Ligações Perigosas

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , | Posted on 13:52



" – Ligações Perigosas – "
Género: Cinema

Os fotogramas, acima, retirei de vídeos sobre o filme no youtube.


Visconde de Valmont – Pergunto-me frequentemente como chegaste a ser o que sois.

Marquesa de Merteuil – Não tive escolha, pois não? As mulheres têm de ser muito mais hábeis do que os homens. Podeis arruinar-nos a reputação e a vida com umas palavras bem escolhidas. Por isso, tive de criar não apenas a minha imagem… mas também vias de escape que ninguém havia concebido. E triunfei porque… sempre soube que nasci para dominar o vosso sexo e vingar o meu.

Visconde de Valmont – Sim, mas o que eu perguntei foi como.

Marquesa de Merteuil – Tinha 15 anos quando fui introduzida na sociedade. Já sabia que o papel a que estava condenada, calar-me e fazer o que me era ordenado, dava-me a grande oportunidade de ouvir e observar. Não o que me diziam, naturalmente desprovido de interesse, mas tudo o que tentavam esconder de mim.
Exercitei a indiferença. Aprendi a mostrar-me alegre debaixo da mesa. Espetei um garfo nas costas da mão. Tornei-me… perita em dissimular. Não procurava o prazer mas o conhecimento. Consultei o mais severo dos moralistas para aprender a posar. Filósofos, para saber discernir. Romancistas, para ver o que poderia aproveitar.
No final, reduzi tudo a um princípio maravilhosamente simples. Vencer ou morrer.

Visconde de Valmont – Então, sois infalível?

Marquesa de Merteuil – Se desejo um homem, tenho-o. Se o pretende divulgar, descobre que não pode. É esta a história toda.

Visconde de Valmont – Foi assim a nossa história?

Marquesa de Merteuil – Desejei-vos ainda antes de vos conhecer. O meu orgulho próprio exigia-o. Quando começastes a perseguir-me… desejei-vos loucamente. Foi a úrica vez que fui controlada pelo desejo. Um combate corpo a corpo.





Nota: Dangerous Liaisons, ou Ligações perigosas é um filme de 1988 dirigido por Stephen Frears e baseado em peça homônima de Christopher Hampton – baseada, por sua vez, no clássico da literatura francesa Les liaisons dangereuses, de Pierre Choderlos de Laclos.
Tendo Glenn Close, John Malkovich e Michelle Pfeiffer nos papéis principais do romance de Laclos – a Marquesa de Merteuil, o Visconde de Valmont e Madame de Tourvel, respectivamente – destacam-se no elenco Keanu Reeves, Uma Thurman e Swoosie Kurtz entre os coadjuvantes.
Ligações perigosas foi indicado para sete Oscar em 1989. – Fonte da nota retirada do Wikipédia.

Qual o lado... BI, I´M BI.

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in | Posted on 16:52

Dois lados convivendo, sem se anularem

Por conta das convenções sociais acabamos por amputar parte do que somos e, outras vezes seremos  algo que não somos. Este espírito de matilha é condenável ou para aligeirar, bastante suspeito. Deveríamos ter uma abertura maior para podermos questionar parte deste comportamento. Só seremos indivíduos únicos quando exercemos a nossa individualidade, e não quando usamos algo que todos usam. Da diferença nasce o respeito, a tolerância, a consciência... os opostos existem para a evolução, neste caso os opostos complementares, porquanto, os antagónicos apelam para a destruição/desunião.

Conforme dizia, as convenções sociais são castradoras. Nem todos, por exemplo, nascem à nascença aptos para serem ambidextros. Por conta da mentalidade vigente, portanto daquilo que é considerado correcto socialmente, castram-se pessoas e induzem-nas a seguir um caminho limitado. Se uma criança gosta de escrever ou tem a tendência para tal, porque razão forçá-la a usar apenas aquela mão que é socialmente aceite? Onde está escrito no livro da natureza humana que só a direita é a correcta?
A mesma pessoa que corta bem o pão com a mão direita, come com a esquerda, utilizando os pauzinhos de sushi na perfeição. Quem usa a direita diariamente, pouco consegue racionalizar com a esquerda, neste caso, utilizar pauzinhos de sushi para comer não deve ser fácil. Se já é difícil com a direita, com a esquerda é um desafio.

Às vezes não sei qual delas escolher. Presentemente, foi-me solicitada apenas o uso de uma devido a um problemazinho. Daí, vejo que esqueci desta particularidade, que reprimi. Mas a Grande Mestra - la vita - vem relembrar. Afinal, nem tudo desaparece, e, apenas adormece.


Actualmente direi, estou um pouquinho enferrujada... mas não consigo perceber qual a dominante. Escrevo rápido com as duas. No entanto, com uma sou disléxica e com  a outra, tenho a noção da formação da palavra. Ex. perguntar versus preguntar.

Portanto, percebi que os processos de racionalizar são ligeiramente diferentes no uso de cada mão. Uma torna-me mais aérea, enquanto outra mais meditativa, focada e racional e, até com maior capacidade para ouvir e escrever.

Oleg Dou

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , | Posted on 19:50

Oleg Dou

A perfeição é para todos, no entanto não chega a todos. A Oleg Dou chega-lhe, talvez sem o pedir.
Aqui, entre pinceladas fotográficas, disciplinas, viagens no tempo... e até direi, do tempero com que musicaliza e tece as figuras diáfanas há uma emergência num despertar silencioso, ausente de multidões. Há uma febre inaudita, inusitada que perdura para lá de todas as razões. A paixão calada, o pé no caminho. Tudo é, quando me sento à porta deste ''miúdo''. Há esse excesso branco que só os deuses da sabedoria ousam mostrar sem tinturas, esses fios de cabelos brancos... essa simbologia feita de velhice. A brancura é também essa passagem no tempo que os velhos tão bem sabem expressar.
Não, não vejo crianças, vejo a velhice. Como se algo encolhesse, congelasse no tempo. Memoriais atravessando a lânguida avenida da Morte. Oleg Dou diz-me/fala-me/confessa-me muito mais para lá da estética com que imprime os seus trabalhos feitos de um estilo muito próprio. Revivalismo chegam-me de vários orientes e ocidentes e, já perdidos na mónada do tempo.
A dualidade chega silenciosa, duplica a voz e a perfeição ousa chegar-lhe nos dois caminhos.
NSEEAO






Há (quase) seis anos que sigo o trabalho majestoso deste artista. Mantém uma fidelidade única. Os seus trabalhos são a sua própria marca.

Chove

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , | Posted on 19:05

 
 Kimiko Yoshida
(source)


CHOVE


Chove pelas paredes
Chove nas paredes
Chove naquela parede
Chove nesta parede

Sei que chove, pelo menos (sei) que chove
Chove até no invisível, ai chove, chove
Não sei se algum sino dobrará
Nem sei se haverá algum crá-crá-crá

Chove? Não sei, chove.
Não sei, chove e chove. Chove?
( crá - crá - crá )
Não chove.
Chove.

NãoSouEuéaOutra in '' Meus poemas molhados''

História do Rock 2

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , | Posted on 18:29


Fotografia - Suara

 (source)


História do Rock (Parte II/III)

O texto a seguir é parte de um Trabalho de Conclusão de Curso, portanto, possui algumas referências a livros, revistas e outras teses consultadas, de onde foram retiradas algumas citações. Algumas referências encontram-se entre parênteses, outras são indicadas pelo uso de aspas. (para ler a primeira parte dessa história, clique aqui!)

...
Essa banda de Detroit não recebeu muito prestígio entre os críticos, mas agradou ao público. O Grun Funk abriu vários shows para o Led Zeppelin, em muitos casos, roubando a atenção da platéia. Entre os temas de suas músicas, sexo, política, religião e ecologia estavam entre os mais comuns. A inovação de suas músicas ficava por conta da utilização de instrumentos pouco comuns em grupos de rock, como violão, piano, alguns tipos de percussão e orquestra.

O grupo que realmente comandou as transformações na sonoridade do rock para essa época foi o Led Zeppelin. Em uma fusão do blues com o hard rock, construíram sua carreira como os maiores representantes do trinômio “sexo, drogas e rock’n’roll” nos anos 70.

Uma “Escada para o Céu”
O Led Zeppelin começa quando os Yeardbirds se desintegram. Em 1967, o guitarrista Jimmy Page foi deixado por seus companheiros com uma agenda de shows para cumprir e dívidas para pagar. Com a finalidade de resolver esse problema, Page sai à procura de integrantes para uma nova banda, os New Yeardbirds.
O primeiro a integrar o novo grupo é o baixista John Paul Jones, que mostra a Page uma matéria de jornal sobre Robert Plant – vocalista de uma banda chamada Hobbstweedle. A mesma dica foi dada pelo cantor Terry Reid, que anteriormente havia sido cogitado para a vaga. Page e Jones foram assistir a uma apresentação do Hobbstweedle e ficaram tomados pela presença de palco e pela voz de Robert Plant. Ele passou a integrar o New Yeardbirds em agosto de 1968. O baterista John Bonham foi o último a entrar para o grupo, a convite de Plant.
Após concluir a formação da banda, o New Yeardbirds saiu em turnê para cumprir a agenda do antigo grupo. Com o fim das apresentações, ainda neste mesmo ano gravaram um disco que recebeu o novo nome da banda: Led Zeppelin. Segundo o jornalista Sérgio Martins (Bizz, 1999), a denominação veio de Jimmy Page, que se lembrou de uma citação de Keith Moon (baterista do The Who) sobre a viagem em um “zeppelim de chumbo”.
Sob contrato com a Atlantic Records, o Led Zeppelin iniciou uma turnê pelos Estados Unidos, um dia depois do Natal de 1968. Essa idéia partiu do empresário Peter Grant, também chamado de “o quinto zeppelin”.
Nos Estados Unidos, o Led Zeppelin conseguiu a popularidade que o seu primeiro disco não alcançou no Reino Unido. A onda de psicodelia ainda tomava conta do cenário do rock, e a sonoridade pesada da banda chamou a atenção do público rockeiro – que aprovaram a influência blueseira e os uivos do vocalista da banda. Canções como Good Times Bad Times e Communication Breakdown são composições deste primeiro disco.
Led Zeppelin II é lançado em 1969, alcançando o primeiro lugar nas paradas americanas. Thank You, canção de Plant para sua mulher na época, Maureen, o clássico do rock pauleira, Whola Lotta Love e Moby Dick, são destaques desse álbum.

