Sem Fim à Vista
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Crónicas | Posted on 19:09
" –Sem Fim à Vista– "
Género: Crónica
Autora: NãoSouEuéaOutra
"Derradeiro lamento das fragilidades da humanidade. Quando tudo o que é pedido é só um pouco de paz nesta terra."
(...) Becos de passagens – Rumos – becos sem fim – rumos – … Desencontros subtis.!.
Só de escrever, já o poema se deprime. Deprime esta mão avariada que não se conhece. Deprime esta mente que não se contenta e não sabe. – Loucura!! – dirá o poeta gasto e o poema mais se deprime. É da imagem do passado que nasce a força contida no futuro, – dizem – que às sementes mal produzidas, pó de arroz na face ficará ridículo. "Como são todas as coisas deste mundo, ridículas." - Escreve o desalentado poeta que sonha fugir para parte incerta.
Se o papel era amigo, tornou-se veneno, tal como os becos de passagem e os becos sem fim. A morte começa antes da palavra sair e quando sai já o fantasma pariu os horrores da sua génese – a microbactéria insensível ao grito humano –. Grita o poeta contaminado “Estou louco de doença! Absolutamente louco até à raiz do meu Ser Anímico.”
São essas pontes entre lugares e coisas, entre humanos e humanos – extracorpóreas – que as afluentes chocalham e fazem tremer aquela mão que agarra o papel já contaminado, contaminado poeta inconsciente. Sabe-se um cordeiro, ofendido por deuses obscuros que recusam revelar a face, que ousam omitir a sua origem para aí estabelecerem directrizes no coração do poeta já doente patologicamente até ao centro da célula. Que se arrasta por ruelas qual maltrapilho, condenado à forca pelo carrasco que nunca a sua face revela. O seu grito não se ouve, pois que nasceu sobre uma abóbada terrena surda. Sabem da sua existência, mas negam-na.
“páthos” invernoso, gretado, vermelhento, sanguinário, rei das tripas, das veias, das células, das mucosas; cheio de ventosas, pesaroso desenvergonhado, assassino auspicioso, sorridente da desgraça que enrosca o poeta tal como a anaconda sufoca a vitima, com uma força de 1000 quilos. “logos” que o poeta não descortina na sua sentença injusta e que nunca vê amortizado o défice que não praticou. Esse “santo deus” baptizou-o com o “páthos” e ousou retirar-lhe o “logos” e tudo o que lhe sai pela mente é tão-somente veneno, veneno puro de ideias sem nome – e assim nasce o distúrbio mental pela falta de “logos” e a loucura desencadeada pelo “páthos” –.
Há dias que reza, o poeta, à "virgem das curas" que lhe devolva uma pequena réstia de conhecimento e de sanidade para que os dedos consigam conduzir a esferográfica a esse papel tão patológico e que com ousadia fure o papel tão só como a partenogénese da microbactéria fura o organismo.
Se as rolas arrulham, porque não poderá o poeta arrulhar aos quatro ventos a sua “não – concupiscência “ a sua falta de luxúria. Se fosse o Pedro, O Grande, talvez não fosse tão condenado. Não o sendo, o sangue corrói-se pesarosamente afectando a sua imunidade.
«Já aqui não estou,
sou rasto de uma vida mal fodida.
Sou inércia exigida… no Olimpo, aplaudem!!
Ai! Ai!! Como sofre a carne.
Tem remédio? Tem médico altíssimo? – Declama a carne.
Na porta ao lado, gritos… Gentes? Fantasmas?
Mudez encarnada na boca de quem não se anuncia,
mas escreve no papel – Entropia.»
sou rasto de uma vida mal fodida.
Sou inércia exigida… no Olimpo, aplaudem!!
Ai! Ai!! Como sofre a carne.
Tem remédio? Tem médico altíssimo? – Declama a carne.
Na porta ao lado, gritos… Gentes? Fantasmas?
Mudez encarnada na boca de quem não se anuncia,
mas escreve no papel – Entropia.»
