Foggy Days
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Arte , As Palavras , Cinema , Escrita Criativa , Fotografias , Imaginação , Letras , Terror | Posted on 21:30
« nunca saberás! tão claro quanto isso. as palavras são simples, apenas para te confundir. disseram que a neblina subiu-lhe pela pele acima. poderia ter sido pela pele abaixo. mas não ocorreu desse modo. poderia, poderia... mas não foi! ficou mortificada a observar a ínfima dimensão de ser um rato enlouquecido. estava presa num alpendre. quem duvidaria de tal semelhança com a realidade? ninguém! ele era infinitesimal. poderia alguém saber disso? não, não!!! a insignificância das suas patas, não lhe permitiam subir pelas paredes; e se é que era possível subir pelas paredes.
tu sabes que não estou a falar de ratos. eu nem sei o que é um rato. acreditas? deverias acreditar. vou dizer-te o porquê! no planeta onde vivo, há um aparelho mágico que projecta imagens, tudo é silencioso. nem um som. de vez em quando surge em grande plano a palavra, Rato. determinei que tudo o que fica preso na malha do tempo, é rato. contanto, não sei o que é um rato. posso dizer-te, que de tempos a tempos surgem outras palavras, tais como, Queijo. é tão irracional que não percebo. queijo?? esta semana, li uma nova palavra, Ratoeira. estou a tentar perceber. só que eu sou uma casa. estou inserida num aglomerado de edifícios, sou o último, o 14º andar e em cima da minha cabeça, existe uma piscina. podem ver como é confuso o meu cérebro »
NãoSouEuéaOutra, in, « queira deus que o rato seja mentiroso ».
26 de Dezembro de 2011
Lonely Days
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Fotografias , Imaginação , Teatro , Vidas | Posted on 21:01
« tem qualquer coisa na cidade. qualquer coisa inexprimível. tudo o que faz é assobiar e rodopiar. há quem diga que são centopeias a caminhar; há quem diga que são hienas à espera. todos os rumores indicam que são candeeiros perdidos no tempo, na memória dos amores que já vivenciaram. nem Vasco Santana* teria admirado tanto um candeeiro de rua, como este o admirou! »
* considerado um dos melhores actores portugueses da sua geração.
26 de Dezembro de 2011
«é o burro que me guia, ou sou eu, que guio o burro?»
Não sei o que se passa comigo; a cada dia, estou cada vez mais viciada em vozes. Explico melhor... vocalidade e som. Pelo mesmo caminho, vão as palavras. Mas vós, nunca ireis poder compreender o porquê desta minha obsessão compulsiva. Quando vós tedes uma espécie de pedra na garganta, a paisagem muda; quando vós tedes um pedregulho nos ouvidos, o vento torna-se demasiado precioso; quando vós tedes areia nos neurónios, a vergonha começa a entupir.
«Não me basta discursos intelectuais elaborados se toda a alma está fora do caminho.» - poderia dizer qualquer pessoa que quisesse atingir a simplicidade das coisas.
Quinta-feira, 22 de Dezembro de 2011
in '' A habitante Teatral ''
Viver
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in As Palavras , Auto-Consciência , Consciência , Curtas e Rápidas , Deserto , Imaginação , Inconsciente , Insanidade | Posted on 11:50
« preciso de desocupar esta casa (imensa) que sou. há gentes estranhas e inconvenientes. ruídos por demais ruidosos perambulando pelos corredores. janelas abertas e clarabóias indevidamente projectadas. há demasiada gente para uma casa tão imensa, quando preciso cavalgar o meu cavalo pelos corredores e ser Eu. »
Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2011
Sea
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in As Palavras , Inconsciente , Mar , Movimento , Ondas | Posted on 11:39
« disseram-me que o nome daquele mar, não era para ser ouvido sobre esta terra... apenas poderia saboreá-lo no tecto da boca! »
Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2011
Eternidade
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Anjos , Eternidade , Fotografias , Vida | Posted on 13:27
« ...o seu mal, sempre foi o anseio da Eternidade. Julgou que a permanência seria eterna. Acreditou tão fielmente. Acreditou mais do que todos e por isso amou tanto e tão imperfeitamente. Poucos lhe descobriam a alma. »
NãoSouEuéaOutra in « Fragmentos Interiores »
Resinas de Abulia
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Amor , Força , Génio , Loucura , Poesia , Profundidade , Violeta Teixeira | Posted on 13:00
Se, ao leitor, lhe não agrada o registo
Disfórico da minha poesia, liberte-me das
Grades da cela; dê-me a beber o Sol de cada
Dia; pendure-me nos tectos bolorentos cachos
Azuis e sensuais de astros; traga-me pombos
Bravos para cima da minha cama, com plumagens
Esmeralda e bicos de ametista; plante-me, na
Terra estéril, tílias e álamos e abetos e cedros e
Faias e árvores-outras de que goste; semeie-me,
Entre pedras belíssimas, todas as espécies de flores;
Povoe-me, esvoaçantes, pássaros exóticos, com
Cantos multicolores; ponha-me um mar bravo a
Musicar contra os rochedos, dentro dos meus olhos
Secos; faça-me navegar nas veias veleiros e gaivotas;
Espalhe-me sobre o ventre areias fulvas e macias,
Seixos negros, com arestas auríferas e lamas de argila
Brancas e verdes; chova-me vermelhos cálidos na
Alma, que nunca me foi dada, nem, aliás, a aceitaria;
Arrombe-me, depois, todas as portas do corpo, sempre
Abertas, em secreto silêncio, e faça-me amor, com poesia,
A mais eufórica que souber, no acender de cada madrugada.
Se não for capaz, leitor descontente, de tão irrisório feito,
Envie-me, na boca de uma raposa vermelha alada,
A tábua dos mandamentos da poesia, com registo eufórico,
Ou a cartografia exaustiva do labirinto da alegria.
Violeta Teixeira, in RESINAS DE ABULIA, Magno Edições, 2003
Disfórico da minha poesia, liberte-me das
Grades da cela; dê-me a beber o Sol de cada
Dia; pendure-me nos tectos bolorentos cachos
Azuis e sensuais de astros; traga-me pombos
Bravos para cima da minha cama, com plumagens
Esmeralda e bicos de ametista; plante-me, na
Terra estéril, tílias e álamos e abetos e cedros e
Faias e árvores-outras de que goste; semeie-me,
Entre pedras belíssimas, todas as espécies de flores;
Povoe-me, esvoaçantes, pássaros exóticos, com
Cantos multicolores; ponha-me um mar bravo a
Musicar contra os rochedos, dentro dos meus olhos
Secos; faça-me navegar nas veias veleiros e gaivotas;
Espalhe-me sobre o ventre areias fulvas e macias,
Seixos negros, com arestas auríferas e lamas de argila
Brancas e verdes; chova-me vermelhos cálidos na
Alma, que nunca me foi dada, nem, aliás, a aceitaria;
Arrombe-me, depois, todas as portas do corpo, sempre
Abertas, em secreto silêncio, e faça-me amor, com poesia,
A mais eufórica que souber, no acender de cada madrugada.
Se não for capaz, leitor descontente, de tão irrisório feito,
Envie-me, na boca de uma raposa vermelha alada,
A tábua dos mandamentos da poesia, com registo eufórico,
Ou a cartografia exaustiva do labirinto da alegria.
Violeta Teixeira, in RESINAS DE ABULIA, Magno Edições, 2003
(source)
Voar Partido
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Amor , As Palavras , Auto-Consciência , Consciência , Diários de Passeios , Escrita Criativa , Eterno Feminino , Lilith , Monólogos Dramáticos | Posted on 07:35
« o segredo de voar, estava no acto de levantar voo, mais que isso, era preciso asas. nisso concordávamos, Eu e Nicinha. embora passássemos o tempo a discordar, nisto não tínhamos a menor dúvida. somos autênticas verborrágicas e odiamos expressar-nos em público; diríamos que funciona como uma roupa que não se adequa ao nosso corpo. talvez seja essa a razão de sermos tão amigas. por isso somos tão catárticas ao fazermos uso da escrita para expiar as dores da alma e as costuras do coração. pintamos o belo e o feio; o prazer e a dor; a luz e a sombra; a vida e a morte! Introspecção e ruminação, não nos largam. »
- é preciso ter um caos dentro de si
para dar à luz uma estrela brilhante.
Nietzsche -
- cada aumento no conhecimento,
é um aumento de dor.
Goethe falando de si -
Sobre Génios e Loucos
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Génios , Louco | Posted on 07:46
Genialmente loucos
Março 26, 2008
Março 26, 2008
Será a genialidade sinónimo de loucura? A criatividade será um estádio de “alucinação”, ou ao contrário, uma personalidade com traços patológicos desencadeia uma imaginação genial. Ao longo da nossa história, escritores, pintores, pensadores e artistas notáveis foram considerados “loucos” na sua época e internados em unidades de psiquiatria. Hoje, são reconhecidos como uns supra – sumo. Mas afinal, o que se separa a loucura da normalidade?
Antonin Artaud, conhecido escritor e dramaturgo, influência correntes do pensamento critico e criadores da área teatral, programas experimentais, poesia, linguística, cultura e contracultura. Reconhecido como criador genial, iluminado e saudavelmente louco. Passou os seus últimos dias no no manicómio, este é um trecho da carta enviada do artista aos médicos do hospital psiquiátrico onde se encontrava.
‘‘Os loucos são as vítimas individuais por excelência da ditadura social; em nome dessa individualidade intrínseca ao homem, exigimos que sejam soltos esses encarcerados da sensibilidade, pois não está ao alcance das leis prender todos os homens que pensam e agem. Sem insistir no carácter perfeitamente genial das manifestações de certos loucos, na medida da nossa capacidade de avaliá-las, afirmamos a legitimidade absoluta de sua concepção de realidade e de todos os actos que dela decorrem. Que tudo isso seja lembrado amanhã pela manhã, na hora da visita, quando tentarem conversar sem dicionário com esses homens sobre os quais, reconheçam, os senhores só têm a superioridade da força.”
Que conceito é este de ser normal, já que esta ideia é unicamente social. Este, o louco, pode ser aquele que foge às regras de conduta comuns, do estereótipo, tem um comportamento sem limitações, longe dos padrões ditos normais. Qual é a ténue fronteira que delimita os dois estados?
“A “loucura” é um tipo de comportamento, uma alteração mental passageira, geralmente reactiva, que pode estar presente em diversas situações. As designadas doenças mentais são transtornos de saúde que podem afectar sentimentos, pensamentos e comportamentos. A noção de “loucura”pode ser em um indivíduo dito “normal” a intensificação máxima das emoções. Muitas vezes estes dois estados se interligam, mas nunca actuam simultaneamente.
“Um ser humano considerado normal, diante de um estado de tensão ou pressão profissional ou social pode transitar rapidamente para um estado considerado como “loucura”, já que a linha limítrofe entre os dois estados é algo muito ténue e pode romper-se subjectivamente, fugindo ao controlo daquele ser humano. Retirado esse estímulo forte que causa tensão, o ser humano pode voltar ao estado anterior”.
Sendo assim, as fronteiras entre a sanidade e insanidade mental estão mais esbatidas. É comum passarmos por situações de perturbação que nos incapacitam ou nos motivam à criação. Grandes vultos, génios, tiveram comportamentos que apelidamos de “loucos”. De qualquer forma, são reconhecidos como homens e mulheres inteligentíssimos e precursores para o seu tempo. Genialidade? Loucura? Criação? Quem sabe
«(…)As pessoas sãs deixam o processo criativo para os outros. A sanidade é a norma. Se pensarmos no termo ''são'', a melhor definição possível é ''normal''. Não existem portanto pessoas completamente normais, mas sim indivíduos que aceitam a maioria das normas, e são por isso apelidadas pessoas normais.