Após o lançamento do segundo disco, o Led Zeppelin decide sair em turnê pelo Reino Unido, agora com sua carreira consolidada pelo sucesso nos Estados Unidos. Esse disco rendeu ao grupo o título de “melhor banda da Inglaterra” pela Melody Maker. O sucesso do Led Zeppelin provocou sua ascensão como legítimos de “rock stars”; as groupies (fãs fanáticas) disputavam a atenção dos músicos da banda e os negócios iam bem. O interesse de Jimmy Page pelo ocultismo, assim como seu vício em heroína, já eram conhecidos.
No entanto, antes da produção de Led Zeppelin III, os integrantes da banda encontraram-se cansados e resolveram se isolar para compor. Canções como Tangerine e Since I’ve benn Loving You são algumas das que estão neste disco.
Em 1973, o Led Zeppelin lança um álbum sem título e que passaria a ficar conhecido como “Quatro Símbolos’, entre outras denominações. Essa referência deve-se aos símbolos impressos na contracapa do álbum, relacionados a cada integrante da banda. Esse disco foi o de maior vendagem para o Led Zeppelin, rendendo mais de 16 milhões de cópias nos últimos 25 anos. A canção mais popular do grupo, Stairway to Heaven, faz parte deste álbum. Sobre essa música, Friedlander (2002, p. 339) comenta:
Page e Plant dividiram a música em dois níveis dinâmicos(...). El começava suavemente com a introdução do violão de Page e um longa citação de versos, aumentando gradualmente até explodirem em um rock completo (...) A letra obscura, cantada com a voz de um trovador piedoso, refletia o interesse de Page pelo folclore britânico e celta e seguia a busca de uma mítica dama por sua “escada para o céu ou nirvana espiritual’.
Em 1973, o grupo lança Houses of the Holy, marcado por canções funk e reggae (como em D’yer M’aker). Este álbum recebeu o primeiro lugar nas paradas do Estados Unidos e Inglaterra ao mesmo tempo. Entretanto, as apresentações do grupo são comprometidas depois do acidente de carro sofrido por Robert Plant. Assim, eles lançam o documentário The Song Remains the Same (1976), que mistura cenas do dia-a-dia dos integrantes com um show no Madison Square Garden.
Durante a turnê deste álbum, após a recuperação do acidente de Plant, seu filho, Karac, morre de um vírus desconhecido. Assim, a banda faz outra pausa e volta em 1979, com In Through the Outdoor, com a canção All my Love dedicada ao filho do vocalista. Um ano após esse lançamento, acontece a última turnê européia do Led Zeppelin; enquanto os integrantes da banda se preparavam para viajar aos Estados Unidos, John Bonham bebe além da conta e não consegue ensaiar.
No dia seguinte à embriaguez de Bonham, o baterista é encontrado morto, sufocado em seu próprio vômito (assim como aconteceu com Hendrix). Em dezembro desse mesmo ano, os integrantes remanescentes anunciam que sem Bonham, é impossível continuar com o Led Zeppelin.
O trovão setentista do Led Zeppelin quebrou as fronteiras do rock em sua época, estendendo sua influência para grupos que surgiram posteriormente: Aerosmith, Guns’n’Roses e Rage Against the Machine são alguns exemplos.
O Rock de “Plumas e Paetês”
Em meados de 1970, o heavy metal continuou a se expandir, inaugurando os anos 80 com uma profusão de bandas importantes para este sub-gênero do rock. Mas antes de se apresentar o cenário metal dos anos oitenta, é preciso destacar outras vertentes do rock que se desenvolveram ainda na década de 70.
Um movimento paralelo ao metal, muitas vezes mesclando-se a ele, e que marcou o início desta década foi o glitter rock, também conhecido como glam rock. Som pesado, muito brilho nas roupas e visual andrógino eram as características principais de grupos como T-Rex, Kiss e artistas como David Bowie e Alice Cooper. Este último, comumente chamado de “tia Alice”, foi o desencadeador da androginia no rock, antes esboçada por Mick Jagger e também seguida por Marc Bolan, do T-Rex.
Em outras palavras, algo como um rock de plumas e paetês em que os músicos apareciam fortemente maquilados ou até mesmo travestidos. Em Alice Cooper, o lado sexual era mais um recurso para agredir o público, pois Alice (nascido Vincent Furnier, filho de pastor) era ‘cria’ de Frank Zappa, o pai espiritual dos freaks de todo o mundo ... (MUGGIATI, 1985, p. 67-68)
Apesar de não se encaixarem especificamente neste gênero, os grupos ingleses Queen e Judas Priest, formados em 1970, eram adeptos do visual extravagante, aliando-o a uma pesada sonoridade.
Liderado por Fred Mercury, o Queen utilizava experimentações vocais e instrumentais em suas composições. A clássica Bohemian Raphsody é mais um exemplo da influência da música erudita no heavy metal, verificado na introdução e nas vocalizações desta música.
Bohemian Rhapsody foi lançada em 1975. Uma verdadeira ópera rock, no sentido mais literal das palavras. Taxada de experimentalista pela gravadora uma música como aquela dificilmente chegaria a ser um hit. Mais do que isso, porém, Bohemian Rhapsody se tornou no maior clássico da banda e seu primeiro single a chegar ao número 1. (WHIPLASH, dez/2002)
Esta era a época dos grandes concertos de rock e o Queen não fugia à regra; Fred Mercury desempenhava seu papel de frontman de maneira eficiente, devido ao seu carisma com o público. A partir de 1980, a banda acrescenta instrumentos eletrônicos e começa a se influenciar pela dance music, que se tornaria uma febre nesta década. No entanto, após quase duas décadas de existência, em 1991 a banda sofre a perda de Fred Mercury, que morre de complicações decorrentes da AIDS. O álbum Innuendo, lançado neste mesmo ano, marca a despedida do vocalista e líder da banda: "com menções depressivas e letras subjetivas, um Fred Mercury fraco insinua um difícil adeus, com músicas como The Show Must Go On (O Show Deve Continuar) e These are the Days of Our Lives (Esses São os Dias de Nossas Vidas)" (id.). A partir de 1992, várias coletâneas de tributo à banda foram lançadas, sendo que a última é de 1999.
Ainda hoje uma banda bem conceituada entre os apreciadores do gênero, o Judas Priest foi uma bandas precursoras do heavy metal moderno. As características que lhe conferiram esse título foram a adoção de roupas de couro e adereços de metal e "a união do peso e temática violenta criados pelo Black Sabbath à velocidade dos grupos como o Led Zeppelin” (id.). Além disso, a presença de dois guitarristas na banda - KK Downing e Glenn Tipton - se tornou uma das marcas das bandas de heavy metal que surgiriam posteriormente.
O auge da carreira internacional do Judas Priest se deu entre 1982 e 1984, com o lançamento dos álbums Screaming for Vengeance e Defender of the Faith, mas logo após essa fase, um fato marcou a imagem da banda. Um caso de suicídio de dois fãs foi amplamente explorado pela imprensa, que culpou o grupo pela morte dos dois garotos. Mesmo após ficar confirmado que as causas nada tinham a ver com a música do Judas Priest, esse caso se tornou corriqueiro com outras bandas e artistas de rock.
Após a boa fase, em 1986 a banda lançou o álbum Turbo, que não foi bem aceito pela crítica e pelo público, que não esperava pela fusão com instrumentos eletrônicos, marcante neste disco. O produto final se mostrou muito "comercial e forçado, marcando o ponto mais baixo na carreira da banda".
Em 1992, o vocalista Rob Halford (hoje em carreira solo) abandou o Judas Priest para montar o Fight; em seu lugar entrou Ripper Owens. O vocal de Ripper sempre foi associado ao de Halford, o que ajudou a não descaracterizar as músicas antigas da banda.

