimento e da experiência do ser eterno, que está além das identidades social, cultural ou física. O ser eterno, ou a alma, é puro, pacífico e é preenchido com qualidades espirituais e divinas. Quando as mulheres tocam esta essência interna e eterna, elas ganham coragem para desempenhar o papel para o qual possuem essa capacidade.



O poder espiritual é uma expressão das qualidades inatas do espírito e não tem nada a ver com o género ou com as limitações físicas. Os sentimentos de domínio e de repressão surgem quando existe a consciência de superioridade ou de inferioridade. No entanto, os sentimentos de igualdade manifestam-se quando há a consciência do espírito ou da alma. Estes sentimentos e atitudes podem expressar-se nas ações, com resultados positivos.



As mulheres ainda estão longe de desfrutar das posições de liderança espiritual e a sociedade ainda não concorda com a ideia de que elas possam ser boas líderes espirituais. Contudo, a sociedade não vai necessariamente mudar, até que alguém, seja um indivíduo ou um grupo de indivíduos, quebre a tradição e estabeleça um novo modelo de regras. Esse, em parte, foi o pensamento por detrás do trabalho de Brahma Baba, o fundador da Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris.



Contexto histórico da Brahma Kumaris

Em 1936, com 60 anos de idade, Dada Lekhraj, um rico mercador de diamantes da província de Sind (actualmente o Paquistão), experimentou uma série de visões poderosas. Ele sempre teve uma inclinação religiosa e também tinha uma posição muito respeitável na comunidade. Contudo, as visões mudaram completamente a sua vida, revelando imagens surpreendentes do mundo passando por um período de muita inquietação, assim como as imagens da mudança que seriam necessárias para prenunciar um novo mundo para o futuro. Dentro de mais ou menos um ano, Dada Lekhraj, mais tarde conhecido como Brahma Baba, vendia o seu negócio e fundava uma universidade espiritual. Ele nomeou então um grupo de 12 jovens mulheres para assumirem todas as responsabilidades administrativas por um grupo de quase 400 pessoas, que se encontravam regularmente para estudarem o conhecimento espiritual e para meditar.



Naquela época, na Índia, as mulheres eram tratadas como cidadãs de segunda classe, consideradas apenas como propriedade para os seus maridos. Tais atitudes têm as suas raízes nas escrituras tradicionais Hindus. Por exemplo, no Ramayana existe uma referência para quatro coisas como sendo iguais: um tambor (que vocês batem), um animal (que vocês empurram), um louco sem juízo e uma mulher.



Devido a Brahma Baba ter colocado as mulheres na direção de uma universidade espiritual, numa época em que elas estavam ainda escondidas pelo véu – literal e figurativamente – isso causou um alvoroço muito grande. Mas ele estava determinado a conduzir esta “revolução” social e espiritual, acreditando que o equilíbrio entre o poder espiritual e social não mudaria, a menos que a desigualdade fosse corrigida e que fosse dado às mulheres, tanto jovens adolescentes quanto mães, o direito de servir a comunidade como professoras espirituais.



Na época em que Brahma Baba faleceu, em 1969, o conhecimento que ele tinha dado e as mudanças que ele havia liderado encontraram solo fértil e receptivo. Num período de 54 anos, a Universidade cresceu consideravelmente e agora tem mais de 8.500 centros a funcionar em mais de 100 países.



Estudante e não Discípulo

Hoje, numa perspectiva organizacional, tanto os homens como as mulheres assumem a responsabilidade de ensinar e de gerir os centros. De certa forma, os homens seguem o exemplo do fundador e, prontamente, colocam as mulheres “na frente”.


Para a Brahma Kumaris, o conceito de discípulo não existe. Brahma Baba nunca se considerou como um guru. Ele ensinava através do exemplo, ao colocar na prática o conhecimento espiritual e os princípios que recebeu na sua comunhão (yoga) com a Alma Suprema. Também encorajou os outros a fazer o mesmo, ao criarem a sua própria comunicação diretamente com a Fonte.


Brahma Baba encorajou as mulheres a entenderem e a explorarem o seu potencial e inspirou-as com uma visão, da valiosa contribuição que as mulheres podem fazer como líderes espirituais. Ele percebeu que as mulheres têm serenidade e gentileza para entender e aceitar as ideias espirituais facilmente, sem a barreira da arrogância que é tão frequente nos homens. Então, ao colocar as mulheres na frente, ele procurou criar uma situação de igualdade, de respeito mútuo e de estima entre homens e mulheres, e, de facto, em todos os relacionamentos independentemente do género.



Didi Sudesh é Coordenadora da Brahma Kumaris para a Europa. Tem sido estudante e professora na Brahma Kumaris há mais de 47 anos.

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Bichinho Azul, conta p´ra mim quantos dedinhos e buraquinhos contou por aqui?

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