Os ''criativos'', por outro lado, atrevem-se a tentar a criação de coisas, que os ''sãos'' normalmente nunca tentariam, ou se atreveriam a tentar.
Os ''criativos'', por outro lado, atrevem-se a tentar a criação de coisas, que os ''sãos'' normalmente nunca tentariam, ou se atreveriam a tentar.
A insanidade é a visão, a intuição, a constante procura da ''invenção'', da ''inovação''. A insanidade não pode e nunca deve ser excluída do processo criatico. Será atributo das ditas pessoas normais a criação? Será o acto de escrever um livro de 500 páginas um acto próprio dum individuo são, ou será uma atitude impregnada de um pouco de insanidade?
A ''inanidade' criativa'' é equivalente a um longo sonho, do qual nunca se acorda ou não se pretende voluntariamente acordar. Numa sociedade ambígua, desordenada, e em situção de delirium, inércia e hipocrisia, não é possível identificar e delimitar e fronteiras entre a normaliddae e anormalidade, entre a inanidade e a sanidade.
A fronteira não é clara, não é identificável. Será que podemos falar do estado mental de Van Gogh? Ou será que definir o génio de Van Gogh é praticamente impossível, mesmo que o próprio tenha sido banido, julgado e condenado como louco?
Será que cortando a sua orelha esquerda o tornou uma pessoa insana...(...) »
Lola, a Escorpiónica
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in A Diva , Arte , As Palavras , Contos , Crónicas Curtas , Deserto , Escorpião , Feminino , Fotografias , Plutão | Posted on 20:26
(source)
© NãoSouEuéaoutra
18 de Julho 2006
(reeditado - antigo blog)
Lola, era o seu nome. Nascida de um caso furtivo e oculto entre uma dona de casa e um caixeiro-viajante. Segundo a sua mãe, o seu pai era um homem de personalidade ambígua. Vendia escorpiões de terra em terra a curandeiros. Amava mais os escorpiões do que a sua própria vida e a eles se devotava. Deste romance breve e intenso nascera Lola e cujo pai nunca soubera da sua existência, porque tal como inusitadamente chegou àquela terra, assim desapareceu sem deixar rasto. Não houve, como se diz, tempo, posto que, todos os viajantes são rápidos na chegada, na conquista e na partida.
Lola nascera diferente. Porquê? Uma das suas mãos era dupla. Do seu pulso desprendia-se uma cauda. Uma cauda de escorpião. Por muitos anos sua mãe a escondeu dos olhares de terceiros. Julgou-se suja por ter dado à luz um ser tão estranho. Acreditou que cometera um crime ao envolver-se de alma e corpo com um homem de índole duvidosa e ter vivido os mais escaldosos, escandalosos e ardentes desejos libidinosos, e por consequência do seu pecado gerara uma filha fruto dessa ligação, como marca da sua aventura tão proibida e censurada à alma humana.
Lola nascera diferente. Porquê? Uma das suas mãos era dupla. Do seu pulso desprendia-se uma cauda. Uma cauda de escorpião. Por muitos anos sua mãe a escondeu dos olhares de terceiros. Julgou-se suja por ter dado à luz um ser tão estranho. Acreditou que cometera um crime ao envolver-se de alma e corpo com um homem de índole duvidosa e ter vivido os mais escaldosos, escandalosos e ardentes desejos libidinosos, e por consequência do seu pecado gerara uma filha fruto dessa ligação, como marca da sua aventura tão proibida e censurada à alma humana.
Lola e a sua mão com cauda de escorpião cresceram fechadas numa redoma, longe de todos e até da própria mãe. Conservou a pureza e a inocência de coração. O único alimento que a sua mãe lhe dava, eram livros. Os livros deixados pelo seu pai outrora. Apesar de ser um homem muito estranho e vender escorpiões, tinha uma faceta de livreiro. Livros estes que eram a titulo enigmáticos e cuja Lola apreendeu e deles absorveu todo o ensinamento oculto da cauda de escorpião. Já adolescente, depois de muitas lutas com a sua cauda, aprendeu a domá-la. Foi neste momento que Lola também se abriu para o mundo e sua mãe devolveu-lhe o olhar de Mãe e com ele a liberdade.
Nunca ninguém descobriu que Lola tinha uma cauda de escorpião quando se adentrou pelo mundo, tal a sua rigorosa aprendizagem e disciplina para domar a matéria escorpiónica contida no seu punho e extrair dela o exilir da libertação. Da sua mão, invisivelmente brotavam pétalas de rosas de cor branca envolvidas em gotas que lembram o orvalho da manhã. O preço da sua alquimia encontrou-a na pesada prisão dos que não a souberam amar!!
Nunca ninguém descobriu que Lola tinha uma cauda de escorpião quando se adentrou pelo mundo, tal a sua rigorosa aprendizagem e disciplina para domar a matéria escorpiónica contida no seu punho e extrair dela o exilir da libertação. Da sua mão, invisivelmente brotavam pétalas de rosas de cor branca envolvidas em gotas que lembram o orvalho da manhã. O preço da sua alquimia encontrou-a na pesada prisão dos que não a souberam amar!!
Auto-biografia
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Baloiços , Biografia , Vidas | Posted on 16:28
(source)
Estou parada a olhar o papel. Há vários minutos. Já nem sei, ao certo, quanto tempo se passou. Perdi-me. O assunto é delicado. Não é um tema que se escreva como quem escreve poemas de amor ou até poemas dramáticos! Quero escrever-vos sobre um estado da condição humana que é preciso coragem para praticá-lo. Primeiro, é preciso um motivo e segundo, é preciso força para executá-lo. É o insuportável para lá do limite que faz executar algo que destrua a sensação que aniquila a existência interior do sujeito.
A verdade é que ninguém ouve o grito deste tipo de pessoa. Eu ouvi, e era tão menina e impotente, quanto ignorante acerca da alma e do coração dos homens e os seus desejos mais perversos e assombrosos. Participei na dança, vi-me naqueles limites que devem ser protegidos. Há testemunhas – crianças silenciosas que absorvem cada minuto; não gesticulam, apenas olham paralisadas e gravam tudo ao pormenor numa mudez colossal. Elas colocam tudo numa caixa e guardam silenciosas sem fazer uma pergunta durante anos. Um dia, acorda-se e pergunta-se: “ porquê eu? Why me? Pourquoi moi.” Como e de onde isto veio? Fica-se suspenso!!
Então começa assim:
Não sei o nome dele. Nem me lembro se algum dia o soube. Mas ele existia. Sem nome ou com nome, ele existia. Ele existiu na minha vida. Participou dela à distância, ou seja, aproximou-se o suficiente para poder expressar os sentimentos pelo olhar. E que sentimentos ele transferiu, a cada vez que pousava sobre os meus olhos!! Arrepio-me de sobremaneira!
Julgo que nasci com uma lente fotográfica e câmara de filmar nos olhos. Não posso deixar de ver as fotografias de forma nítida na mente. Há coisas que apenas lembro do pescoço para baixo ou cintura, e isso se deve à minha estatura física de criança – menina. Até sob este prisma fotografei os retalhos.
O Sem Nome, homem recém-chegado ao sitio ou localidade onde vivíamos. Veio sozinho e ninguém sabia a sua origem. Pediu emprego a um familiar meu. Dedicava a sua vida ao trabalho. Havia liberdade e ele não tinha muito que fazer. Foi-lhe oferecido um anexo à casa para ter o seu espaço e tinha um ordenado. Julgo que foi a compaixão do meu tio que acolheu o homem e por conseguinte lhe ofereceu trabalho. Veio para um sítio diferente (talvez, não sei!), não conhecia ninguém. Nunca o vi confraternizando com alguém. Sempre o vi sozinho. Algumas vezes o vi sentado a olhar o horizonte, outras, no tasco a beber um copo de vinho e a maior parte das vezes a fazer o trabalho para o qual foi destinado. Observava-o. Ele era estranho e olhava estranho.
Quanto às mulheres que me rodeavam, senti o medo delas por aquele homem. Ele era calado e ninguém sabia o seu passado. Não tinha família. Minha própria mãe reagia estranhamente. Eu limitava-me a fotografar as impressões ou modos delas reagirem. O Sem Nome vestia-se de negro. Calças pretas, camisa preta e chapéu preto na cabeça. A figura que mais se assemelha fisicamente com ele é o Vitorino, o cantor. Há dias estávamos os dois às compras no mesmo sítio e foi uma espécie de inquietação inicial, apenas depois é que percebi que a figura era o Vitorino. Algo se fundiu ali por momentos, mas obviamente que não há alma para comparar e nem densidade… apenas o físico reflectiu aquela longínqua alma, ou nem foi nada disso. Apenas qualquer coisa, assim como a mola que salta do sitio. Prefiro raciocinar deste modo.
Era menina e foi pelas alturas que entrei para a escola primária quando ocorreu o que me levou a escrever esta biografia. Não encontrei ainda uma forma correcta de escrevê-la. Este homem delegou-me uma responsabilidade psicológica, de contrário, não escreveria sobre ela. Levei anos sem olhar para isto, o sono da bela adormecida... contudo a vida tratou de sepultar o morto - vivo aqui dentro e com uma voz própria… o facto é que o Sem Nome, por demasiado tempo concentrou a sua atenção no meu ser menina. Como? Através dos olhos, o olhar. Eles falavam imenso!! Tanto... Os olhos escuros como a noite mais profunda me perseguiam cada vez que passavam por mim e pelos meus. Via-lhe a alma. Um abismo entre montanhas, olhos mergulhados num vale denso onde a luz do sol pouco chegava; um rio negro perdido entre árvores. Só agora posso definir aquele olhar, o olhar da desolação profunda da existência. Um ser completamente preso no limbo. Ausência profunda de amor, um mergulho pesado na solidão da vida. Contudo ali, existia uma maldade que ainda não compreendi, como vão poder perceber.Podia ter escolhido outra criança.
Eu adorava dançar. O meu tempo era passado a dançar. Dançava para qualquer pessoa. Dançava sozinha na rua. Tinha aquele bichinho da dança bem presente no corpo. Gostava imenso de rodar a saia e balançar o quadril. Um dia, estava a dançar e ele, o Sem Nome passou. Será a primeira vez que estará tão próximo… demasiado próximo. Aqueles olhos, aquele olhar abissal com que me olhou nos meus… entrei num estado de hipnose, fiquei presa. Senti um medo tão profundo, a invasão do olhar devorou-me a paz e a alegria. Recordo de tremer tanto. Era só negridão a dirigir-se para os meus olhos. Momentos depois ele foi afastando-se na rua, e eu parada a olhar. Assustada. Silenciei-me. Nunca disse o quanto aquele homem me perturbava. Ele jogava comigo através do olhar. Calado e olhando-me directo. Passei a antecipá-lo. Isso provocava-me inquietação. Talvez eu imaginasse demais, por conta da forma como ele olhava. Como criança não percebia a força de olhares tão negros sobre mim.