“POR QUE A GENTE NÃO CHAMA DE PUNK?”
Como explica o jornalista José Augusto Lemos (Bizz, ago1999), em fins de 1960 houve uma “reformulação visual”, seguida pelos jovens: “quem andava de jeans, camiseta e cabelos compridos, imediatamente passou a ser identificado como ‘hippie velho’”.
Nesta época, a movimentação política e (junto com ela) a violência faziam parte do cotidiano dos jovens, tanto na América quanto na Inglaterra. Como já foram citados, o movimento contra a guerra do Vietnã e a campanha contra a corrida nuclear, além do desemprego, denotavam o descontentamento da sociedade, em particular dos jovens.
A "violência gratuita" de cenas do filme A Clockwork Orange (Laranja Mecânica), de Stanley Kubrick, era repetida pela juventude nas ruas. Lemos (id.) relata que, banido das ilhas britânicas, o clássico de Kubrick também ditava a moda, sendo considerado um possível inspirador para a nova vertente que despontaria no cenário do rock: o punk. “(...)se havia uma coisa de que os ‘punks’ faziam questão de ser era contra a cultura. Nos dicionários, ‘punk’ quer dizer ‘droga’, ‘coisa sem valor’, ‘podre’, ‘doente’. (MUGGIATI, 1985, p. 69)
Bob Dylan e Joan Baez ainda tinham forte presença no cenário musical e político da América quando o primeiro embrião do punk apareceu em Nova Iorque. Artistas de renome, como Andy Warhol, faziam parte da vanguarda artística da cidade; logo surgiriam grupos de rock que movimentariam a cena musical.
Outro personagem dessa época, que circulou tanto no meio glitter quanto entre os que fundariam o punk, foi David Bowie. Tanto por isso quanto por seu visual extravagante, andrógino, o adjetivo mais associado a ele sempre foi "camaleônico". Sua incursão pelo meio musical também contou com a influência da eletrônica; mas a importância de Bowie ainda se estendeu para a fase pós-punk: ele foi o responsável pelo resgate de artistas importantes como Lou Reed (ex-Velvet Underground) e Iggy Pop (ex-Stooges).
O Velvet Undergroud (subterrâneo de veludo), foi uma das bandas que impulsionou outros grupos e artistas solo que passariam a caracterizar o punk. Esta banda surgiu em 1965, depois que Lou Reed mostrou ao guitarrista John Cale duas canções que havia composto: Heroin e Waiting for the man. Ele tocou as duas músicas ao violão e, como contou Cale (McNeil, McCain, 1997, p. 20), era diferente de tudo o que Dylan e Baez faziam:
Na primeira vez que Lou Reed tocou 'Heroin' pra mim, fiquei totalmente pasmo. A letra e a música eram tão obscenas e devastadoras. Mais que isso; as canções de Lou tinham tudo a ver com meu conceito de música. Nessas canções de Lou rolava um lance de assassinato do personagem. Ele tinha profunda identificação com os personagens que relatava. Era o 'Método' atuando na canção.
O primeiro empresário do Velvet Underground foi o escritor e colunista de rock Al Aronowitz, que o considerava um grupo de "marginais" e sua música, "inacessível". Apesar disso, levou-o a tocar no Café Bizarre, quando Andy Warhol conheceu a banda e se tornou o novo empresário. A partir daí, o Velvet passou a ficar conhecido pela vanguarda artística de Nova Iorque, composta por poetas, músicos, artistas plásticos e cineastas. Estes criticavam o movimento hippie não só em termos musicais, mas também visuais e em sua ideologia. As drogas e o sexo também faziam parte da cultura dos "pré-punks", mas a cannabis e o LSD foram substituídos pela heroína e anfetamina, enquanto que o sexo foi visto com uma liberdade ainda maior; muitos dos artistas da época se assumiam bissexuais.
A cantora Nico (que também atuou em filmes de Fellini) fez parte do Velvet no primeiro disco da banda, mas havia muitos desentendimentos entre Reed e ela. Considerado o líder do Velvet, Reed sempre desejou seguir em carreira solo; após o lançamento desse primeiro disco, desmanchou a banda. Mas a transgressão de valores e a "crueza" de suas canções transformaram Lou Reed no "padrinho do punk", como comparam McNeil e McCan (id., ibid., p. 437). Nas palavras de Lou Reed: "O velho som era alcoólico. A tradição foi finalmente quebrada. A música é sexo, drogas e alegria. E a alegria é a piada que a música entende melhor. (id., p. 30)
Por volta de 1967, outra banda surgiu para complementar a cena "pré-punk" da América: os Stooges. Liderada por Iggy Pop, esta banda começou quando o mesmo decidiu fazer "seu próprio blues simples" e compôs a música I wanna be your dog. Além disso, outra influência definitiva para Iggy decidir fundar sua banda foi Jim Morrison; apesar de não gostar do som e da poesia dos Doors, ele admirava a postura sensual e misteriosa de Morrison. Assim, juntando a vontade de criar uma nova sonoridade para o rock à preocupação com o visual das banda nas apresentações ao vivo, os Stooges, marcaram o início de um movimento que culminaria com o punk rock. O primeiro guitarrista da banda, Ron Asheton, caracteriza a sonoridade da banda em sua primeira apresentação (id., p. 57):
A gente inventou alguns instrumentos que usou no primeiro show. A gente pegou um liquidificador com um pouco de água e colocou um microfone bem embaixo dele e ligou. Tocamos isto por uns quinze minutos antes de entrar no palco. Era um som incrível, especialmente saindo das caixas de som, todo desconjuntado. A gente tinha uma tábua de lavar roupa com microfones. Então Iggy calçava sapatos de golfe e subia na tábua de lavar e ficava meio que arrastando os pés por ali. A gente pôs microfones nos galões de sessenta litros de óleo (...) usou dois martelos como baquetas. Peguei emprestado até o aspirador de pó da minha mãe porque o som parecia o de um motor a jato. Sempre adorei aviões a jato.
A influência do glitter rock era visível nas caracterizações dos artistas da época. Para essa primeira apresentação, Iggy se vestiu com um "grande camisolão" que ia até os tornozelos, pintou a cara de branco, raspou as sobrancelhas e colocou uma peruca de folha de alumínio torcida. Scott Asheton, o baterista da banda, conta que veio daí o apelido Iggy Pop (id.):
Nós tínhamos um amigo chamado Jim Pop (...) que havia perdido quase todo o cabelo, incluindo as sobrancelhas. Por isso, (...) a gente começou a chamá-lo de Pop. (...) Iggy começou a suar e aí descobriu pra que servem as sobrancelhas. Perto do fim do show, os olhos dele estavam totalmente inchados por causa de todo aquele creme e purpurina.
Contemporâneos dos Stooges o MC5 era uma banda marcada pelo radicalismo político. Musicalmente, este grupo não apresentava muita inovação (o que ficava por conta dos Stooges), mas seu surgimento foi importante para firmar o que viria a ser a característica de muitas bandas de punk rock: a crítica de oposição ao governo.
O MC5 tocou na convenção do Partido Democrata em Chicago, em 1968, mas foram expulsos do local por policiais. Na época, ele viviam em repúblicas estudantis que pareciam "comunas vikings", onde todos liam o Livro Vermelho de Mao Tse-Tung. Eles faziam parte do movimento dos Panteras Brancas, que, apesar da política de revolução, também cultivavam uma postura sexista, de submissão das mulheres.
Outros artistas que também contribuíram para a formação da identidade punk foram Patti Smith e os New York Dolls.
Inicialmente envolvida apenas com a poesia, Patti Smith foi uma das primeiras a circular por Nova Iorque com roupas e cortes de cabelo diferentes. Uma grande admiradora de Rimbaud, ela também poderia ser uma das precursoras da ideologia punk do it yourself (faça você mesmo), já que, em muitos casos, improvisava seus versos durante as apresentações de poesia.
O New York Dolls adaptou o exagero do visual e da androginia glitter até mesmo na sua denominação - dolls=bonecas, enquanto sua música minimalista ganhava cada vez mais admiradores. Eles passaram a fazer shows na Inglaterra, onde imprimiram um som contrário ao progressivo que dominava o cenário do rock na época.
Em 1975, Legs McNeill junta-se a dois amigos que tinham o projeto de fundar uma revista, a qual ele chamou Punk. Nas palavras do próprio autor, “‘punk’ pareceu ser o fio que conectava tudo que a gente gostava – bebedeira, antipatia, esperteza sem pretensão, absurdo, diversão, ironia e coisas com um apelo mais sombrio”.(id. p.222)
Assim, aquele estilo musical que se definia no cenário norte-americano desde 1971, recebeu um nome. E a partir do ano do surgimento da Punk, a banda que sintetizaria o movimento também despontou no cenário norte-americano: os Ramones.
Rock em Três Minutos
O Ramones formou-se em 1974, em Nova York, quando as “canções de dois minutos e meio” de Joey (vocal), Johnny (guitarra) e Dee Dee (baixo) começaram a chamar atenção na emergente cena punk.

A denominação “Ramones” veio do baixista DeeDee, a partir de uma referência a Paul McCartney, que nos primeiros anos da carreira dos Beatles, usava o codinome “Ramon”. O mesmo costume foi adotado para os integrantes da banda, que recebiam o sobrenome Ramone.
Em 1976, com o baterista Tommy Ramone já incluído na banda, os Ramones ocupavam lugar de destaque no cenário musical, com canções como Beat on the Brat, Blitzkrieg Bop e Now I Wanna Sniff Some Glue. Assim, neste mesmo ano o grupo viajou à Inglaterra, injetando ao nascente movimento punk deste país o mesmo estímulo do cenário norte-americano. Ainda em 1976, Ramones Leave Home, o segundo álbum da banda, foi lançado.
A partir desta época, a banda fazia turnês incessantemente. Para os próximos lançamentos, o Ramones “suavizou” sua sonoridade. Músicas como Sheena is a Punk Rocker e Rockaway Beach foram incluídas em Rocket to Rússia, o terceiro álbum, de 1977 – em que também está presente a balada Here Today, Gone Tomorrow. Nesta época, Tommy deixou o grupo, preferindo a atividade de produtor dos Ramones.

