There´s a Place VI - Bento da Rocha Cabral
Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in Descobertas Científicas , Fotografias , Medicina | Posted on 07:45
« entre o antigo e o moderno, muito pouco fica entre dois dedos de conversa. há nomes e lugares que se alargaram na memória e outros que se estreitaram. o Bento da Rocha Cabral doou a quase totalidade da sua fortuna, amealhada no Brasil, para que fosse feita uma fundação de utilidade pública e sem fins lucrativos, na área das ciências biológicas. no ano de 1921, segundo consta no testamento. ali, foi descoberto, por Egas Moniz, a visualização por radiografia da anatomia do coração, a Angiografia. »
UM POUCO DE HISTÓRIA NACIONAL
Bento da Rocha Cabral
O nome de Bento da Rocha Cabral (1847-1921), transmontano de nascimento
e “brasileiro” de fortuna, está duplamente ligado à história da freguesia
de São Mamede. Em primeiro lugar, o topónimo referente à calçada
que liga o Largo do Rato à Praça das Amoreiras; depois, o instituto de investigação
científica, situado na então designada Calçada da Fábrica da Louça,
renomeada em homenagem ao benemérito em 1924. De acordo com o
seu testamento, aberto em 1921, boa parte da sua riqueza, incluindo o seu
palacete, foi destinada à criação do instituto que mantém o seu nome e
actividade desde 1925.
Nasceu em Paradela de Guiães, concelho de Sabrosa, em 29
de Janeiro de 1847 e faleceu em Lisboa em 1921. Emigrou
para o Brasil, onde casou com Maria Jaymot e acumulou
fortuna. Regressado a Portugal, sem filhos, fixou residência
no palacete da Calçada da Fábrica da Louça (depois com
o seu nome em 1924). Viajou pela Europa e América do
Norte, de acordo com o seu interesse de autodidacta em
assuntos culturais e científicos. Espírito republicano, também
foi motivado pelas questões sociais. Estavam reunidas
as premissas pessoais e as circunstâncias do seu tempo para
que destinasse a sua fortuna, após a morte, às mais variadas
obras de cariz social e cultural. No seu longo testamento,B. R. Cabral contemplou desde a sua freguesia natal, passando
pelos seus familiares e empregados, às mais variadas
instituições de apoio social e de âmbito cultural e artístico.
Facto particularmente curioso para a história da freguesia de
São Mamede foi o seu desejo de que se erguesse na então
Praça do Brasil (denominação oficial do Largo do Rato entre
1910 e 1948) um monumento à memória de Pedro Álvares Cabral; porém, o monumento que veio a existir, inaugurado
em 1940, situou-se noutro lugar, embora não muito longe
do Rato, foi uma oferta do governo brasileiro. Mas a materialização
da vontade de Bento da Rocha Cabral foi particularmente
bem sucedida com o instituto científico que
perpetua o seu nome desde 1925.
O legado de um benemérito
O nome de Bento da Rocha Cabral está duplamente
ligado à história da freguesia de São Mamede.
Em primeiro lugar, o topónimo referente à calçada
que liga o Largo do Rato à Praça das Amoreiras; depois, o
instituto científico, situado na então designada Calçada da
Fábrica da Louça, renomeada em homenagem ao benemérito
em 1924.
Regressado do Brasil, onde amealhou grande fortuna,
Bento da Rocha Cabral pôde dedicar mais tempo aos
seus interesses culturais, sobretudo ao seu gosto pela
ciência. Numa viagem aos Estados Unidos, tomou conhecimento
da Rockefeller Foundation, em cujo modelo
se inspirou para criar um instituto de investigação em
Lisboa, o que veio a suceder, por disposição do seu testamento
aberto em 1921. Indicou também que esse estabelecimento
fosse dirigido por Matias Boleto Ferreira
de Mira (1875-1953), professor de Química Fisiológica
na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa,
que o “brasileiro” transmontano admirava pelos seus artigos e opiniões no jornal republicano
A Lucta, dirigido
por Brito Camacho.
A singularidade deste tipo de doação, em Portugal, começou
por levantar alguns problemas. Na sessão de 16
de Agosto de 1921 da Câmara de Deputados da República,
o ministro da Instrução Pública, Ginestal Machado,
apresentou uma proposta de isenção da contribuição de
registo da parte da herança de Bento da Rocha Cabral
destinada à formação do instituto. Em 23 de Março de
1922, Ferreira de Mira, então deputado daquela Câmara,
renovava o mesmo pedido de isenção, enviando à mesa
um projecto de lei com o princípio de isentar daquela
contribuição os legados destinados a fins idênticos; essa
isenção existia apenas para as instituições de caridade.