Fizeram-me um baloiço numa árvore. No cimo da colina em direcção ao lago. A casa tinha um lago. Uma das mais belas vistas. Ali pude assistir aos mais belos nasceres e pores-do-sol. As tonalidades do entardecer primaveril, veranil e outonal eram uma loucura aos sentidos. Eram tão gigantes que os meus braços abertos não conseguiam abraçar. Eu balançava às tardes, às vezes a qualquer hora. Na época do verão, ficava sentada debaixo da árvore. O baloiço era uma aventura, queria ver até que ponto conseguia elevar-me nele. Cai muitas vezes e, uma vez elevei demais que levei com um susto, e tomei isso como aviso quanto aos meus limites.
Às vezes havia uns piqueniques debaixo da árvore. O Sem Nome costumava passar por aquele lugar a uma distância que permitia saber o que ocorria naquela e debaixo da árvore. Vi-o passar várias vezes quando estava a andar de baloiço. Aquele caminhar lento e às vezes obtuso mas carregado no semblante. Eu não sabia definir o medo, apenas sentia o medo.
Certa manhã levantei-me muito cedo. Quando digo cedo, é mesmo cedo. Abri a porta de casa e sai a correr. Fatalmente a correr. Nem sei bem onde ia com tanta velocidade e porque tive aquele institnto. O sol surgia no horizonte. Todos estavam dentro de casa. Apenas eu sai sem ninguém perceber. Sai louca em direcção à árvore lá em cima. Sai feliz. Recordo-me perfeitamente da alegria e a saltitar. Efusiva ia não sei onde, completamente cega. Preciso notar que estava eléctrica e contente. Mas o que vi? O que iria encontrar, assim sem preparação? O que não se espera na vida encontrar.
O Sem Nome se suicidando. Suicídio por enforcamento. Com uma das cordas do baloiço. Fiquei olhando o homem pendurado na árvore. Depois comecei a berrar. Corri o mais que pude. Minha boca gritava, mãe mãe mãããããeeeeeeee… minha mãe assustadíssima, pergunta-me o que é, e eu quase gaga disse-lhe que tinha um homem pendurado na árvore. O que estás inventando? Qual árvore?- perguntava ela, e eu respondi, a árvore do baloiço. Provoquei uma agitação e, também fui agressivamente afastada de tudo. Para minha protecção, como é normal. Mas eu não entendi assim. Eu queria entender o que estava ocorrendo. Só ouvi dizer, o homem matou-se. Contudo, consegui fugir do local onde tinha sido aprisionada e voltei ao sitio e pude assistir sem que ninguém desse por mim, a retirada do homem da árvore. Recordo-me perfeitamente do nó, da ferida em volta do pescoço, que estava tão vermelha, como se fosse queimada. O homem debatera-se em agonia, porque a altura da árvore não era muita.
Guardei a imagem dele pendurado, suspenso… também a sua retirada da árvore e colocado no chão. O que recordo depois? O facto de ter sido descoberta a espreitar tudo. Zangaram-se muito comigo e voltei para dentro de casa contrariada e disseram que não podia passar um limite desenhado no espaço exterior da casa, em especial as traseiras. O espaço que dava acesso ao local. Vi-me barata tonta. Irritada e ofendida. Não percebia nada e a memória se apaga.
O lugar do baloiço e árvore deixaram de ser um local de brincadeira e convívio. Nunca mais me aproximei. Nunca houve uma conversa sobre isto, nunca ninguém me perguntou como me sentia. Com o tempo foi ficando sufocado lá no fundo do meu coração de criança-menina.
Muito mais tarde, passei a recordar isto, e cada vez mais com cada pormenor sem fazer esforço, iniciara-se um processo de censura profunda. Os olhos, como que me olhava… tudo tão negro e depois, crueldade… o baloiço e a árvore. Ele determinou que eu não haveria de esquecer os seus olhos… todo nú me olhou e delegou!!!
Tenho a boca nas perguntas... e não acabei de escrever isto!!!
A verdade é que ninguém ouve o grito deste tipo de pessoa. Eu ouvi, e era tão menina e impotente, quanto ignorante acerca da alma e do coração dos homens e os seus desejos mais perversos e assombrosos. Participei na dança, vi-me naqueles limites que devem ser protegidos. Há testemunhas – crianças silenciosas que absorvem cada minuto; não gesticulam, apenas olham paralisadas e gravam tudo ao pormenor numa mudez colossal. Elas colocam tudo numa caixa e guardam silenciosas sem fazer uma pergunta durante anos. Um dia, acorda-se e pergunta-se: “ porquê eu? Why me? Pourquoi moi.” Como e de onde isto veio? Fica-se suspenso!!
Então começa assim:
Não sei o nome dele. Nem me lembro se algum dia o soube. Mas ele existia. Sem nome ou com nome, ele existia. Ele existiu na minha vida. Participou dela à distância, ou seja, aproximou-se o suficiente para poder expressar os sentimentos pelo olhar. E que sentimentos ele transferiu, a cada vez que pousava sobre os meus olhos!! Arrepio-me de sobremaneira!
Julgo que nasci com uma lente fotográfica e câmara de filmar nos olhos. Não posso deixar de ver as fotografias de forma nítida na mente. Há coisas que apenas lembro do pescoço para baixo ou cintura, e isso se deve à minha estatura física de criança – menina. Até sob este prisma fotografei os retalhos.
O Sem Nome, homem recém-chegado ao sitio ou localidade onde vivíamos. Veio sozinho e ninguém sabia a sua origem. Pediu emprego a um familiar meu. Dedicava a sua vida ao trabalho. Havia liberdade e ele não tinha muito que fazer. Foi-lhe oferecido um anexo à casa para ter o seu espaço e tinha um ordenado. Julgo que foi a compaixão do meu tio que acolheu o homem e por conseguinte lhe ofereceu trabalho. Veio para um sítio diferente (talvez, não sei!), não conhecia ninguém. Nunca o vi confraternizando com alguém. Sempre o vi sozinho. Algumas vezes o vi sentado a olhar o horizonte, outras, no tasco a beber um copo de vinho e a maior parte das vezes a fazer o trabalho para o qual foi destinado. Observava-o. Ele era estranho e olhava estranho.
Quanto às mulheres que me rodeavam, senti o medo delas por aquele homem. Ele era calado e ninguém sabia o seu passado. Não tinha família. Minha própria mãe reagia estranhamente. Eu limitava-me a fotografar as impressões ou modos delas reagirem. O Sem Nome vestia-se de negro. Calças pretas, camisa preta e chapéu preto na cabeça. A figura que mais se assemelha fisicamente com ele é o Vitorino, o cantor. Há dias estávamos os dois às compras no mesmo sítio e foi uma espécie de inquietação inicial, apenas depois é que percebi que a figura era o Vitorino. Algo se fundiu ali por momentos, mas obviamente que não há alma para comparar e nem densidade… apenas o físico reflectiu aquela longínqua alma, ou nem foi nada disso. Apenas qualquer coisa, assim como a mola que salta do sitio. Prefiro raciocinar deste modo.
Era menina e foi pelas alturas que entrei para a escola primária quando ocorreu o que me levou a escrever esta biografia. Não encontrei ainda uma forma correcta de escrevê-la. Este homem delegou-me uma responsabilidade psicológica, de contrário, não escreveria sobre ela. Levei anos sem olhar para isto, o sono da bela adormecida... contudo a vida tratou de sepultar o morto - vivo aqui dentro e com uma voz própria… o facto é que o Sem Nome, por demasiado tempo concentrou a sua atenção no meu ser menina. Como? Através dos olhos, o olhar. Eles falavam imenso!! Tanto... Os olhos escuros como a noite mais profunda me perseguiam cada vez que passavam por mim e pelos meus. Via-lhe a alma. Um abismo entre montanhas, olhos mergulhados num vale denso onde a luz do sol pouco chegava; um rio negro perdido entre árvores. Só agora posso definir aquele olhar, o olhar da desolação profunda da existência. Um ser completamente preso no limbo. Ausência profunda de amor, um mergulho pesado na solidão da vida. Contudo ali, existia uma maldade que ainda não compreendi, como vão poder perceber.Podia ter escolhido outra criança.
Eu adorava dançar. O meu tempo era passado a dançar. Dançava para qualquer pessoa. Dançava sozinha na rua. Tinha aquele bichinho da dança bem presente no corpo. Gostava imenso de rodar a saia e balançar o quadril. Um dia, estava a dançar e ele, o Sem Nome passou. Será a primeira vez que estará tão próximo… demasiado próximo. Aqueles olhos, aquele olhar abissal com que me olhou nos meus… entrei num estado de hipnose, fiquei presa. Senti um medo tão profundo, a invasão do olhar devorou-me a paz e a alegria. Recordo de tremer tanto. Era só negridão a dirigir-se para os meus olhos. Momentos depois ele foi afastando-se na rua, e eu parada a olhar. Assustada. Silenciei-me. Nunca disse o quanto aquele homem me perturbava. Ele jogava comigo através do olhar. Calado e olhando-me directo. Passei a antecipá-lo. Isso provocava-me inquietação. Talvez eu imaginasse demais, por conta da forma como ele olhava. Como criança não percebia a força de olhares tão negros sobre mim.
Fizeram-me um baloiço numa árvore. No cimo da colina em direcção ao lago. A casa tinha um lago. Uma das mais belas vistas. Ali pude assistir aos mais belos nasceres e pores-do-sol. As tonalidades do entardecer primaveril, veranil e outonal eram uma loucura aos sentidos. Eram tão gigantes que os meus braços abertos não conseguiam abraçar. Eu balançava às tardes, às vezes a qualquer hora. Na época do verão, ficava sentada debaixo da árvore. O baloiço era uma aventura, queria ver até que ponto conseguia elevar-me nele. Cai muitas vezes e, uma vez elevei demais que levei com um susto, e tomei isso como aviso quanto aos meus limites.
Às vezes havia uns piqueniques debaixo da árvore. O Sem Nome costumava passar por aquele lugar a uma distância que permitia saber o que ocorria naquela e debaixo da árvore. Vi-o passar várias vezes quando estava a andar de baloiço. Aquele caminhar lento e às vezes obtuso mas carregado no semblante. Eu não sabia definir o medo, apenas sentia o medo.
Certa manhã levantei-me muito cedo. Quando digo cedo, é mesmo cedo. Abri a porta de casa e sai a correr. Fatalmente a correr. Nem sei bem onde ia com tanta velocidade e porque tive aquele institnto. O sol surgia no horizonte. Todos estavam dentro de casa. Apenas eu sai sem ninguém perceber. Sai louca em direcção à árvore lá em cima. Sai feliz. Recordo-me perfeitamente da alegria e a saltitar. Efusiva ia não sei onde, completamente cega. Preciso notar que estava eléctrica e contente. Mas o que vi? O que iria encontrar, assim sem preparação? O que não se espera na vida encontrar.
O Sem Nome se suicidando. Suicídio por enforcamento. Com uma das cordas do baloiço. Fiquei olhando o homem pendurado na árvore. Depois comecei a berrar. Corri o mais que pude. Minha boca gritava, mãe mãe mãããããeeeeeeee… minha mãe assustadíssima, pergunta-me o que é, e eu quase gaga disse-lhe que tinha um homem pendurado na árvore. O que estás inventando? Qual árvore?- perguntava ela, e eu respondi, a árvore do baloiço. Provoquei uma agitação e, também fui agressivamente afastada de tudo. Para minha protecção, como é normal. Mas eu não entendi assim. Eu queria entender o que estava ocorrendo. Só ouvi dizer, o homem matou-se. Contudo, consegui fugir do local onde tinha sido aprisionada e voltei ao sitio e pude assistir sem que ninguém desse por mim, a retirada do homem da árvore. Recordo-me perfeitamente do nó, da ferida em volta do pescoço, que estava tão vermelha, como se fosse queimada. O homem debatera-se em agonia, porque a altura da árvore não era muita.