Tommy foi substituído por Marc Ramone; seu primeiro disco com a banda, Road to Ruin, foi o primeiro a conter somente doze canções e durar mais de uma hora e meia. Este álbum não teve muita aceitação por parte do público, apesar dos esforços de divulgação – nem mesmo o lançamento simultâneo do filme Rock’n’Roll High School trouxe prestígio a esse disco.
Nos anos 80, os Ramones tentaram maior apelo comercial com o lançamento de End of the Century e Pleasant Dreams, mas essa tentativa mostrou-se ilusória. A energia dos anos 70 voltou no disco lançado em 1984, Too Tough to Die, O baterista Marky Ramone havia deixado o grupo nesta época, sendo substituído por Richie Ramone, mas em 1987, Marky retornou ao grupo.
Em 1989, os Ramones ganham grande exposição com a música Pet Sematary, trilha sonora de um filme de Stephen King. No entanto, essa mesma época marca uma das substituições mais significativas da banda: Dee Dee Ramone, o “punk mais verdadeiro” do grupo, sai para tocar com o Chinese Dragons. Em seu lugar, entrou C.J. Ramone; essa substituição trouxe uma “energia juvenil” ao som da banda, mas a saída de Dee Dee foi muito sentida pelos fãs e pelos próprios integrantes do Ramones.