O projecto foi aprovado em 19 de Maio de 1922 e pelo
Decreto n.º 8.315, de 11 de Agosto, desse ano, foi reconhecida,
para todos os efeitos legais, a utilidade pública
do Instituto de Investigação Científica Bento da Rocha
Cabral (IRC).
As obras de adaptação da antiga moradia tiveram início em
1923 e os trabalhos de investigação, na área da Biologia,
foram iniciados em Novembro de 1925 pelos quatro investigadores
do instituto: M. B. Ferreira de Mira e seu filho
Manuel Ferreira de Mira (ob. 1929), Luís Simões Raposo
(1898-1934), que empreendeu estudos sobre a cultura de
tecidos, e Fausto Lopo de Carvalho (1890-1970). O instituto
começou a funcionar com quatro secções: Fisiologia
(tutelada por Joaquim Fontes e Mark Athias, 1875-1946),
Histologia (por Augusto Celestino da Costa, 1884-1956),
Química Biológica (M. B. Ferreira de Mira e depois Kurt Jacobsohn,
1904-1991) e Bacteriologia (primeiro com Lopo
de Carvalho e M. Ferreira de Mira, e depois da morte deste,
com Alberto de Carvalho).
O IRC acolheu o trabalho de prestigiados investigadores; entre
outros, destacam-se o parasitologista Carlos França (1877-
1926), a fitopatologista Matilde Bensaúde (1890-1969), a
primeira portuguesa doutorada em ciências biológicas, e o
Padre Joaquim da Silva Tavares, S.J. (1866-1931), fundador
da revista Brotéria. Foi aqui também que Egas Moniz (1874-
1955) desenvolveu parte dos trabalhos experimentais, nomeadamente
os ensaios com cães, que conduziram à descoberta
da técnica da angiografia cerebral em 1927, assim como as
experiências de desenvolvimento da angiopneumografia com
a colaboração de Almeida Lima e Lopo de Carvalho. Com a
vinda de Kurt Jacobsohn, para o instituto, em 1929, iniciou-se
a investigação em Bioquímica em Portugal.
O IRC apoiava os investigadores com todo o material necessário
para as suas pesquisas e publicava os seus trabalhos de investigação. O instituto também organizava anualmente
seis conferências, cujos trabalhos eram publicados.
Para além dos relatórios de actividades e contas, anuais, o
instituto manteve duas publicações periódicas de grande
prestígio científico: Travaux de laboratoire de l’Institut Rocha
Cabral, desde 1927, e Actualidades Biológicas, desde 1929
(em Coimbra) e a partir de 1934 em Lisboa.
Por não pertencer ao Estado, o IRC defrontou-se sempre com
o problema do financiamento. Quando da sua fundação,
Bento da Rocha Cabral dotou-o de um fundo constituído por
valiosas acções, mantendo ao mesmo tempo a esperança de
que, dado o interesse científico da instituição, pudesse contar
com apoios estatais, o que não aconteceu. A Fundação
Gulbenkian apoiou o instituto, nomeadamente entre 1959 e
1962. Uma solução satisfatória foi o investimento em rendas
prediais. Mas depois de 1974, com a desvalorização do escudo
e o congelamento das rendas e os seus valores tendencialmente
irrisórios, colocaram-se sérios problemas financeiros
ao instituto, o que penalizou a sua capacidade de trabalho.
Recentemente, foi constituída uma quinta secção, a juntar
às quatro já referidas, dedicada à História e Filosofia das
Ciências; dada a própria natureza e objectivos científicos do
IRC é dada particular atenção à História das Ciências Biológicas,
tanto na vertente das Ciências Naturais, como da Medicina
e da Saúde. Actualmente, o instituto também presta
apoio a investigadores com bolsas e projectos, mantém um
Biotério, para fornecimento de animais para investigação e
funciona como sede da Sociedade Portuguesa de Biologia.
Uma menção deve também ser dada, nestas curtas linhas,
aos sucessivos directores do IRC: o já referido Prof. Ferreira
de Mira, entre a fundação e a data do seu falecimento
(1953); Joaquim Fontes (1892-1960), fisiologista; João Carlos
Mirabeau Cruz (1914-1996), docente de Fisiologia; Ruy
Eugénio Carvalho Pinto (1924-2009), bioquímico, entre
1996 e 2009. Actualmente, o instituto é dirigido por Manuel
Diamantino Pires Bicho (n. 1950), professor de Genética da
Faculdade de Medicina de Lisboa.
POR, Manuel Paquete IN São Mamede em Revista da Edição de Setembro´2010
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Bichinho Azul, conta p´ra mim quantos dedinhos e buraquinhos contou por aqui?