Guardei a imagem dele pendurado, suspenso… também a sua retirada da árvore e colocado no chão. O que recordo depois? O facto de ter sido descoberta a espreitar tudo. Zangaram-se muito comigo e voltei para dentro de casa contrariada e disseram que não podia passar um limite desenhado no espaço exterior da casa, em especial as traseiras. O espaço que dava acesso ao local. Vi-me barata tonta. Irritada e ofendida. Não percebia nada e a memória se apaga.
O lugar do baloiço e árvore deixaram de ser um local de brincadeira e convívio. Nunca mais me aproximei. Nunca houve uma conversa sobre isto, nunca ninguém me perguntou como me sentia. Com o tempo foi ficando sufocado lá no fundo do meu coração de criança-menina.
Muito mais tarde, passei a recordar isto, e cada vez mais com cada pormenor sem fazer esforço, iniciara-se um processo de censura profunda. Os olhos, como que me olhava… tudo tão negro e depois, crueldade… o baloiço e a árvore. Ele determinou que eu não haveria de esquecer os seus olhos… todo nú me olhou e delegou!!!
Tenho a boca nas perguntas... e não acabei de escrever isto!!!
The Time Of My Life
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in | Posted on 11:29
Já não há Dirty Dancing, no more. Os palhaços morreram à janela, um a um. Contaram todas as mentiras. Todas as possíveis. Seres invertebrados na língua. Seus anfiteatros ficaram entupidos de novelos de lã e de rãs, cuja representação eles imitaram com façanha. Polivalentes, amorfos e sedentos de virgens. No more, Dirty Dancing. O espectáculo se acabou e morreu o rei sem trono. Não há tronos para reis. Nús estão os reis e vão enfadonhos das suas misérias em coração de vidro. Pés de barro, excrementos no coração são a sua essência. Malabaristas que se assenhoraram da alegria das Virgens até à gota final. Palhaços assassinos do subjectivo. « Uma risada te coloco na boca e aí te mastigo! » - inteligente a linguagem cerebral deles.
- fotogramas do filme Dirty Dancing.
- modificadas por mim com técnica do pontilhismo (vulgo grão)
Mozart
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in | Posted on 19:41
« eu sei que vocês não gostam de pessoas solitárias. pois bem, agradecia que desocupassem a sala. pretendo passar as próximas horas ouvindo música clássica. Mozart. MOZART! »
ops...
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in | Posted on 17:20
?
«digo, várias vezes, que vou mudar. e, fico pensando e pensando e pensando. tenho a estatura que tenho. nisto, fotografo o facto. isto não muda. estatura não muda.»
Shine on You
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Arte , Beduína , Deserto , Força , Fotografias , Gatas Borralheiras | Posted on 08:47
os grãos continuam a ser algo que gosto trabalhar/colocar nas fotografias. provavelmente isto se deve ao desenho com lápis de carvão e o esfuminho. sempre tive obsessão por ilustração, desde menina. sempre foi muito privada esta tendência e também muita obsessiva a busca pelo volume e luz e sombra no desenho. sempre descontente pela minha imperfeição em desenhar, origem de grandes dores de cabeça. (talvez a minha maior zanga em vida, para compreender todo o processo de desenhar!!) viciada em linhas finas durante muito tempo, e um dia, um mestre de impressionismo deu-me uma grande e esplendorosa bofetada que alterou a minha estúpida mania de perfeição, e nunca mais me preocupei tanto com a linha do desenho e acabei por olhar mais para a noção de luz e sombra e volume. apenas mudei o foco da obsessão e da perfeição. sempre ando com um notebook da Ambar, como também ando sempre com um livro.
Vazio
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in As Palavras , Beduína , Corpo Mulher , Crianças Violadas Sexualmente , Deserto , Enforcamento , Ironia , O Amante , Pensamento , Sarcasmo , Sexo , Sombra , Suicídio , Tempo , Traições , Tristeza | Posted on 13:17
[ Minha Vida
Nunca busquei viver a minha vida
A minha vida viveu-se sem que eu quisesse ou não quisesse.
Só quis ver como se não tivesse alma
Só quis ver como se fosse eterno. ]
Alberto Caeiro, in "Fragmentos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Nunca busquei viver a minha vida
A minha vida viveu-se sem que eu quisesse ou não quisesse.
Só quis ver como se não tivesse alma
Só quis ver como se fosse eterno. ]
Alberto Caeiro, in "Fragmentos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
nunca tinha percebido como o vazio era tanto. quase vergonhoso. quase assustador. quase filho da puta. quase tudo para dizer a verdade. sempre acordei todas as manhãs. todas as manhãs foram mentirosas. mentirosas umas atrás das outras. como são quase sempre os vazios que tentamos não ver. somos mestres do disfarce. o disfarce apanha-nos. pode acontecer que esse apanhar surja numa manhã e de repente fiquemos sujos. sujos como são esses esgotos. esgotos entupidos, por mais que esses tubos sejam de ouro.
nunca tinha percebido como o vazio era tanto. como se tornara enorme. tão enorme e monstruoso. uma anaconda mastigando as entranhas da alma e dejectando no corpo. o amor. isso foi tudo uma mentira. uma mentira profunda nunca assumida. nunca houve. o que houve foi nada. nenhuma flor nasceu aos pés desta criança. todos os afagos foram roubados.
NãoSouEuéaOutra in « A Orgia Morta »
« só quis ver como se fosse eterno »
A Diva 6
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in A Diva , Arte , As Palavras , Cinema , Consciência , Escrita Criativa , Força , Imaginação , Momentos , Monólogos , Monólogos Dramáticos , Solidão , Tempo | Posted on 18:06
Suspiro profundo:
- Vejam-me demorando por aí.
- Salto fundo. É um poço.
- Tem fundo. Como tudo tem fundo.
- Claramente, como todos os sóis estão ali…
- Sim, ali no Universo.
- Demoro muito. O trabalho é intenso.
- Intenso como é todo o acaso.
- É moroso, exige provas de força.
- Força não é qualquer coisa. É uma atitude.
- Atitude acaba sendo a aliada. Ela vem por clareza.
- Clareza não está em todas as coisas. A clareza escolhe-nos.
- Escolhe-nos como a flor existe na terra. Nunca somos nós que decidimos.
- Um dia, quando sempre fomos burros, ela chega e abre-se.
- Abre-se a caixa que fechava o interruptor que nos faz ligar a lâmpada.
- Sem se perceber… nem um pouco sequer, encontramos o destino.
- O destino nos olha e dá-nos a verdadeira missão.
- Há quem espere metade de um século. Há quem nunca espere e se vai sem saber sequer.
- Acendeu-se a lâmpada, acendeu-se o destino, acendeu-se tudo para sempre.
- Se choro, talvez. Muito. Há preços que chegam assim. Há preço para tudo.
- A vida é tão curta. Curtíssima. Tão curtíssima como esta escrita – monólogo.
NãoSouEuéaOutra in « Sei lá, é assim as coisas! »
A Diva 5
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in A Diva , Amor , As Palavras , Cinema , Corpo Mulher , Curtas e Rápidas , Diários de Passeios , Fantasia , Imaginação | Posted on 20:15
Fotograma «Shanghai Express»
Soube, como sempre soube todas as outras. Soube que iria mudar como a Serpente. Soube que subiria ao cume do mais alto rochedo, da mais alta árvore do mundo, e de lá, tal como a Águia, me transmutaria e ergueria para uma nova vida. Iria experienciar o verdadeiro nascimento da voz. A verdadeira voz. A verdadeira!!
Sei-lo. Vocalizo estranhamente! Esta diferença é o meu demónio, porque deus em mim é simples.
Um dia, alguém, disse-me que «Num passado, cuja memória não sei, roubaram-te a voz e violaram-na. Encharcaram-te com o pior da emoção. No fundo do fundo, o teu magma terra numa ebulição gigantesca se trancou. Infeliz e sombrio. Mas, ouvi mais, que por existir a Eternidade, nunca a prisão durará! Não o suficiente para o teu inimigo rir de ti. Só se rouba a voz uma vez e, uma vez roubada, volta-se a encontrá-la. Há destinos que não têm número na porta! O teu verdadeiro destino não pertence ao homem, mas sim à inexorável vida. Ao verdadeiro Ópio da Vida, o AMOR!!!»
NãoSouEuéaOutra in «As Divas»
A Diva 4
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in A Diva , Amor , Arte , Cinema , Corpo Mulher , Eterno Feminino , Ilustração , Imaginação , Monólogos , Paixão , Sombra | Posted on 19:27
'' My Vision of Herpburn (design) ''
« Porque ocultar o meu desejo de ti. Venero a tua beleza, a tua elegância, a tua educação. Venero como quem venera todas as primaveras da vida.
Quem não crê na veneração, poderá (?) achar-me a Louca das Loucas. Venerar não é para todos, dizem. Por dizerem, dizem que: Venerar é penetrar no mistério da boca, é nadar nessa eternidade fecunda. Então, direi que, a imagem da veneração é perpétua em ti.
Confesso – não tendo religião, mas tendo o ópio da vida – que aquilo que venero, é tão pouco em comparação à veneração que a vida tem por ti. »
NãoSouEuéaOutra in «As Divas»
A Diva 3
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in A Diva , As Palavras , Cinema , Divas , Fémea , Imaginação , Pensamentos Rápidos , Sexo , Sombra | Posted on 19:01
Aprendi a não ter alma, em especial a feminina. Nestas coisas não se pode ter alma, embora me vejam de lábios pintados, eyeliner nas pálpebras e rimel nas pestanas; tudo não passa de um jogo que favorece os interesses do jogo. Dizem que uma va - gina compra tudo, então, aproveito a vantagem.
'' Killing me softly, baby! '', no fundo é esta a verdade!! Meu caixão já está construído!!
NãoSouEuéaOutra in « As Divas »
A Diva 2
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in A Diva , Amor , Arte , As Palavras , Cinema , Corpo Mulher , Fémea , Imaginação , Lilith , Paixão | Posted on 05:54
Dissera-lhe que tinha os olhos demasiado grandes. Olhos como aqueles, tinham fome do mundo e ele era apenas uma pessoa no vasto universo que ela aspirava. Pediu-lhe desculpa por não ser o mundo inteiro. Despediu-se e foi aprender a amar quem poderia amar e deixar-se ser amado!
O que ele nunca soube e nunca poderia confessar, é que o amava desde sempre e que o mundo era um vasto deserto na sua alma. Uma pessoa tão convencida do seu sentimento nunca poderia aceitar uma, tão simples, verdade como a sua.
NãoSouEuéaOutra in « As Divas »
A Beduína
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in As Palavras , Beduína , Corpo Mulher , Deserto , Fantasia , Feminino , Solidão , Sombra , Tempo | Posted on 20:00
Zach Dischner
(source)
Sou uma Beduína Nómada. Sou antiquíssima. Continuo a percorrer os desertos. Sou uma Filha do Deserto e já vos disse centenas de vezes e vocês teimam em não me ouvir. Fui criada por entre ventanias de areias; clarões de luzes; sol a queimar a pele. Comi pasto não sendo vaca e nem boi, muito menos cabra. A vida sedentária não me fascina. Sou um espírito livre que navega pelos desertos, cuja alma se prende à intemporalidade dos dias e das noites. Tenho o privilégio de ser visitada pelas estrelas, de ser chamada à realidade adormecida. Doloroso é o despertar das trevas, e esperto, tem sido o (D)iabo que vive nas unhas dos meus pés, e há dias descobri que até faz cama nas minhas pestanas!! Ele precisa de controlar o que os meus olhos, tão cheios de deserto, andam a ver.