Nos anos 90, a presença do Ramones no cenário do rock, assim como do punk rock em geral, foi sendo subjugada pela exposição de grupos representante de outros estilos. O derradeiro álbum, Adios Amigos, é de 1995.
O Ramones foi fundamental para definir os contornos do punk rock e seus descendentes, constituindo referência para vários grupos que despontaram no cenário do rock nas últimas décadas. Em 15 de abril de 2001, Joey Ramone morre em um quarto de hospital, depois de seis anos com um câncer linfático. Sua morte representou uma perda irreparável para o rock em geral.
Anarquia para o Rock’n’roll
A expansão do punk rock para a Inglaterra (vide o sucesso dos Dolls naquele país) provocou o surgimento de grupos como Sex Pistols e The Clash. Os primeiros surgiram em 1975, mas seu primeiro single, Anarchy em the U.K. foi lançado um ano depois, quando fecharam contrato com o maior selo da Inglaterra, a EMI.
Anarchy in the U.K. caracterizou-se pelo ataque à tradição a à autoridade, comuns na estética punk. Os integrantes da banda freqüentemente incitavam a platéia de seus shows, como pode ser exemplificado com a frase do vocalista Johnny Rotten a uma platéia em abril de 1976 : “‘Eu aposto que vocês não nos odeiam com a mesma intensidade com que nós odiamos vocês!’” (Friedlander, 2002, p. 356)
The Clash começou em julho de 1976, depois que Joe Strummer viu uma apresentação dos Pistols e decidiu formar uma banda, que “transcendeu” a simplicidade e agressividade do punk. O Clash envolveu-se com o ativismo político, criticando o imperialismo e o racismo e influenciou-se por outros ritmos, como o reggae.
A Diluição do Punk
O caráter de adaptação do punk rock ao mainstream, no qual o Clash foi um dos representantes, formou uma nova tendência que tomou conta do cenário musical da década de 80: a new wave. Esta definição foi inventada pela imprensa, para designar a fusão do punk e a música pop, em que elementos de um e outro encontraram-se na sonoridade de um mesmo grupo (ou artista solo).
As letras destes grupos adotavam a atitude punk de crítica à sociedade, mas sem o elemento de choque. O visual e a performance de palco também foram resgatados do punk.
As bandas inglesas da primeira síntese da new wave foram o Police, o Jam, Billy Idol, Joe Jackson e o Pretenders (que contava com a cantora norte-americana Crissie Hynde). Um dos principais artistas desta onda, que influenciou outros posteriormente, foi Elvis Costello. Ele foi um dos que passaram a utilizar os sintetizadores em suas composições.
Programador de computadores, vivendo com mulher e filho no subúrbio, ele nutria aspirações artísticas e compunha com a ajuda de um Fender Jazzmaster. Descoberto por um caçador de talentos, se tornou da noite para o dia a nova atração do rock inglês (com o grupo The Attractions). (MUGGIATI, 1985, p. 87)
Nos Estados Unidos, a new wave também se desenvolveu, com os grupos Talking Heads, Cars, Devo, B-52 e o Blondie – o grupo da vocalista Debbie Harry e um dos mais representativos deste estilo. O Blondie, junto com o Pretenders, representou a ascensão feminina no rock.
Em 1980, a fusão punk-pop “estava apenas florescendo nas rádios; em poucos anos, entretanto, ela teria proliferado e invadido a mídia. O ingrediente-chave do sucesso da new wave era a ligação da música com o vídeo...” (FRIEDLANDER, 2002, p. 369) A institucionalização dessa dinâmica se deu com o nascimento da MTV, em 1981. Esse canal de televisão passou a divulgar videoclipes da mesma forma que as rádios executavam as músicas, sendo que o papel de apresentador, desempenhado pelos VJ’s, tomou o lugar dos DJ’s. Assim, com a MTV, a new wave encontrou um instrumento eficaz para sua divulgação, mas a música comercial logo tomou conta da programação do canal.
Antes de continuar descrevendo o cenário dos anos 80, é preciso voltar um pouco no tempo, quando a dance music surgiu (em meados de 1970) entre os menos radicais, que não se encaixavam na estética punk. Entre os ícones da época, estão grupos como os Bee Gees e o Abba, a primeira banda sueca a fazer sucesso fora do país. Outros artistas também passaram a fazer parte do cenário, como Diana Ross e Olívia Newton-John.
Entretanto, os mega astros Michael Jackson e Maddona foram os que realmente trouxeram ao pop uma verdadeira “força impulsionadora” para os anos 80, realizando a fusão da dance music com outros elementos que se relacionassem à dança, ao movimento.
Conhecido anteriormente, quando ainda era um astro infantil (integrante do Jackson 5), Michael gravou seu nome através da dança, os vídeos de suas apresentações ao vivo e também os rumores em torno de sua vida pessoal. O álbum Thriller, de 1982, foi o disco mais vendido da história da música, com mais de 40 milhões de cópias.
Thriller era um prato cheio para o mainstream do pop/rock: um talentoso compositor e contador de histórias; um dançarino perfeito e inovador, que criou um estilo de dança combinando imagens de hip hop, Broadway e discoteca (incluindo o moonwalk), músicas com batidas bem marcadas; uma composição de músicas rápidas e baladas; participações dos astros contemporâneos Paul McCartney (...) e Eddie Van Halen... (FRIEDLANDER, 2002, p. 378)
Enquanto Jackson refletia sua importância através da síntese entre “discoteca, funk e hip hop”, Maddona ascendeu nesta mesma época provocando polêmica com temas como “raça, sexismo, atividade sexual, orientação sexual e poder”. Ela também percebeu a força dos videoclipes como instrumento promocional para seus discos e passou a explorar imagens que provocavam discussões morais.
Maddona aparece em Like a Virgin em uma camisola branca nupcial, mas seus movimentos são eróticos. Quem é ela, virgem ou prostituta? É Marilyn Monroe? As roupas que ela veste nos shows são um mero modelito prostituta ou ela está redefinindo a moda e o poder sexual? (id. p. 379)
QUANTO MAIS ALTO MELHOR
Enquanto astros do pop tomavam conta do cenário musical, o heavy metal também se expandiu, até chegar à virada 1980/90 com uma profusão de subgêneros. A junção do hard rock e o metal tradicional tornaram esse gênero o mais popular da década. No fim da década de 70, surgiram grandes grupos de metal inglês, que se firmariam pós-1980, como Iron Maiden, Samson, Def Leppard, Motorhead e Saxon - produtos da New Wave of British Heavy Metal, liderada pelo Judas Priest.
As bandas de heavy metal consistem geralmente em bateria, baixo e uma ou duas guitarras, mas a partir de 80, bandas como Van Halen ampliaram seu som com o uso de teclados e sintetizadores. Outra característica comum a essas bandas era a energia dos integrantes no palco, como pode ser verificado com os shows do Iron Maiden (donzela de ferro), que recebeu esse nome em alusão a um instrumento de tortura medieval. Depressão e juízo final, entre outros, são assuntos comuns nas canções da banda - o último disco, Brave New World, leva o nome da clássica obra de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, que constitui uma fantasia sobre a humanidade no futuro. O vocalista, Bruce Dickinson (que havia se separado do grupo em 1992 e voltou quase dez anos depois) também conta com uma bem-sucedida carreira solo. A alquimia figura entre seus temas favoritos, sendo que um de seus discos chama-se Chemical Wedding.
O Iron Maiden constitui uma das bandas mais queridas dos críticos de heavy metal em geral. Na época em que Dickinson deixou a banda, porém, o vocalista que o substituiu, Blaze Bailey, foi alvo de muitas críticas negativas, tanto por parte dos fãs quanto desses mesmos críticos. Atualmente, o Iron Maiden conta com três guitarristas em sua formação, já que o antigo guitarrista, Adrian Smith, voltou ao grupo junto com Bruce Dickinson.
O Def Leppard surgiu como um grupo de heavy metal, mas passou a utilizar efeitos especiais que o desligaram deste gênero, mudando seu estilo. Em meados da década de 80, o sucesso do Guns’n’Roses demonstrou a forte presença do metal; no início, o metal era um estilo “cult”, como compara Friedlander (2002), mas acabou por ampliar seu apelo, inserindo-se no mainstream.
A presença de palco de Axl Rose, vocalista do Guns’n’Roses, era marcante por seu estilo de cantar e se movimentar durante as apresentações ao vivo. Appetite for Destruction, de 1987, representou a mistura do hard rock com a emocionalidade do blues. Após a separação da banda, só restou Axl Rose da formação original. A apresentação do Guns no último Rock in Rio, em 2001, mostrou que ainda existem muitos fãs da antiga fase. Apesar de músicas como Sweet Child O’ Mine e Welcome to the Jungle agitarem a platéia, atualmente a presença do Guns’n’Roses é bem menor.
Outro estilo do metal que despontou na década de 80 foi o speed metal. Segundo Friedlander, o exemplo mais bem sucedido dessa tendência foi o Metallica – banda que combinou um destacado trabalho de guitarra com execuções rápidas e sincronizadas. Com a profusão de estilos do heavy metal, entretanto, categorizar uma banda tornou-se tarefa difícil; muitos críticos e até mesmo fãs do Metallica poderiam classificar a banda como uma representante do thrash metal.
O speed metal também contou com a representatividade do guitarrista sueco Yngwie Malmsteen. Seus solos, marcados por velocidade e precisão, refletem a influência do guitarrista na música clássica; na juventude, Malmsteen estudou violão clássico e piano.
Um dos maiores expoentes para o thrash são os integrantes do Sepultura – banda brasileira de grande repercussão no exterior. Os vocais rosnados e o peso da guitarra e bateria caracterizam o som dessa banda, formada no início dos anos 80, influenciada por Black Sabbath e Venom. Quando Max Cavalera saiu da banda, em 1997 (para formar o Soulfly), um novo vocalista foi adicionado ao grupo – o norte-americano Derrick Green. Embora muitos ainda sintam a falta de Max, Derrick provou ser um bom substituto.
O heavy melódico foi outra vertente deste gênero que cresceu nos anos 80, expandindo-se na década seguinte, inclusive com a presença de bandas brasileiras – que se aproveitaram da aceitação do Sepultura no exterior para ampliar seu mercado.
Bandas como Helloween e Gamma Ray (Alemanha), Raphsody (Itália), Viper e Angra (Brasil) são algumas das representantes do metal melódico, caracterizado por músicas de melodias fortes, vocais de tons “operísticos” e virtuosismo com as guitarras. A influência erudita também é detectada em alguns desses grupos, como os brasileiros citados.
O Viper retrata o início da profusão do metal melódico no Brasil. O último disco com participação do vocalista André Matos, Theatre of Fate, é de 1986. Após esse álbum, Matos sai com a desculpa de estudar para ser maestro e forma o Angra – banda de grande repercussão no Brasil e no exterior. O Japão, principalmente, mostrou-se um bom mercado para os grupos de heavy metal melódico, especialmente para o Angra.
Apesar de encontrar-se alheio à música eletrônica, o heavy metal também sofreu a influência desta “febre” dos anos 90. Assim surgiu o chamado alternative metal de bandas como Korn, Soulfly e Limp Bizkit, que além das batidas eletrônicas, utilizam linhas vocais “sincopadas”, como o hip hop e guitarras heavy metal.
O Estilo Certo na Hora Certa
Como explica o jornalista André Barcinski, “no início dos anos 80, Nova York criou um monstro: o hardcore”. As bandas que despontaram nesse cenário eram ligadas a gravadoras independentes, fanzines e shows em clubes locais, quando passaram a ganhar atenção do público. As músicas caracterizavam-se por serem “simples”, contrárias ao virtuosismo do heavy metal – gênero de forte presença naquela década.
Bandas como Murphy’s Law, Sheer Terror e Agnostic Front são algumas que surgiram neste cenário. Esta última destacou-se como a pioneira do hardcore em Nova York, quando passou a lotar os clubes da cidade.
O Agnostic Front formou-se em 82, quando algumas bandas de Los Angeles e San Francisco (Black Flag e Dead Kennedys, respectivamente) já configuravam o cenário, influenciadas pelo punk. O som da banda caracterizava-se pela velocidade dos riffs. Em 1986, com o disco Cause For Alarm, o grupo inaugura o gênero crossover, que misturava thrash metal com hardcore.
Experiências pessoais e o retrato da vida de pessoas comuns são temas recorrentes ao Agnostic Front. Em 1992, o baixista Craig Setari afirmou que “acredita na música como instrumento de politização e de conscientização”, assim como os outros integrantes da banda.
O movimento hardcore, entretanto, não resistiu ao tempo; como destaca André Barcinski: “o tempo passou, o público se subdividiu em facções de gostos e tendências variadas”. A violência dos shows foi um dos fatores para que estes deixassem de ser agendados e muitas bandas acabarem. No entanto, em fins da década de 80, nasceu um novo gênero, derivado da cena hardcore, que viria a representar um fenômeno para os anos 90: o grunge.
Bandas como Mudhoney, Melvins, Tad, Soudgarden, L7 e a principal delas, Nirvana, representavam o chamado “som de Seattle”, já que esta cidade caracterizou-se como o “local de nascimento” de muitas bandas de rock nos anos 90. O Pearl Jam, ainda hoje em atividade, também derivou-se deste som.
A gravadora Sub Pop foi a catalizadora da cena grunge, apesar de ter perdido grande parte das bandas para gravadoras maiores já em 1992. Um dos fundadores, Bruce Pavitt, credita o surgimento das bandas de Seattle “ao bom nível sócio-econômico dos garotos da cidade, sem muitos problemas para comprar instrumentos ou discos”. Além disso, Pavitt aponta a existência de vários clubes de hardcore, que tornaram possível a um público jovem tomar contato com grandes bandas.
Nas palavras de Barcinski, o Mudhoney tornou-se a banda mais tradicional de Seattle, “musicalmente falando”.
A banda entra no palco, toca uma música, pára, decide qual a próxima música e detona. Nada armado, nenhum resquício de showbizz. São quatro caras, se divertindo tanto quanto os outros cem, duzentos ou cinco mil à sua frente. (BARCINSKI, 1992, p. 114)
Uma das bandas que excursionou com o Nirvana, o Tad caracteriza-se pelo som “bem barulhento”. Os riffs são meio lentos, “meio Black Sabbath” e as músicas são repletas de microfonia. Em 1992, o Tad era a terceira banda que mais vendia discos pela Sub Pop – atrás do Nirvana e do Mudhoney .
Mesmo que as bandas citadas sejam importantes para o grunge, o Nirvana tornou-se o representante mais importante para esse estilo e, na opinião de muitos críticos, músicos e fãs, uma das maiores bandas que já existiram.
“ Fede a Espírito Adolescente”
Kurt Cobain e Krist Novoselic encontram-se em sua cidade natal – Aberdeen, Washington – em 1985, quando resolveram formar uma banda. Kurt tocava bateria e Krist tocava baixo; as guitarras ficavam por conta de algum amigo que aparecesse para tocar.
Considerado o líder do Nirvana, desde criança Kurt falava que seria um astro de rock. Seu interesse por música veio desde cedo; sua tia Mary havia lhe dado um disco dos Beatles e seu tio Chuch, sua primeira guitarra. Ele começou a ter aulas na adolescência, quando se interessava por heavy metal e aprendeu a tocar Stairway to Heaven (Led Zeppelin) e Black in Back (AC/DC). Embora não afirmasse nas entrevistas, o primeiro show de rock da vida de Kurt foi o de Sammy Hagar (ex- Van Halen).

Mas foram as raízes punks e hardcore que definiram o som do Nirvana. Em meados da década de 80, bandas como os Melvins e Sonic Youth, atraíam muitos fãs, sendo que Kurt Cobain tornou-se um deles.

Em 1987, Cobain e Novoselic juntaram-se a Chad Channing, que ficou com o posto de baterista; Kurt tornou-se vocalista e guitarrista da banda. Logo, eles passaram a apresentar-se em festas e clubes fora de Aberdeen. A gravadora Sub Pop interessou-se pelo som do Nirvana e os contratou; o primeiro disco, Bleach, saiu em 1989.

O nome original de Bleach era Too many humans; a mudança definitiva foi inspirada em um cartaz de prevenção à AIDS em San Francisco: “Bleach your works”, algo como “desinfete suas agulhas”. Este álbum foi produzido por apenas seiscentos dólares; os integrantes do Nirvana tinham muitos problemas para conseguir dinheiro, viviam arrumando empregos temporários ou vendendo objetos pessoais. Kurt, mais de uma vez, chegou a morar dentro do carro.
Ainda antes do lançamento do segundo disco, em 1991, Kurt já apresentava problema com as drogas, o que percorreria toda a trajetória do Nirvana. Segundo Kurt, a heroína (que havia experimentado um ano antes) o ajudava a fugir de suas dores de estômago, que o atormentavam.

