Resinas de Abulia
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Amor , Força , Génio , Loucura , Poesia , Profundidade , Violeta Teixeira | Posted on 13:00
Se, ao leitor, lhe não agrada o registo
Disfórico da minha poesia, liberte-me das
Grades da cela; dê-me a beber o Sol de cada
Dia; pendure-me nos tectos bolorentos cachos
Azuis e sensuais de astros; traga-me pombos
Bravos para cima da minha cama, com plumagens
Esmeralda e bicos de ametista; plante-me, na
Terra estéril, tílias e álamos e abetos e cedros e
Faias e árvores-outras de que goste; semeie-me,
Entre pedras belíssimas, todas as espécies de flores;
Povoe-me, esvoaçantes, pássaros exóticos, com
Cantos multicolores; ponha-me um mar bravo a
Musicar contra os rochedos, dentro dos meus olhos
Secos; faça-me navegar nas veias veleiros e gaivotas;
Espalhe-me sobre o ventre areias fulvas e macias,
Seixos negros, com arestas auríferas e lamas de argila
Brancas e verdes; chova-me vermelhos cálidos na
Alma, que nunca me foi dada, nem, aliás, a aceitaria;
Arrombe-me, depois, todas as portas do corpo, sempre
Abertas, em secreto silêncio, e faça-me amor, com poesia,
A mais eufórica que souber, no acender de cada madrugada.
Se não for capaz, leitor descontente, de tão irrisório feito,
Envie-me, na boca de uma raposa vermelha alada,
A tábua dos mandamentos da poesia, com registo eufórico,
Ou a cartografia exaustiva do labirinto da alegria.
Violeta Teixeira, in RESINAS DE ABULIA, Magno Edições, 2003
Disfórico da minha poesia, liberte-me das
Grades da cela; dê-me a beber o Sol de cada
Dia; pendure-me nos tectos bolorentos cachos
Azuis e sensuais de astros; traga-me pombos
Bravos para cima da minha cama, com plumagens
Esmeralda e bicos de ametista; plante-me, na
Terra estéril, tílias e álamos e abetos e cedros e
Faias e árvores-outras de que goste; semeie-me,
Entre pedras belíssimas, todas as espécies de flores;
Povoe-me, esvoaçantes, pássaros exóticos, com
Cantos multicolores; ponha-me um mar bravo a
Musicar contra os rochedos, dentro dos meus olhos
Secos; faça-me navegar nas veias veleiros e gaivotas;
Espalhe-me sobre o ventre areias fulvas e macias,
Seixos negros, com arestas auríferas e lamas de argila
Brancas e verdes; chova-me vermelhos cálidos na
Alma, que nunca me foi dada, nem, aliás, a aceitaria;
Arrombe-me, depois, todas as portas do corpo, sempre
Abertas, em secreto silêncio, e faça-me amor, com poesia,
A mais eufórica que souber, no acender de cada madrugada.
Se não for capaz, leitor descontente, de tão irrisório feito,
Envie-me, na boca de uma raposa vermelha alada,
A tábua dos mandamentos da poesia, com registo eufórico,
Ou a cartografia exaustiva do labirinto da alegria.
Violeta Teixeira, in RESINAS DE ABULIA, Magno Edições, 2003
(source)
Uma resenha de gostos que imbuídos de uma sensibilidade que nos toca!
E também uma afirmação muito própria de quem sabe do que gosta e por onde quer ir.