Não vos pertenço, oh (i)indivíduos medíocres! – digo-o muitas vezes num assombro de descontentamento.
Fiz-me sozinha, nas longas e árduas caminhadas pelas areias do deserto. O Oriente Médio pertence-me ao coração, dele me fiz e nele morri. Não me faço na religião, porque a minha religião é e pertence ao deserto. Sou uma solitária do caminho que não apela à vulgaridade e ao parecer. Fiz-me com o sangue das Serpentes; arranquei-me a mim mesma com as mandíbulas de Pantera; esperei como a Hiena pelos meus demónios e tive a coragem de ser Águia, apenas, para poder ver-me como um Deus de mim mesma (ainda que me tenham cortado meia asa).
Eu sou a Beduína. Nómada, sim. Se preferirem, podem chamar-me de Flor do Deserto, apenas para vos temperar o amargo da boca.
Não vos pertenço, oh (i)indivíduos medíocres! – digo-o muitas vezes num assombro de descontentamento.
Fiz-me sozinha, nas longas e árduas caminhadas pelas areias do deserto. O Oriente Médio pertence-me ao coração, dele me fiz e nele morri. Não me faço na religião, porque a minha religião é e pertence ao deserto. Sou uma solitária do caminho que não apela à vulgaridade e ao parecer. Fiz-me com o sangue das Serpentes; arranquei-me a mim mesma com as mandíbulas de Pantera; esperei como a Hiena pelos meus demónios e tive a coragem de ser Águia, apenas, para poder ver-me como um Deus de mim mesma (ainda que me tenham cortado meia asa).
Eu sou a Beduína. Nómada, sim. Se preferirem, podem chamar-me de Flor do Deserto, apenas para vos temperar o amargo da boca.
NãoSouEuéaOutra in '' A Beduína ''
« Ele disse-me que gostava dela. Eu disse-lhe que a amava! Desde sempre a Amei. Amei a Greta Garbo.
O que nunca lhe disse, é que precisei de amá-la. Muito. Tanto e demais para sobreviver na própria tela da vida! »
NãoSouEuéaOutra in «As Divas»
Depri midas
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Amo-te NãoSouEuéaOutra , As Palavras , Corpo Mulher , Crónicas Curtas , Gatas Borralheiras , Monólogos Dramáticos , Mulher , Pelos Meus Olhos , Sarcasmo , Sombra , Suicídio | Posted on 18:44
(source)
Era uma vez uma história. A história da menina com meninas deprimidas. Reza assim a dita malograda história: « um dia a menina fechou os olhos às meninas e colou as suas bocas, tapou os seus ouvidos e, por fim, atou as mãos atrás das costas em cada uma delas e afastou-as de forma a não se tocarem. Muito caladinha e tão caladinha sentou-se algures, bem longe delas e começou a pensar. Pensou pela primeira vez. Depois de muito pensar, e, pensar oferece muito trabalho, buscou uma folha muito preta, tão preta que se caísse uma fagulha branca denunciava-se de imediato, e com um lápis de ponta branca escreveu a palavra ''deprimidas''. Ficou por muito tempo olhando aquelas letras brancas mergulhadas na imensidão do negro. Passaram-se tempos e tempos e, subdividiu as palavras. Resultou algo como: Depri - Midas.
Algo aconteceu! Eurekaaaaa!
Acendeu-se uma luz estranha nos recantos escondidos do seu cérebro e percebeu que tinha comido um certo Rei Midas. Aquelas meninas deprimidas tão barulhentas eram o corpo inteiro e a alma do Rei Midas. »
NãoSouEuéaOutra in « desta vez não me fujo! »
Put(a)Santa
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Amo-te NãoSouEuéaOutra , As Palavras , Auto-Consciência , Consciência , Corpo Mulher , Crónicas Curtas , Curtas e Rápidas , Escrita Criativa , Eterno Feminino , Monólogos , Mulher | Posted on 19:23
Sou uma Mulher do Deserto. Uma Mulher esguia e pálida rosada; longos cílios e cabelos. Apetece-me chorar, a rodos. Não sei bem o que chorar! Apetece-me chorar por tudo. Sou uma Mulher. Uma Senhorinha, putinha - santinha o quanto baste! Não me esqueço, do Deserto. Dizem que cheiro a Flor de Enxofre. Sou esta Vestal de Ocre. As Serpentes enchem-me o corpo, dançam-me e seus olhos fosforescentes cospem-me amor, amor e amor.
NãoSouEuéaOutra in «caio em mim»
Who Am I
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Amo-te NãoSouEuéaOutra , Corpo Mulher , Fotografias , Pelos Meus Olhos , Pensamentos Rápidos | Posted on 17:00
Blackout
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Figuras de Estilo , Filosofias de Errar , Monólogos Dramáticos , Não Violência , Os Dias de Perdição , Pensamento , Poesia , Poesia Maldita , Sombra | Posted on 14:23
Oh oh Irmão Irmão
ELES conspurcaram!!!!
Conspurcaram tanto
Que não há memória
E nem tela tão forte
Que aguente com uma pincelada!!
Oh oh Irmão Irmão
Diz-me quem vai pagar os pecados?
- Monsenhor, há pouco, pediu que o mastigassem.
Foi uma criança ao quarto.
Entende o meu problema?
NãoSouEuéaOutra in '' vide a não pureza ''
Nisto, Zaratustra, que assim falou e alguém escreveu, resolveu aparecer em livro e assim li:
» Estou sentado diante do portal, à disposição de todos os burlões e pergunto:''Quem me quer enganar?''
» Esta é a minha primeira astúcia humana: deixo-me enganar para não ter de me acautelar dos impostores.
DICIONÁRIO
impostor | adj. s. m.
impostor |ô|
(latim impostor, -oris)
adj. s. m.
1. Que ou aquele que diz ou faz imposturas. = EMBUSTEIRO, MENTIROSO, TRAPACEIRO ≠ HONESTO, HONRADO, LEAL
2. Que ou aquele que não demonstra os seus sentimentos. = FALSO, FINGIDO, HIPÓCRITA ≠ VERDADEIRO
3. Que ou aquele que se acha superior. = CONVENCIDO, VAIDOSO
4. Que ou aquele que se faz passar por outro. = CHARLATÃO
5. Que ou aquele que propaga falsas doutrinas.
burla | s. f.
burla
s. f.
1. Engano fraudulento.
2. Escárnio.
Confrontar: borla.
burlar - Conjugar
v. tr.
1. Enganar com burla.
2. Escarnecer.
3. Motejar de.
burlador |ô|
adj. s. m.
1. Que ou aquele que pratica burla, trapaceiro.
2. Trampolineiro.
conspurcar | v. tr.
conspurcar - Conjugar
v. tr.
1. Cobrir de imundície nojenta.
2. [Figurado] Ultrajar com insulto aviltante.
3. Corromper.
4. Depravar, macular.
pecado | s. m.
pecado
s. m.
1. Transgressão de preceito religioso.
2. Vício.
3. Culpa, falta.
4. [Informal] Demónio.
[Religião] pecado actual: o que é feito pelo indivíduo (em oposição a original).
[Religião] pecado de carne: pecado sensual.
[Religião] pecado habitual: o que macula a consciência até ser perdoado.
[Religião] pecado mortal: o que leva ao Inferno se não é confessado.
[Religião] pecado original: o herdado de Adão.
pecados velhos: pecados cometidos há muito tempo.
[Figurado] Coisa já esquecida e de que se não deve falar.
[Religião] pecado venial: pecado leve que leva ao Purgatório se não é confessado.
por meus pecados: para meu castigo.
Confrontar: pesado.
pecar - Conjugar
v. intr.
1. Cometer pecados.
2. Errar.
3. Tornar-se peco.
Confrontar: pesar.
monsenhor | s. m.
monsenhor |ô|
s. m.
1. Título honorífico concedido pelo papa a alguns sacerdotes.
2. Título honorífico de alguns príncipes.
3. [Brasil] Crisântemo.
Monsenhor é um título eclesiástico honorifico conferido aos sacerdotes da Igreja Católica pelo Papa. A palavra tem origem francesa e, em português, pode ser abreviada como Mons.
Apesar de somente o Papa conferir o título de Monsenhor, ele o faz a pedido do bispo diocesano por meio da Nunciatura Apostólica. O número máximo de monsenhores de uma diocese não pode, normalmente, ultrapassar 10% do total de sacerdotes. O Monsenhor não tem uma autoridade canônica maior que a de qualquer padre, uma vez que a nomeação não implica num sacramento da ordem. Assim o monsenhor só se distingue de um padre comum pelo título. Os padres que serão sagrados bispos recebem automaticamente o título de monsenhor. (source)
Inside off
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Crónicas Curtas , Curtas e Rápidas , Estados de Espírito , Pensamento , Tempo | Posted on 17:46
- NÃO SEI MAIS O QUE O OUTRO LADO ESTÁ FAZENDO. Parece uma pizza torta com problemas de se endireitar. Não sei se as pizzas pensam; sei sim que, eu penso muito nas massas, e acima de tudo no tipo de farinha.
NãoSouEuéaOutra in '' queda para observar a farinha ''
Sou Lilith - Joumana Haddad
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Corpo Mulher , Eterno Feminino , Fémea , Feminino , Força , Joumana Haddad , Lilith , Mulher , Paixão , Puta , Saúde Feminina , Sexo , Sexualidade , Sombra , Tempo , Tratar o Corpo | Posted on 07:09
O REGRESSO DE LILITH
(excertos)
Joumana Haddad
Eu sou Lilith, a deusa das duas noites, que regressa do exílio. Sou Lilith, a mulher-destino. Nenhum macho pode escapar à minha sorte, e nenhum macho lhe quererá escapar.
Eu sou as duas luas Lilith. A negra é complementada pela branca, pois a minha pureza é a centelha do deboche e minha abstinência, o princípio do possível. Eu sou a mulher-paraíso, que caiu do paraíso, sou a arrasa-paraísos.
Sou a virgem, rosto invisível da devassa, a mãe-amante e a mulher-homem. A noite porque eu sou o dia, o lado direito porque sou o lado esquerdo, e o Sul porque sou o Norte.
Eu sou Lilith dos seios brancos. Irresistível é o meu encanto, pois os meus cabelos são negros e longos e de mel os meus olhos. Diz a lenda que fui criada a partir da Terra para ser a primeira mulher de Adão, mas não me submeti.
Sou a mulher-festa e os convidados da festa. Feiticeira alada da noite é o meu apelido, e sou deusa da tentação e desejo. Chamaram-me patrona do prazer gratuito e da masturbação, liberta da condição de mãe para ser o destino imortal.
Eu sou Lilith, que retorna da masmorra do esquecimento branco, leoa do senhor e deusa das duas noites. Recolho na minha taça o que não pode ser recolhido, e bebo-o pois sou a sacerdotisa e o templo. Esgoto todas as intoxicações para que não acreditem que eu posso beber. Faço amor comigo mesma e e reproduzo-me para criar um povo da minha linhhagem, depois mato os meus amantes para dar espaço àqueles que ainda não me conheceram.