Quando Nervermind foi lançado, Chad Channing já havia sido substituído por Dave Grohl, ex-baterista da Scream. Finalmente, Kurt e Krist haviam encontrado na fúria da bateria de Grohl, o elemento fundamental para fazer a “magia do Nirvana funcionar”. Este ano, Nevermind tirou o disco Dangerous, de Michael Jackson, do topo das paradas americanas, enquanto seguia-se a deterioração física e metal de Cobain,

Transformado em hino grunge, Smells like teen spirit, (na época veiculado incessantemente pela MTV), é uma das canções de Nevermind. Esta expressão significa “fede a espírito adolescente” e constava de uma pichação nas paredes do quarto de Cobain. Para essa composição, ele se inspirou em Tobi Vail, uma antiga namorada que usava um perfume chamado “Teen Spirit”.
Nesta época, o Nirvana já havia alcançado grande popularidade; eles eram chamados para muitas entrevistas e acabaram por realizar uma apresentação no programa “Saturday Night Live”. No entanto, quanto mais fãs do Nirvana surgiam (e quanto mais shows ele faziam), mais Kurt Cobain isolava-se em seu próprio mundo, induzido pelas drogas.
A gravação do terceiro álbum do Nirvana foi adiada, devido a problemas de saúde de Kurt; ele foi hospitalizado várias vezes com problemas crônicos de estômago. Em 1991, a banda havia assinado contrato com a Geffen Records, que lançou no ano seguinte Incesticide, uma compilação de lados B do grupo. Esse álbum serviu para aplacar a ansiedade dos fãs, que aguardavam por material novo do Nirvana.
Em 1993, finalmente é lançado In Utero, terceiro disco do Nirvana. Para as letras das canções desse álbum, Kurt inspirou-se em sua família, da qual já faziam parte Courtney (eles se casaram em 1992) e sua filha Frances. A música Heart-Shaped Box originou-se de uma caixa de papel de seda que Courtney havia lhe dado logo que se conheceram. Em setembro deste mesmo ano, o Nirvana seguiu por uma turnê de três meses pela América do Norte, além de gravar o MTV Acústico.
In Utero constitui o trabalho preferido de Novoselic, assim como o de muitos críticos. Imagens de nascimento, morte, sexualidade e vício são retratadas nas músicas desse disco. A letra de Milk It reflete alguns desses elementos: “Her milk is my shit/My shit is her milk” (“O leite dela é minha droga/ Minha droga é o leite dela”). Em outro verso desta canção, vem a alusão a um tema que passava pela cabeça de Kurt desde o colegial: “Look, on the bright side is suicide” (“Olhe, no lado bom está o suicídio”) (CROSS, 2002, p. 323)
Depois do lançamento do terceiro disco, o Nirvana embarcou para uma turnê pela Europa no início de 1994, apesar de Cobain encontrar-se cansado das viagens - em Roma, ele tem uma overdose e as apresentações da banda são canceladas em fevereiro.
Ao voltar para os Estados Unidos, Kurt Cobain foi internado em um clínica de reabilitação em Los Angeles. Tentativas posteriores já haviam sido frustradas (como na época em que sua filha nasceu) e essa não foi diferente. No dia 1º de abril ele foge da clínica e se esconde na estufa de sua casa, em Seattle. Depois de uma semana sem que ninguém de sua família ou da banda soubesse do seu paradeiro, ele é encontrado morto, com a marca de um tiro de espingarda auto infligido contra o céu de sua boca. A autópsia encontrou altos níveis de tranqüilizantes e heroína no sangue de Kurt, que dificilmente o manteriam vivo mesmo que ele não tivesse atirado em si mesmo. “Kurt conseguira se matar duas vezes, usando dois métodos igualmente fatais.” (id. p. 411)
Neste dia, Courtney encontrava-se em tratamento para sua dependência química em uma clínica; mais tarde, ela leria partes do bilhete de suicídio para os fãs do Nirvana, que como ela, estavam inconsoláveis:
Faz muitos anos agora que não sinto entusiasmo ao ouvir ou fazer música, bem como ao ler e escrever. (...) Por exemplo, quando estamos nos bastidores e as luzes se apagam e o rugido maníaco da multidão começa, isso não me afeta do modo que afetava a Fred Mercury, que parecia amar, saborear o amor e a adoração da multidão. (...) Obrigado a todos do fundo do poço do meu nauseado e ardente estômago por suas cartas e preocupações nos últimos anos. (...) Não tenho mais a paixão e, portanto, lembrem-se, é melhor queimar do que se apagar aos poucos. (id. p. 403)
Krist também divulgaria uma mensagem para os fãs, em que pedia a todos que se lembrassem de Cobain pelo que ele sempre foi, “afetuoso, generoso e terno” e que guardassem a música do Nirvana: “nós a teremos para sempre conosco”.



Continua...

O Perfumista

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , | Posted on 18:17

Sempre, os livros, vieram ter comigo, por diversas razões que nem tenho vontade de escrever/narrar/contar. Entre os Romances de Patrick Süskind «O Perfume» - livro que caiu-me de uma varanda quando ia a passar (risos) lá no século passado dos anos /inícios 90 - e  Fernando Trías de Bes «O Colecionador de Sons e Joaquim Mestre  «O Perfumista» existem paralelos insuspeitos. Nunca procurei estes livros. Este último, num dia de arrasar coleópteros - besouros - vi-me qual Lolita hipnotizada; vários minutos se passaram e os olhos cegos na vitrina da Bulhosa Livreiros. Tal a paralisação, que, só balbuciava dentro do cérebro «perfume, perfumista, sons, cheiros e amores e amores e amores e talentos e talentos e génios e...» bem, eu não acordava!! Quando olhei/acordei e bem, já estava com ele na mão e repetia, « onde está o quarto? O quarto livro? Isto é uma viagem... o que é isto?? Não me deixam porquê? É a intensidade? Ou são os livros que me escolhem?»
A verdade, é que comprei-o e sentei-me no carro e devorei. Já nem sabia onde começava eu, onde existia. Tantos pormenores de um Alentejo... e tive vontade de conhecer o autor. Escrever-lhe! Tal a febre de comunicar e agradecer tantos pormenores do livro. Mas quando soube, caiu-me por terra, a alma!! Aí, lembrei, «Tem o livro!! O livro!!! São as palavras, as palavras que dão sentido e nos tecem a alma nos dias de desalento!! Onde nos recuperamos do espectro deste mundo caótico. Remetemos a nós ao ler.»
A Joaquim, fica o agradecimento deste maravilhoso presente... as palavras,  aquelas, havia tanto, mas tanto, tempo que não as ouvia!!!

Um trecho, abaixo. Para deliciar!! 


Photo: Close your eyes - MDesignN

(…) O Cego da aldeia do Espírito Santo é o homem que mais sabe de ervas em toda a serra. Ele conta que a erva das três espigas é uma planta milagrosa que já os mouros conheciam e que, no mesmo pé, dá três espigas: centeio, trigo e cevada.
A erva de namorar dá flores brancas e rosadas e floresce na manhã de São João. Com ela fazem-se filtros de amor. O Cego do Espírito Santo conhece as flores pelo tacto e pelo cheiro e dizem que as mulheres não lhe largam a porta por causa dos filtros de amor que ele faz. O Cego também sabe muitas histórias de amor, e outras que não podemos contar…
Segundo ele, há muita gente a viver do negócio do amor. Bruxas, mulheres de virtude, alcoviteiras, viúvas, solteiras, encalhadas, todas vivem do amor. Dão conselhos, receitam mezinhas, fazem filtros, rezas e benzeduras, levam e trazem recados, fazem feitiços, deitam cartas, tudo para prender os corações.
Mas não há ninguém que ensine a amar. Por isso é que o bonequeiro de Beringel representa o amor com uma venda nos olhos. O amor é cego, diz ele. Cego sou eu e sei que o amor não precisa de olhos para ver. Amar aprende-se amando, remata o Cego do Espírito Santo. Cada vez há mais gente a sofrer de mal de amor. Por isso ele não tem mãos a medir. É certo que o cego conhece como ninguém os melhores filtros de amor; é certo que ele é muito sábio e entendido nos segredos dessa doença, mas o que nenhuma mulher que o procure esquece são as suas mãos.
Dizem que é na apalpação que está o segredo para escolher o melhor filtro para cada mulher. E todas recordam as mãos do Cego, na frente de quem se desnudam com o à-vontade de quem sabe que ele não vê. Não vê mas sente, que é uma maneira mais profunda de ver, de ver e imaginar. Ele conhece-as todas pelo corpo e sente na ponta dos dedos o estado de desamor em que elas se encontram.
Há casos perdidos que já não respondem à apalpação e mezinha nenhuma consegue curar, mas a generalidade reage bem ao tratamento. Daí que todas saiam muito contentes da casa do Cego, com um frasquinho na mão. Contentes não sabemos porquê, pois o remédio só faz efeito passados oito dias. Na verdade, há milagres que só um cego pode explicar.
Talvez seja por isso que as consultas são tão demoradas e requerem várias horas de exaustiva e demorada apalpação. Dizem que por essa razão ele nunca casou, mas conhece melhor do que ninguém os corpos e os segredos das mulheres do Espírito Santo e arredores.
Só há um caso que ele nunca conseguiu resolver. Foi o de Adélia Nande, rapariga roliça de seus vinte e oito anos, desenganada de tudo e de todos, sedenta de homem numa terra de mulheres. Para melhor a tratar aconselhou-a a viver em sua casa, para assim a obrigar a seguir os tratamentos à risca. Passados cinco anos ainda o Cego, esperançoso, acredita na cura de Adélia Nande. Ela é que parece que se habitou a estar doente e já não quer outra coisa. Vá lá a gente compreender as mulheres e os cegos. (…)

Trechos do livro ‘’O Perfumista’’ de Joaquim Mestre


Joaquim Mestre nasceu em Trindade, concelho de Beja. Morreu em Lisboa em 2009, aos 54 anos. Licenciado em história pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e pós-graduado em Ciências Documentais pela mesma universidade. Gostava de ler e sonhar, de comer e beber, e amar e viajar. E de escrever, também. Foi autor de um livro de contos O Livro do Esquecimento (2000) e do romance A cega da casa do Boiro (2001). Foi galardoado no ano 2008 pela colectânea de contos «Breviário das Almas» (Oficina do Livro) com o Prémio Nacional de Conto Manuel da Fonseca, instituído pela Câmara de Santiago do Cacém. 
Foi director das revistas Rodapé e Pé de Página.
Foi director da Biblioteca Municipal de Beja.