Escreve o poeta em folha transparente, que jamais alguém há-de ler. Porque haveria de ser lido, se o sistema está cego!! E tão pouco adianta se transformar numa rola e arrulhar freneticamente que ninguém chegaria a dizer “shiuuuuu”, porque a surdez se tornou um estado normalizado e comum. Só os “páthos” são sinergéticos entre si, tal a comunicação e inter-relações que estabelecem que se difundem como gotas de chuva levando informações em cadeia assintomáticas a outros solos que reagem prontamente à falta de imunidade, incubando-os quase generosamente em dádiva ao seu interlocutor autoritário.
Assim, o poeta, toma consciência da precariedade humana da carne, e ao mesmo tempo desta afluência assexuada destes seres super micros que dominam os lugares, os corredores das células, os núcleos do sistema e, que não pode só por si mesmo transformar. Ao contrário das plantas que tem a capacidade de se auto regenerarem, ao homem, foi-lhe retirada essa capacidade desde que respirou pela primeira vez.
O homem dorme um sono venenoso, está numa situação limítrofe. Quanto mais a consciência se afina, mais capacidade de perceber que toda a vida está assente num fio, igual a esse que as aranhas tecem. Tudo de repente se torna qual insustentável vivência do ser à mercê de forças que não controla, e o poeta, fica submergido nas suas faculdades de reacção. E a incontrolável força e sede do viver se aniquila por si só, frente à grande legião de nomes sem rosto que se hospedam. Na verdade não é só lá fora que existem guerras, tais como do Iraque, dentro do ser humano existem parecidas.
A galáxia de microbactérias dissimuladas reduz a existência à sobrevivência. Uma guerra entre o homem e esses elementos nefastos, entrópicos gera desordens que ultrajam o direito a uma vida com algum conforto. Apesar de se dizer popularmente que tudo tem um sentido, há sem dúvida algumas coisas que não tem sentido; estão ali por estarem, por engano, por consequências. São simulacros criados com o propósito de alienar o homem do seu caminho real. Daí nascem as legiões sem rosto, que nunca se descuram de fazer o seu trabalho na invisibilidade para que alguns nunca acordem e fiquem mergulhados num sono, onde o amanhã não tem uma mão esticada, a não ser a cova que há-de nascer e os vermes sorridentes hão-de acolher de agrado. (...)
estupendo este teu texto,
beijo
Uau... que escrita! Amei a forma com que grafas. Com certeza, torno-me uma leitora, na medida do possível, assídua, afinal, a labuta e estudos me freiam.
Abraços
Priscila Cáliga
LI primeiro este, e fui ler o seguinte, sobre a Morte mentirosa. Estou perplexo com tamanha beleza!
Devolveste-me, com teu texto, "uma pequena réstia de conhecimento e de loucura"!
Flores e estrelas...
Desalentado, o poeta quer fugir para parte incerta...
Este texto é uma luva que me veste a alma, inteiramente. Assim me sinto hoje e nem o fogo do poema se acende para me aquecer um pouco! Há momentos em que me parece que aqui já não estou, parti vazia e sem dar conta. Ah,tantas vezes me parece que o poeta que vive cá dentro é mais transparente do que a folha! Escrever o quê se o sangue enoja e revira olhares!! Estará a morrer de desencanto a poesia em mim?
não há uma mão sequer a levantar um corpo já cansado, um corpo jovem em seu pensamento, mas velho por não acreditar que seu pensamento é tão só, tão único...m,as muito mais inteligente, mas os burros se fingem de corretos e nada fazem e empurram pra rua, ladeira abaixo sem piedade, sem sentimento qualquer...é a gargalhada 'íntima', mas final..perde-se por ''burrice'' um poeta....
"A MORTE COMEÇA ANTES DA PALAVRA SAIR"...
ufa... ainda procuro reencontrar o fôlego... aqui não és tu ou a outra; sois ambas, em absoluto-perfeito!
beijos!