Regresso do calabouço do esquecimento branco para quem ainda me não conhece, volto para marcar lugar e para que não creiam que eu posso beber, da brancura do esquecimento para enraizar a vida e para que o número cresça, para matar os meus amantes eu regresso.
Eu sou Lilith, a mulher-floresta. Não vivi uma espera desejável, mas sofri os leões e as espécies puras de monstros. Fecundo todas as minhas costas para construir a história. Agrego as vozes nas minhas entranhas para que o número de escravos esteja completo. Como o meu próprio corpo para que me não tratem como faminta e bebo a minha água para nunca sofrer a sede. As minhas tranças são longas no inverno, e as minhas malas não têm tecto. Nada me satisfaz, nem me sacia, e eis que regresso para ser a rainha dos perdidos no mundo.
Sou a guardiã do bem e do encontro dos opostos. Os beijos no meu corpo são as feridas de quem tentou. Da flauta das duas coxas sobe o meu canto, e do meu canto a maldição espalha-se em água sobre a terra.
Sou Lilith, a leoa sedutora. Mão de cada servidor, janela de cada virgem. Anjo da queda e consciência do sono leve. Filha de Dalila, Maria Madalena e das sete fadas. Nenhum antídoto para a minha condenação. Da minha luxúria, erguem-se as montanhas e abrem-se os rios. Venho de novo para furar com as minhas ondas o véu do pudor, e para limpar as feridas da falta com o perfume do deboche.
Da flauta das duas coxas sobe o meu canto
E da minha luxúria abrem-se os rios.
Como não poderia haver uma maré
de cada vez que entre os meus verticais lábios brilha um sorriso?
Porque eu sou a primeiro e a última
A cortesã virgem
O medo cobiçado
A adorada desprezada
E a velada desnuda
Porque eu sou a maldição do que precede,
O pecado desaparecido dos desertos quando abandonei Adão.
Ele andou aqui e ali, quebrou a sua perfeição.
Desci-o à terra e acendi para ele a flor da figueira.
Eu sou Lilith, o segredo dos dedos que insistem. Quebro caminhos divulgo sonhos rebento as cidades do macho com o meu dilúvio. Não reuno dois de cada espécie na minha arca Em vez disso, volto a eles, para que o sexo se purifique de toda a pureza.
Eu, versículo da maçã, os livros escreveram-me, ainda que não me tenham lido. Prazer desenfreado esposa rebelde o cumprimento da luxúria que leva à ruína total. Na loucura se entreabre a minha camisa. Os que me escutam merecem morrer, e aqueles que me não escutam morrerão de despeito.
Eu não sou nem a rebelde nem a égua fácil.
Antes o desvanecer do pesar último.
Eu Lilith o anjo devasso. Primeira fuga de Adão e corrompidora de Satanás. O imaginário do sexo reprimido e o seu mais alto grito. Tímida pois sou a ninfa do vulcão, ciumenta pela doce obsessão do vício. O primeiro paraíso não pôde suportar-me. E caçaram-me para que eu semeie a discórdia na terra, para que governe nos leitos os assuntos dos meus sujeitos.
Sorte dos conhecedores e deusa das duas noites. União do sono e do despertar. Eu, o feto-poetisa, ao perder-me ganhei a vida. Regresso do meu exílio para ser a esposa dos sete dias e as cinzas do amanhã.
Eu sou a leoa sedutora e volto para cobrir as submissas de vergonha e para reinar sobre a terra. Venho para curar a costela de Adão e liberar cada homem da sua Eva.
Sou Lilith
Regresso do meu exílio
Para herdar a morte da mãe a que dei vida.
Joumana Haddad
(Traduzido do francês por Mariana Inverno)
(Source)
Fuck You, Too, Not God
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Desamor , Diálogos , Fuck You , Momentos , Não Violência , Tempo , Tristeza , Vida | Posted on 05:14
Fotograma via '' Vem Cá Luísa ''
- Porque é que aqueles que mais amamos, são aqueles que mais nos magoam?
- Exactamente por isso mesmo!
- Não compreendo?
- Porque amas. Caso contrário, nada sentirias.
NãoSouEuéaOutra in '' Mazelas do Falso Amor ''
Queria, querendo-me
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Corpo Mulher , Crónicas Curtas , Curtas e Rápidas , Diálogos , Monólogos Dramáticos , Pensamentos Rápidos , Quando Uma Doida Fica Mesmo Louca | Posted on 06:07
Queria enroscar-me. Inteira e livre em ti. Enroscar-me serena e selvagem. Queria-te toda em mim, sendo acrobata e contorcionista em todos os tendões, músculos, ligamentos, veias... ossos. Inteira em mim, possuindo-me totalmente. Queria-me Serpente! Sou serpente. Meu nome. Serpente. Amo-te mais que ontem. Sem Medo, meu amor!
NãoSouEuéaOutra in « No Caminho da Serpente, Saturno cantando »
Rápidas e Frescas
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Amor , As Palavras , Critica , Crónicas Curtas , Curtas e Rápidas , Romances , Traições , Tristeza | Posted on 05:29
- Não sei porque pensas assim? Cruzes!! - digo-o para os meus singelos botões. -
- Sim, amei-te mal e por isso nem sabes quantos calos nasceram na base do pé. Minha espinha dorsal dobra-se tanto, que... bem!! sim, consigo roer os calos. Infelizmente com esta total acrobacia não consigo roer a falta de jeito para te amar.
- Sim, amei-te mal e por isso nem sabes quantos calos nasceram na base do pé. Minha espinha dorsal dobra-se tanto, que... bem!! sim, consigo roer os calos. Infelizmente com esta total acrobacia não consigo roer a falta de jeito para te amar.
NãoSouEuéaOutra in « Feitas de Cabeça Branca »
Sexo Próprio
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Curtas e Rápidas , Gatas | Posted on 22:59
''Tenho INVEJA das GATAS, em causa está a sua grande elasticidade corporal para poderem LAMBER as suas VAGINAS...''
- quem tem gatos/felinos poderá observar o envolvimento deles com eles próprios. -
Camille Claudel forçada à loucura
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Camille Claudel | Posted on 19:36
(...) a visão da superfície, é apenas ácido atirado aos olhos, para não se ver o fundo. no fundo reside a verdadeira intenção do jogo de cada um. há quem tem acesso, e pela má intenção, conspurca a possibilidade de alguém poder voar. quem gosta de ser chamado de ganancioso? para um ganancioso sobreviver e vencer é preciso matar aquelas asas. e por isso morre alguém ingratamente, porque dois não podem voar! isto, que aqui acabei de escrever, está escrito na lápide de pedra do velho mundo castrador , ditado por homens e suas leis e moralidades. (...)
« há pessoas (rodin) com capacidade de arrancar das entranhas (camille) o poder da alma e entregar o corpo ao desbarato. alma vampirizada, ainda que extasiada de amor, que por certo teve um fio condutor que soube ser utilizado de forma invertida ( por rodin), apaga qualquer pessoa (camille) por mais inteligente e genial que seja. o que de facto incomodava nessa jovem mulher? o ferver de um génio oculto, ou o facto de ser Mulher, tendo em conta a época!?? é preciso avançar mais sobre esse paradigma chamado Camille Claudel, para lá da suposta loucura. »
« deve-se ultrapassar a pessoa de rodin, e perceber a intenção certeira do seu desejo e, a capacidade de destruição com algum egoísmo! nele habitava um génio de ganancia, também! não teria rodin, querido toda a projecção sobre ele? a obra toda para ele? paul, irmão daquela, camille, não teria também um papel excessivamente rudimentar, como pessoa básica/humana? um génio feminino, no seio de uma época essencialmente conservadora, dominada pelo patriarcal... seria normal (?), uma mulher, exigir o amor, ser uma força no panorama social através da sua obra e só por si mesma? vale apena pensar, antes de dizer que: enlouqueceu por amor, camille claudel!! »
NãoSouEuéaOutra in «divagações perante mulheres que poderiam ser mais que os homens que ''as amaram'' e elas amaram, e, que lhes roubaram o sopro...»
A Meditar
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Afonso Cautela | Posted on 20:35
Pensamentos de Afonso Cautela recolhidos por mim
(...)Depois há aqueles livros(...) que têm alguns grãos de sabedoria aproveitáveis mas perdidos, misturados num monte de retórica e de superfluidades.
O prolixo (que se pode ler pró-lixo) também ocorre com uma grande frequência.
(...) Muita parra e pouca uva. Longos e chatos, é o que é.
Francamente: há formas mais honestas de nos esportularem dinheiro mas principalmente de nos espoliarem daquilo que (...) nos é mais precioso: o tempo (cronos) que não podemos perder no trabalho para a eternidade.
Os devoradores de Cronos são, de facto, verdadeiros assassinos de almas.(...)
O prolixo (que se pode ler pró-lixo) também ocorre com uma grande frequência.
(...) Muita parra e pouca uva. Longos e chatos, é o que é.
Francamente: há formas mais honestas de nos esportularem dinheiro mas principalmente de nos espoliarem daquilo que (...) nos é mais precioso: o tempo (cronos) que não podemos perder no trabalho para a eternidade.
Os devoradores de Cronos são, de facto, verdadeiros assassinos de almas.(...)
(...) É claro que não se chega a Deus pela leitura. Mas talvez se possa chegar pela desleitura ou seja, sabendo, de todo, o que não vale a pena ler. E quais são afinal os 100 volumes que, na Biblioteca de Alexandria, transmitiam ao futuro a sabedora por inteiro.
Para já e enquanto não reconstituímos a Biblioteca de Alexandria, vamos vendo e sabendo e comunicando uns aos outros, o que não vale a pena ler.
O que não vale a pena perder cronos a ler. (...)
(...) Se não vamos a Deus pelos livros, pelos livros de ciência e pela tecnologia é que decididamente só iremos, como fomos sempre e continuamos indo, aos quintos dos infernos. (...)
(...) Os seres humanos foram sempre oprimidos por 3 instituições: Igreja, Estado, Exército. Mas acima dessas todas e a todas dando alento, a Universidade é quem tudo pode e quem forma e diploma todos os poderes.
(...) além do mais, um dever de humanidade de cada ser humano com outros seres humanos seus companheiros de infortúnio. Aqueles que para falarem com outro ser humano não lhe perguntam primeiro qual é a sua formação académica...
Um dever que implica cortar de vez o cordão umbilical que cria, sustenta, multiplica, amplia e lança sobre os seres humanos, oprimidos, as 4 instituições opressoras por excelência do famigerado Mundo Moderno. (...)
(...) o primeiro dever de um verdadeiro anarquista. Um verdadeiro anarquista não deverá nem poderá ceder um milímetro às ciências e aos poderes profanos.
Porque é de servir a deus, ao sagrado e ao espírito que se trata. E o mais depressa possível, como explica Roger Garaudy.(...)
Para já e enquanto não reconstituímos a Biblioteca de Alexandria, vamos vendo e sabendo e comunicando uns aos outros, o que não vale a pena ler.
O que não vale a pena perder cronos a ler. (...)
(...) Se não vamos a Deus pelos livros, pelos livros de ciência e pela tecnologia é que decididamente só iremos, como fomos sempre e continuamos indo, aos quintos dos infernos. (...)
(...) Os seres humanos foram sempre oprimidos por 3 instituições: Igreja, Estado, Exército. Mas acima dessas todas e a todas dando alento, a Universidade é quem tudo pode e quem forma e diploma todos os poderes.
(...) além do mais, um dever de humanidade de cada ser humano com outros seres humanos seus companheiros de infortúnio. Aqueles que para falarem com outro ser humano não lhe perguntam primeiro qual é a sua formação académica...