Hiroshima, Meu Amor, Mon Amour, My Love 1

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , | Posted on 21:59


- Morrer, para amanhã acordar Viva. Arrebentar por dentro!! Ser essa Bomba Atómica. Hiroshima. Hiroshima! Hiroshimaaa!!! Sim, Hiroshima, meu Amor!! Levantar o rosto e olhar no espelho. Olhar... olhar olhar e olhar esta Morte. Terrível é aquilo que sorvo. Não descanso. Não descanso!
Eu canto:

Eu Sou Hiroshima
Hiroshima

- Sim, todos esses anos. Sim e sim... eu esperei por uma história de amor impossível. Sim e sim... sim, foram sempre impossíveis. Todas acabaram impossíveis. Todas, todas todas todas todas! Tal a sina. «Ah ah ah ah...». Tenho a boca rasgada de tanto rir sórdidamente. O Amor, dificilmente me visitou. Amei o impossível. Eu fui eu e fui o outro. Fui Amor numa solidão só conhecível de quem no deserto viveu. Fiquei seca. Sou a Morte do que foi, é e será!! Fodi-me no Amor Terreno.
Os /as libertos/as, do meu amor, navegaram para a Vida e, eu, caminhei para a Morte. Eu fui com Hiroshima. Hiroshima. Ouviram?! Sou uma Filha da Guerra. Há muito! Sim… sim, muito tempo. Ganharam-me, ah seus safados e safadas!!
Eu Volto a cantar:


Eu Sou Hiroshima
Hiroshima
«ah(!!) meu Amor o que me fizeste?»

- Sim. Olho. Olho! Olhoooo!!! Já disse que olho. Isto por dentro são retalhos. Mortes. Morri. Sim, é isso que me sussurras, «Sou a figura da Morte no rosto! Estilhaços de esperança. Poeira de sonhos. Fantasma! Fantasma!!»
Meu nome é Morte. Sou Hiroshima. Sou Nevers. Sou Bomba Atómica. Sou todos em mim, Mortos. Sim, «Look how I have forgotten you/Me»... Vê como tenho coragem de olhar ao espelho. Sou nada. Roubada, saqueada. Sou Hiroshima.
Eu volto a cantar (ferozmente):
Eu Sou Hiroshima
Hiroshima
«sim, meu amor. mataste-me!» 


NãoSouEuéaOutra in '' A Minha vida em Hiroshima ''

Hiroshima, Meu Amor, Mon Amour, My Love

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , | Posted on 21:55


- Hiroshima, minha irmã, pergunto ao porão de Nevers, « Quem me perdeu de mim? Quem me roubou de mim? Quem não me devolveu à Vida? Quem? Quem?? Quem??» Ouço estoirar. Dobram-se os sinos. A vida lá fora. Presa.
Morri em 1945. Regressei. 1957, estou crescida. Volto a morrer, volto a nascer. Estou em pleno século 21. A memória intacta. Entre mundos. Morta. Segue-me a imperfeição da imortalidade. Vivo um enigma Hitchcock(iano). Entre séculos fiquei presa. Cobra-me a razão. Sou Hiroshima. Meu amor, o que foi feito de mim? Que porão é esse que cegou-me? Que miséria humana é essa que lavra as entranhas deste coração?
Não consigo esquecer de Mim. Desculpa-me. Desculpa-me gato das minhas vísceras. Eu sei que sabes. Enterra-me, definitivamente, se o Amor não souber me encontrar!!


NãoSouEuéaOutra in '' A Minha vida em Hiroshima ''

Sem Fim à Vista

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in | Posted on 19:09



" –Sem Fim à Vista– "
Género: Crónica
Autora: NãoSouEuéaOutra


"Derradeiro lamento das fragilidades da humanidade. Quando tudo o que é pedido é só um pouco de paz nesta terra."


(...) Becos de passagens – Rumos – becos sem fim – rumos – … Desencontros subtis.!.

Só de escrever, já o poema se deprime. Deprime esta mão avariada que não se conhece. Deprime esta mente que não se contenta e não sabe. – Loucura!! – dirá o poeta gasto e o poema mais se deprime. É da imagem do passado que nasce a força contida no futuro, – dizem – que às sementes mal produzidas, pó de arroz na face ficará ridículo. "Como são todas as coisas deste mundo, ridículas." - Escreve o desalentado poeta que sonha fugir para parte incerta.

Se o papel era amigo, tornou-se veneno, tal como os becos de passagem e os becos sem fim. A morte começa antes da palavra sair e quando sai já o fantasma pariu os horrores da sua génese – a microbactéria insensível ao grito humano –. Grita o poeta contaminado “Estou louco de doença! Absolutamente louco até à raiz do meu Ser Anímico.
São essas pontes entre lugares e coisas, entre humanos e humanos – extracorpóreas – que as afluentes chocalham e fazem tremer aquela mão que agarra o papel já contaminado, contaminado poeta inconsciente. Sabe-se um cordeiro, ofendido por deuses obscuros que recusam revelar a face, que ousam omitir a sua origem para aí estabelecerem directrizes no coração do poeta já doente patologicamente até ao centro da célula. Que se arrasta por ruelas qual maltrapilho, condenado à forca pelo carrasco que nunca a sua face revela. O seu grito não se ouve, pois que nasceu sobre uma abóbada terrena surda. Sabem da sua existência, mas negam-na.

“páthos” invernoso, gretado, vermelhento, sanguinário, rei das tripas, das veias, das células, das mucosas; cheio de ventosas, pesaroso desenvergonhado, assassino auspicioso, sorridente da desgraça que enrosca o poeta tal como a anaconda sufoca a vitima, com uma força de 1000 quilos. “logos” que o poeta não descortina na sua sentença injusta e que nunca vê amortizado o défice que não praticou. Esse “santo deus” baptizou-o com o “páthos” e ousou retirar-lhe o “logos” e tudo o que lhe sai pela mente é tão-somente veneno, veneno puro de ideias sem nome – e assim nasce o distúrbio mental pela falta de “logos” e a loucura desencadeada pelo “páthos” –.
Há dias que reza, o poeta, à "virgem das curas" que lhe devolva uma pequena réstia de conhecimento e de sanidade para que os dedos consigam conduzir a esferográfica a esse papel tão patológico e que com ousadia fure o papel tão só como a partenogénese da microbactéria fura o organismo.
Se as rolas arrulham, porque não poderá o poeta arrulhar aos quatro ventos a sua “não – concupiscência “ a sua falta de luxúria. Se fosse o Pedro, O Grande, talvez não fosse tão condenado. Não o sendo, o sangue corrói-se pesarosamente afectando a sua imunidade.


«Já aqui não estou,
sou rasto de uma vida mal fodida.
Sou inércia exigida… no Olimpo, aplaudem!!
Ai! Ai!! Como sofre a carne.
Tem remédio? Tem médico altíssimo? – Declama a carne.
Na porta ao lado, gritos… Gentes? Fantasmas?
Mudez encarnada na boca de quem não se anuncia,
mas escreve no papel – Entropia.»


Escreve o poeta em folha transparente, que jamais alguém há-de ler. Porque haveria de ser lido, se o sistema está cego!! E tão pouco adianta se transformar numa rola e arrulhar freneticamente que ninguém chegaria a dizer “shiuuuuu”, porque a surdez se tornou um estado normalizado e comum. Só os “páthos” são sinergéticos entre si, tal a comunicação e inter-relações que estabelecem que se difundem como gotas de chuva levando informações em cadeia assintomáticas a outros solos que reagem prontamente à falta de imunidade, incubando-os quase generosamente em dádiva ao seu interlocutor autoritário.

Assim, o poeta, toma consciência da precariedade humana da carne, e ao mesmo tempo desta afluência assexuada destes seres super micros que dominam os lugares, os corredores das células, os núcleos do sistema e, que não pode só por si mesmo transformar. Ao contrário das plantas que tem a capacidade de se auto regenerarem, ao homem, foi-lhe retirada essa capacidade desde que respirou pela primeira vez.
O homem dorme um sono venenoso, está numa situação limítrofe. Quanto mais a consciência se afina, mais capacidade de perceber que toda a vida está assente num fio, igual a esse que as aranhas tecem. Tudo de repente se torna qual insustentável vivência do ser à mercê de forças que não controla, e o poeta, fica submergido nas suas faculdades de reacção. E a incontrolável força e sede do viver se aniquila por si só, frente à grande legião de nomes sem rosto que se hospedam. Na verdade não é só lá fora que existem guerras, tais como do Iraque, dentro do ser humano existem parecidas.