Um dever que implica cortar de vez o cordão umbilical que cria, sustenta, multiplica, amplia e lança sobre os seres humanos, oprimidos, as 4 instituições opressoras por excelência do famigerado Mundo Moderno. (...)
(...) o primeiro dever de um verdadeiro anarquista. Um verdadeiro anarquista não deverá nem poderá ceder um milímetro às ciências e aos poderes profanos.
Porque é de servir a deus, ao sagrado e ao espírito que se trata. E o mais depressa possível, como explica Roger Garaudy.(...)
Gandhi e a Não Violência
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Afonso Cautela , Gandhi , Mahatma Gandhi , Não Violência | Posted on 19:41
(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas, foi publicado com este título e ainda bem (oxalá possa publicá-lo mais vezes) na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 4-2-1984
A não violência praticada por Gandhi e o ódio de classes teorizado por Marx são opostos irredutíveis. Dois proveitos não cabem no mesmo saco. Nem mesmo a tolerância dialéctica yin-yang, aprendida dos taoístas, tolerância que é costume invocar quando se quer misturar a água e o fogo, autoriza a meter estes dois contrários absolutos no mesmo pote.
Só os contrários relativos ou complementares entram no jogo taoísta do Yin-yang . E de pouco serve querer conciliar o Satã contemporâneo, o Anti-Cristo da violência erigida em religião, com o Deus das bem aventuranças salvíficas.
Ainda que - como rezam as Escrituras - o Diabo seja um Anjo caído e um filho de Deus não reconhecido pelo pai.
Para nos safar do beco contemporâneo - cuja única saída é o holocausto nuclear - teremos de reaprender sem dúvida, e rapidamente, a jogar o yin-yang, desportivamente encarar o inimigo como um adversário de ping-pong, Mas a condição prévia dessa iniciação no yin-yang é não invocar o seu santo nome em vão, nem admitir em seu nome tudo quanto o destroi.
SACO DE GATOS
Posto isto, as greves da fome - técnica não violenta - para impor posições violentas de ideologias baseadas no ódio e na luta de classes, que se perpetuaria até à ditadura de uma delas, entram em contradição não dialéctica.
Como travestis se devem encarar, igualmente, os belicismos que dizem defender a paz, a luta de classes que apela ao pacto social, os ecologistas que postulam a revolução por meios violentos e outras oposições irredutíveis que se passeiam calmamente em nome do Tao supremo ou mesmo do supremo Mao, seu herdeiro moderno e que consultava o I-Ching como oráculo nos momentos críticos da governação.
"Sobre a Contradição ", do filósofo Mao Tsé Tung, é um texto de leitura aconselhável e que poderia, se praticado, salvar muitas vidas que a luta de classes continua ceifando. Podia também evitar os espectáculos naturalmente chocantes, os travestis da paz, da liberdade, da vida, estes últimos a defenderem agora, à uma, o aborto como supina moral da indecência e da morte. Macaca.
CONTAGEM DECRESCENTE
"A vida e a verdade é que são as verdadeiras forças".
Máximas gandhianas como esta convidam à reviravolta de 180 graus num sistema baseado em princípios antiteticamente e simetricamente opostos.
E suscitam a geral hilariedade, naturalmente. A moral hoje tornou-se ridícula. Só que o espectáculo "is over", com a bomba à vista. Começou a contagem decrescente para a deflagrar na derradeira catástrofe que o homem se permitirá sobre o Planeta Terra.
Aí, os que se riram da pobreza gandhiana e da pobreza franciscana sua ancestra, já só vão rir amarelo. Mas são eles, tefe-tefe, os primeiros a recear o holocausto atómico, a encomendar o abrigo nuclear, a profetizar que mais de metade da humanidade irá para o galheiro à primeira deflagração de mísseis bons. (E a outra metade, chucha no dedo?).
O medinho de morrer, aí, à Gerontocracia contemporânea, já não lhe parece ridículo. Mas os abrigos anti-atómicos, então, o que são? Como verão hoje esses compradores de abrigos as máximas gandhianas da não violência? Perceberão ao menos a estreita relação de causa e efeito?
Os valores morais da não violência (única Ética hoje possível) atrofiam-se e ninguém acredita que o imponderável do espírito tenha peso no meio da truculência e da violência instaladas. À santíssima trindade - liberdade, igualdade e fraternidade - faltou apenas o golpe de asa: a Tolerância dialéctica yin-yang. E falta. Mas até quando, face à contagem decrescente para o abismo?
PACIÊNCIA EVANGÉLICA
Os gandhianos, no entanto, insistem com paciência evangélica, em fazer a revolução por dentro. E têm cada vez mais razão quando denunciam o fascismo latente de todas as revoluções feitas por fora.
Sabem que é um longo trabalho de paciência, mas se forem muitos a ajudar... Estamos quase no zero da contagem decrescente, quem se filia na Arca?
"Há outras forças além da força armada - disse-nos Parodi, sucessor de Lanza del Vasto na Comunidade da Arca - a vida é uma força, a união dos homens, o trabalho, a verdade também são forças construtivas. "
E concretiza, como La Palisse: " Não se pode construir nada com a força das armas."
Igualmente olhado com um sorriso trocista, que ainda não era amarelo, o jejum praticado por monges budistas, durante a guerra do Vietname, chegava ao Ocidente super-star (através
das endiabradas agências noticiosas) com ar de exotismo execrável.
Quando os violentos guerrilheiros de Esquerda revolucionária adoptaram na Europa (na Irlanda, por exemplo) a "greve da fome" como forma de pressão sobre o Estado - que incarna a excelência fascista em todas as épocas e lugares - as coisas mudaram de figura.
Afinal, jejuar à Gandhi já não era uma mania mística: era uma forma de luta e podia inscrever-se nas alíneas de um caderno reivindicativo, perfeitamente enquadrado na dialéctica da luta de classes.
Quem terá de engolir mais este sapo vivo, quer dizer, mais este paradoxo?
É preciso um espírito aberto e sem preconceitos raciais para olhar as tácticas da luta não violenta sem um riso de comiseração. É preciso saber que estamos a contar para o zero final. É preciso a noção vivida do simples, do pobre e (agora tanto em voga) do "small is beautiful" como valores humanos fundamentais, base de qualquer Declaração de Direitos.
É preciso , em suma, o inverso das ideologias violentas, a Leste ou e a Oeste, fazer stop neste «continuum» ou «perpetum mobile" até ao holocausto final. É preciso, para levar a sério os conselhos tácticos da não violência, acreditar mais na lei da causalidade cármica do que na lei da identidade lógica.
Como escreveu Helena Santos, aliada da Arca em Portugal e tradutora para português da obra de Lanza dal Vasto, "a profecia da ruína futura tem implícito um convite à conversão interior de cada homem (inteligência, coração e corpo) que é a não violência." Outros dirão sinónimos: o Princípio Único, o Tao, o yin-yang.
Esta profecia da ruína planetária, que aproxima os não violentos dos ecologistas, viu-se recentemente adoptada pelos próprios violentos de repente travestidos de pombas evangélicas e pacifistas. Anedota trágica, humor negro.
O TESOURO DOS LAMAS
Escolas de não violência , as comunidades da Arca espalhadas pelo Mundo preparam os seus aliados para acções de resistência passiva, objecção de consciência, greves da fome (a que eles preferem obviamente chamar jejuns), manifestações silenciosas, sit-ins, enfim, as várias formas que assume o combate ensinado por Gandhi e por ele praticado.
"Aprendizagem é inseparável da prática" - repete Pierre Parodi, herdeiro de Lanza del Vasto na "chefia" espiritual da Comunidade-mãe em França.
Tem de facto muito a ver com os conceitos preservados nos países do Oriente esta aliança indissolúvel da doutrina e da prática. Resta um mistério na história contemporânea a invasão sangrenta que Mao Tse Tung fez do Tibete, queimando e saqueando mosteiros da Ordem Nyingma.
Não está ainda esclarecido se o grande Estadista queria libertar os camponeses tibetanos da miséria, se queria descobrir o tesouro guardado nos subterrâneos do Himalaia, a raiz última da Sabedoria, a pedra filosofal ou, segundo outros, o Santo Graal.
O namoro que recentemente a China e a URSS têm feito ao Dalai Lama, para que ele regresse ao Tibete saqueado, faz pensar que não encontram o tesouro e querem guia.
De facto, esclerosada até aos limites do inverosímil (e agora até aos limites do suportável pelo Ecossistema Terra), a ciência enveredou no Ocidente pelo delírio teórico e, ao perder o centro de gravidade, entrou em órbita da Asneira pelo espaço astral fora. Esta perversão explica muitas , se não todas as perversões dominantes neste tempo-e-mundo (imundo) ocidental.
A unidade tão insistentemente procurada e proclamada por Lanza del Vasto é a démarche aparentemente metafísica para reencontrar o real numa civilização de fantasmas (as teorias, as ideologias, os ismos, os sistemas).
Ao falar de realismo, é às fontes do realismo e da dialéctica yin-yang (taoísmo, Zen, budismo tibetano) que o Ocidente tem de recorrer. Se tiver tempo, dada a contagem decrescente...
Gabriel Marcel atribuía os crematórios nazis ao "espírito de abstracção", hoje transformado em religião - a Tecnocracia. Quando se perde o fim e os princípios, tudo é possível. Tudo tem sido possível, soando a heresia as máximas não violentas de Gandhi.
Um personagem de Dostoievski, com certeza dos irmãos Karamazov, dizia o mesmo aludindo à morte de Deus: "Agora tudo é possível". Tem sido, e foi, até aos crematórios nazis. Mas ainda será?
PLENÁRIOS DE TRABALHADORES
Da heresia passamos ao estratosférico.
A democracia que se pratica nas comunidades da Arca, é algo que não se acreditaria neste planeta Terra.
Afirmar que nas comunidades fundadas por Lanza del Vasto, só se tomam decisões por unanimidade, pode parecer um gracejo.
Democracia, nos nossos costumes, é o governo da maioria, em nome da maioria. As minorias metem-se na ratoeira e dá-se-lhes raticida.
O "direito de minoria" é ignorado por essas democracias, por isso também alcunhadas de mediocracias. Embora seja o direito fundamental do homem - ser o que é, pensar o que pensa - , varreu-se dos nossos costumes.
Curioso mas não único paradoxo do sistema em que estamos entalados. O movimento da Arca, embora não o explore demagogicamente, na prática dá uma lição e uma bofetada com luva na fraude institucionalizada das ditaduras da maioria. Uma bofetada não violenta, claro, amigável.
Segundo Pierre Parodi, a verdadeira democracia é a que se pratica nas comunidades da Arca. Mas também reconhece que esta democracia autêntica só é possível num pequeno grupo orientado no mesmo sentido espiritual.
Os cépticos duvidarão mas os não violentos teimam: "Não há autoridade autoritária nas nossas comunidades, todos temos a responsabilidade dos nossos actos."
Se só se tomam decisões por unanimidade, os cépticos constitucionalistas dirão que na Arca não se tomam nunca decisões.
Puro engano. Numa assembleia os discordantes fazem um esforço convergente, no sentido de se aproximarem das outras posições, em vez de se encarniçarem na defesa das próprias posições."
É a dialéctica yin-yang em acção, o segredo de Polichinelo : "Cada um não defende a sua própria opinião mas pesquisa a dos outros."
E assim o dom de cada um é oferecido para o bem de todos.
E assim não é o chefe que toma decisões, mas cada um e todos.
Os adeptos da não violência não hesitam em acusar: "Somos uma sociedade de irresponsáveis.'' Salvo seja. E salvo aquele pequeno defeito já citado : temos os minutos contados.
(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas, foi publicado com este título e ainda bem (oxalá possa publicá-lo mais vezes) na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 4-2-1984
[In «Crónica do Planeta terra», «A Capital», 4-2-1984]
A não violência praticada por Gandhi e o ódio de classes teorizado por Marx são opostos irredutíveis. Dois proveitos não cabem no mesmo saco. Nem mesmo a tolerância dialéctica yin-yang, aprendida dos taoístas, tolerância que é costume invocar quando se quer misturar a água e o fogo, autoriza a meter estes dois contrários absolutos no mesmo pote.
Só os contrários relativos ou complementares entram no jogo taoísta do Yin-yang . E de pouco serve querer conciliar o Satã contemporâneo, o Anti-Cristo da violência erigida em religião, com o Deus das bem aventuranças salvíficas.
Ainda que - como rezam as Escrituras - o Diabo seja um Anjo caído e um filho de Deus não reconhecido pelo pai.
Para nos safar do beco contemporâneo - cuja única saída é o holocausto nuclear - teremos de reaprender sem dúvida, e rapidamente, a jogar o yin-yang, desportivamente encarar o inimigo como um adversário de ping-pong, Mas a condição prévia dessa iniciação no yin-yang é não invocar o seu santo nome em vão, nem admitir em seu nome tudo quanto o destroi.
SACO DE GATOS
Posto isto, as greves da fome - técnica não violenta - para impor posições violentas de ideologias baseadas no ódio e na luta de classes, que se perpetuaria até à ditadura de uma delas, entram em contradição não dialéctica.
Como travestis se devem encarar, igualmente, os belicismos que dizem defender a paz, a luta de classes que apela ao pacto social, os ecologistas que postulam a revolução por meios violentos e outras oposições irredutíveis que se passeiam calmamente em nome do Tao supremo ou mesmo do supremo Mao, seu herdeiro moderno e que consultava o I-Ching como oráculo nos momentos críticos da governação.
"Sobre a Contradição ", do filósofo Mao Tsé Tung, é um texto de leitura aconselhável e que poderia, se praticado, salvar muitas vidas que a luta de classes continua ceifando. Podia também evitar os espectáculos naturalmente chocantes, os travestis da paz, da liberdade, da vida, estes últimos a defenderem agora, à uma, o aborto como supina moral da indecência e da morte. Macaca.
CONTAGEM DECRESCENTE
"A vida e a verdade é que são as verdadeiras forças".
Máximas gandhianas como esta convidam à reviravolta de 180 graus num sistema baseado em princípios antiteticamente e simetricamente opostos.
E suscitam a geral hilariedade, naturalmente. A moral hoje tornou-se ridícula. Só que o espectáculo "is over", com a bomba à vista. Começou a contagem decrescente para a deflagrar na derradeira catástrofe que o homem se permitirá sobre o Planeta Terra.
Aí, os que se riram da pobreza gandhiana e da pobreza franciscana sua ancestra, já só vão rir amarelo. Mas são eles, tefe-tefe, os primeiros a recear o holocausto atómico, a encomendar o abrigo nuclear, a profetizar que mais de metade da humanidade irá para o galheiro à primeira deflagração de mísseis bons. (E a outra metade, chucha no dedo?).
O medinho de morrer, aí, à Gerontocracia contemporânea, já não lhe parece ridículo. Mas os abrigos anti-atómicos, então, o que são? Como verão hoje esses compradores de abrigos as máximas gandhianas da não violência? Perceberão ao menos a estreita relação de causa e efeito?
Os valores morais da não violência (única Ética hoje possível) atrofiam-se e ninguém acredita que o imponderável do espírito tenha peso no meio da truculência e da violência instaladas. À santíssima trindade - liberdade, igualdade e fraternidade - faltou apenas o golpe de asa: a Tolerância dialéctica yin-yang. E falta. Mas até quando, face à contagem decrescente para o abismo?
PACIÊNCIA EVANGÉLICA
Os gandhianos, no entanto, insistem com paciência evangélica, em fazer a revolução por dentro. E têm cada vez mais razão quando denunciam o fascismo latente de todas as revoluções feitas por fora.
Sabem que é um longo trabalho de paciência, mas se forem muitos a ajudar... Estamos quase no zero da contagem decrescente, quem se filia na Arca?
"Há outras forças além da força armada - disse-nos Parodi, sucessor de Lanza del Vasto na Comunidade da Arca - a vida é uma força, a união dos homens, o trabalho, a verdade também são forças construtivas. "
E concretiza, como La Palisse: " Não se pode construir nada com a força das armas."
Igualmente olhado com um sorriso trocista, que ainda não era amarelo, o jejum praticado por monges budistas, durante a guerra do Vietname, chegava ao Ocidente super-star (através
das endiabradas agências noticiosas) com ar de exotismo execrável.
Quando os violentos guerrilheiros de Esquerda revolucionária adoptaram na Europa (na Irlanda, por exemplo) a "greve da fome" como forma de pressão sobre o Estado - que incarna a excelência fascista em todas as épocas e lugares - as coisas mudaram de figura.
Afinal, jejuar à Gandhi já não era uma mania mística: era uma forma de luta e podia inscrever-se nas alíneas de um caderno reivindicativo, perfeitamente enquadrado na dialéctica da luta de classes.
Quem terá de engolir mais este sapo vivo, quer dizer, mais este paradoxo?
É preciso um espírito aberto e sem preconceitos raciais para olhar as tácticas da luta não violenta sem um riso de comiseração. É preciso saber que estamos a contar para o zero final. É preciso a noção vivida do simples, do pobre e (agora tanto em voga) do "small is beautiful" como valores humanos fundamentais, base de qualquer Declaração de Direitos.
É preciso , em suma, o inverso das ideologias violentas, a Leste ou e a Oeste, fazer stop neste «continuum» ou «perpetum mobile" até ao holocausto final. É preciso, para levar a sério os conselhos tácticos da não violência, acreditar mais na lei da causalidade cármica do que na lei da identidade lógica.
Como escreveu Helena Santos, aliada da Arca em Portugal e tradutora para português da obra de Lanza dal Vasto, "a profecia da ruína futura tem implícito um convite à conversão interior de cada homem (inteligência, coração e corpo) que é a não violência." Outros dirão sinónimos: o Princípio Único, o Tao, o yin-yang.
Esta profecia da ruína planetária, que aproxima os não violentos dos ecologistas, viu-se recentemente adoptada pelos próprios violentos de repente travestidos de pombas evangélicas e pacifistas. Anedota trágica, humor negro.
O TESOURO DOS LAMAS
Escolas de não violência , as comunidades da Arca espalhadas pelo Mundo preparam os seus aliados para acções de resistência passiva, objecção de consciência, greves da fome (a que eles preferem obviamente chamar jejuns), manifestações silenciosas, sit-ins, enfim, as várias formas que assume o combate ensinado por Gandhi e por ele praticado.
"Aprendizagem é inseparável da prática" - repete Pierre Parodi, herdeiro de Lanza del Vasto na "chefia" espiritual da Comunidade-mãe em França.
Tem de facto muito a ver com os conceitos preservados nos países do Oriente esta aliança indissolúvel da doutrina e da prática. Resta um mistério na história contemporânea a invasão sangrenta que Mao Tse Tung fez do Tibete, queimando e saqueando mosteiros da Ordem Nyingma.
Não está ainda esclarecido se o grande Estadista queria libertar os camponeses tibetanos da miséria, se queria descobrir o tesouro guardado nos subterrâneos do Himalaia, a raiz última da Sabedoria, a pedra filosofal ou, segundo outros, o Santo Graal.
O namoro que recentemente a China e a URSS têm feito ao Dalai Lama, para que ele regresse ao Tibete saqueado, faz pensar que não encontram o tesouro e querem guia.
De facto, esclerosada até aos limites do inverosímil (e agora até aos limites do suportável pelo Ecossistema Terra), a ciência enveredou no Ocidente pelo delírio teórico e, ao perder o centro de gravidade, entrou em órbita da Asneira pelo espaço astral fora. Esta perversão explica muitas , se não todas as perversões dominantes neste tempo-e-mundo (imundo) ocidental.
A unidade tão insistentemente procurada e proclamada por Lanza del Vasto é a démarche aparentemente metafísica para reencontrar o real numa civilização de fantasmas (as teorias, as ideologias, os ismos, os sistemas).
Ao falar de realismo, é às fontes do realismo e da dialéctica yin-yang (taoísmo, Zen, budismo tibetano) que o Ocidente tem de recorrer. Se tiver tempo, dada a contagem decrescente...
Gabriel Marcel atribuía os crematórios nazis ao "espírito de abstracção", hoje transformado em religião - a Tecnocracia. Quando se perde o fim e os princípios, tudo é possível. Tudo tem sido possível, soando a heresia as máximas não violentas de Gandhi.
Um personagem de Dostoievski, com certeza dos irmãos Karamazov, dizia o mesmo aludindo à morte de Deus: "Agora tudo é possível". Tem sido, e foi, até aos crematórios nazis. Mas ainda será?
PLENÁRIOS DE TRABALHADORES
Da heresia passamos ao estratosférico.
A democracia que se pratica nas comunidades da Arca, é algo que não se acreditaria neste planeta Terra.
Afirmar que nas comunidades fundadas por Lanza del Vasto, só se tomam decisões por unanimidade, pode parecer um gracejo.
Democracia, nos nossos costumes, é o governo da maioria, em nome da maioria. As minorias metem-se na ratoeira e dá-se-lhes raticida.
O "direito de minoria" é ignorado por essas democracias, por isso também alcunhadas de mediocracias. Embora seja o direito fundamental do homem - ser o que é, pensar o que pensa - , varreu-se dos nossos costumes.
Curioso mas não único paradoxo do sistema em que estamos entalados. O movimento da Arca, embora não o explore demagogicamente, na prática dá uma lição e uma bofetada com luva na fraude institucionalizada das ditaduras da maioria. Uma bofetada não violenta, claro, amigável.
Segundo Pierre Parodi, a verdadeira democracia é a que se pratica nas comunidades da Arca. Mas também reconhece que esta democracia autêntica só é possível num pequeno grupo orientado no mesmo sentido espiritual.
Os cépticos duvidarão mas os não violentos teimam: "Não há autoridade autoritária nas nossas comunidades, todos temos a responsabilidade dos nossos actos."
Se só se tomam decisões por unanimidade, os cépticos constitucionalistas dirão que na Arca não se tomam nunca decisões.
Puro engano. Numa assembleia os discordantes fazem um esforço convergente, no sentido de se aproximarem das outras posições, em vez de se encarniçarem na defesa das próprias posições."
É a dialéctica yin-yang em acção, o segredo de Polichinelo : "Cada um não defende a sua própria opinião mas pesquisa a dos outros."
E assim o dom de cada um é oferecido para o bem de todos.
E assim não é o chefe que toma decisões, mas cada um e todos.
Os adeptos da não violência não hesitam em acusar: "Somos uma sociedade de irresponsáveis.'' Salvo seja. E salvo aquele pequeno defeito já citado : temos os minutos contados.
(*) Este texto de Afonso Cautela, 5 estrelas, foi publicado com este título e ainda bem (oxalá possa publicá-lo mais vezes) na «Crónica do Planeta Terra», «A Capital», 4-2-1984
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