A galáxia de microbactérias dissimuladas reduz a existência à sobrevivência. Uma guerra entre o homem e esses elementos nefastos, entrópicos gera desordens que ultrajam o direito a uma vida com algum conforto. Apesar de se dizer popularmente que tudo tem um sentido, há sem dúvida algumas coisas que não tem sentido; estão ali por estarem, por engano, por consequências. São simulacros criados com o propósito de alienar o homem do seu caminho real. Daí nascem as legiões sem rosto, que nunca se descuram de fazer o seu trabalho na invisibilidade para que alguns nunca acordem e fiquem mergulhados num sono, onde o amanhã não tem uma mão esticada, a não ser a cova que há-de nascer e os vermes sorridentes hão-de acolher de agrado. (...)

A Morte Mentirosa

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , | Posted on 21:22

Autor Fotografia (???)


Vocês já pensaram que quando alguém diz que quer suicidar-se ou pensa em suicidar-se ou fala no suicídio, que isso pode ser um aviso que um dia acabará por cometê-lo? - Divagou ele com o olhar perdido por entre as paisagens. 

Continuou a dissertar, «a pessoa, apenas precisa de um motivo. O motivo é fulcral para colocar o fim à existência. Existência essa já com sofrimento. O futuro suicida dá diariamente oportunidade às circunstâncias. Ele esforça-se para vencer o inevitável. Ele apega-se a pequenas coisas para manter-se vivo. Embora aparentemente possa não parecer. Mas, basta uma simples pedra e tudo retorna!! A vida surge como um véu ilusório. Perturba!!» 

Vocês já pensaram que ninguém se mata por nada? Mata-se por algum motivo. Seja ele qual for, o seu peso é insuportável. Há dificuldade em digerir o que causa conflito internamente. A divisão interna é insustentável. Há um vazio que acomete, que rechaça a inteireza da pessoa. Há uma falta. Creio que só apenas um verdadeiro amor, escrito com A grande, poderá ressuscitar uma alma de um lamaçal agoirento. Só a inteireza e veracidade do Amor poderá conseguir isso!!!

NãoSouEuéaOutro in '' Enforcamentos na História ''

cíntia thomé - diferenças

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , | Posted on 21:12


 - Source -


diferenças

eu andei
por todas as cabeças femininas
séculos e mais séculos
até a exaustão
das diferenças
porque também sonhei

cíntia thomé

Madame Tutli Putli

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , | Posted on 19:36

Não compreendo como esta curta-metragem em animação passou despercebida. Despercebida por mim. Fiquei literalmente apaixonada! A estética, a personagem feminina (Madame Tutli Putli), o chapéu e a rosa vermelha, o colar de pérolas, a longa cauda de bagagens atrás de si, o olhar... de abismar os meus nervos internos!!! O fim, prefiro interpetar como o vencer dos empecilhos, a transformação para a Vida. A Vida é a única coisa que vence a Morte.



Sinopse

A madame Tutli-Putli embarca num trem noturno carregando todos os seus pertences - incluindo os fantasmas de seu passado. Ela viaja sozinha e encara, ao mesmo tempo, a bondade de alguns e o perigo iminente representado em outros. Quando o dia vai clareando, madame Tutli-Putli descobre-se numa aventura desesperada e metafísica. Vagando entre o real e o imaginário, ela confronta seus demónios numa corrente de mistério e suspense.





A Animação




Jason Walker ( criou os olhos de Madame Tutli Putli) - Source -

Página Oficinal da curta - animação - Source -


Relógios

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , | Posted on 20:22


Os relógios atrofiam-me o juízo. Detesto as Horas. Compreensível. Insónia aguda é prima dos meus nervos-olhos. Quantos anos? Perdi a conta. Dizem que tinha 9 meses quando tudo aconteceu. Durmo 4 horas diárias. Já sou um bicho cheio de rios, ribeiras. Envelheci 300 anos. As unhas estão cheias de escárnio e sem juízo.

Depois surgiu outro número

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , | Posted on 20:14


Depois disseram-me, que era outro número. Aquela porta. Nem sei se tinha condado, e muito menos se alguma Condessa habitava para lá daquela porta. Aquele número era um número.

Aquele Número

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , | Posted on 20:09


Segundo me disseram, era o número 190! A porta 190. Não soube mais de nada! Não tinha história.

We Love Dolls

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in | Posted on 20:04

O Fim de Alice

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in | Posted on 19:25




A. M. Holmes


Em Setembro de 1997 encontrei um livro que me despertou a atenção, pela sua capa. Uma menina, cuja fotografia a preto e branco, contrastava com o fundo de cor açafrão. O titulo pareceu-me sugestivo, ''O Fim de Alice''. Abri o interior do livro, tentei logo procurar quem seria o autor do mesmo; deparo-me com uma bela fotografia do autor e, é uma mulher (fotografia acima). Vou ao prefácio e cai-me qualquer coisa da ficha mental. Terei de levar o livro. Antes ainda, abro a meio uma /duas página/s qualquer/es. Leio. Fico séria. «Isto não é para brincadeiras!», exclamo. Escrito por uma mulher, uma outra visão. Terei de comprar! Até que ponto esta narrativa irá...

Há bastante tempo, já desde o outro blog, que ando tentando colocar trechos do livro !! Resolvi, hoje, colocar o principio do livro!!




O Fim de Alice

Quem é ela para ter tão tormentoso vício, esse gosto estranhamente adquirido pela carne mais tenra, para contar uma história que fará com que alguns de vós esbocem um esgar ou um sorriso mas que deixará outros decididos e pôr termo a este pesadelo, a este horror. Quem é ela? O que mais o assustará é saber que ela tanto pode ser você como eu, um de nós. Surpresa surpresa.
E talvez se interroguem quem sou eu para estar a interferir, para agir como tradutor dela, e seu. Meu é o discurso, a cadência e consonância de um homem velho e estranho que está preso há muito tempo, punido por satisfazer um gosto muito próprio. Verdade seja dita que vejo nela as sementes da minha juventude e a lembrança de outra jovem que não pude deixar de conhecer.
Alice, entrego-vos delicadamente o nome dela, propondo que, se o conservarem cuidadosamente como eu, bem junto ao coração, talvez no fim disto tudo entendam como pode ser perturbador o bater de dois corações iguais e como por fim um deles teve de parar.
Nesta altura, quem me estiver a ler já sabe quem eu sou – e verá no meu disfarce a tonta e infantil senilidade da longa reclusão, da mente sã que apodreceu. Mas saibam também que, ao contar-vos isto, sinto-me como um concorrente de What´s My Line; diante de mim está o meu tribunal, os três membros do painel, vendados – este pormenor deve causar, em vós, uma certa excitação. Fazem-me perguntas sobre a minha profissão. A assistência olha directamente para mim e, reconhecendo o meu rosto dos retratos de má qualidade, fica totalmente perplexa. Sou o primeiro tarado, o primeiro amante de jovens, que têm no programa. Sinto-me honrado. Sensibilizado. Quando acho que ninguém está a olhar, acaricio-me.
E deixem-me que vos diga que tenho a mais profunda admiração e respeito pela jovem mulher em análise – pelas mulheres jovens em geral, quanto mais jovens melhor. ao cumprir a minha pena, tornei-me o principal correspondente, o conhecedor-mor, nestas questões. De longe sou procurado pelas minhas opiniões, pela minha experiência nestes assuntos. (…)

(...)E, para ser franco, não recebo muitas cartas de raparigas. Escrevo de imediato uma rápida nota introdutória, «Muito interessante. Por favor envia-me uma fotografia tua para me ajudar a entender melhor.»
Ela responde com uma nota. «Fotos um gaita. É algum tarado, ou quê?»
Apanhado outra vez. Reduzido à minha insignificância, posto no meu lugar.
«Sim, querida» rabisco, em resposta, num simples postal. (...)




A.M.Homes in ‘’ O Fim de Alice’’



História de obsessão sexual e desejo que, desafiando as convenções sociais, conduz o leitor a uma preocupante análise das suas próprias (in)definições, O Fim de Alice é o relato de um encontro entre um pedófilo, a cumprir o seu 23º ano de prisão pela morte de uma jovem de 19 anos. Com algo, inesperadamente, de comum, confirmado através da correspondência trocada entre ambos: a fatal paixão Alice e a doentia atracção por um rapaz de 12 anos. São, aliás, as cartas da jovem que irão evocando no narrador fragmentos dos seus crimes, designadamente os doentios acontecimentos de umas férias de Verão que, ocorridas nos anos de meninice, o hão-de transformar para sempre… até ao fim de Alice.



A. M. Homes, professora de Literatura na Columbia University, é um dos nomes mais brilhantes da nova geração de escritores americanos. Classificada de «hilariantemente perversa» pela critica americana, é autora dos romances Jack; In a Country of Mothers e The End of Alice e ainda o livro de contos The Safety of Objects. As suas obras estão traduzidas em dez línguas.


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