Crazy

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in | Posted on 20:23


(...) Come on now, who do you
Who do you,
who do you,
who do you think you are?
Ha ha ha, bless your soul
You really think you're in control?

Well, I think you're crazy
I think you're crazy
I think you're crazy
Just like me
(...)
Crazy - Gnarls Barkley



«Uns anos se passaram, desde que regressei da Índia. Vim tão maluca. Tão maluca, que se existissem psiquiatras e psicólogos na Ilha, tinham sido todos aconselhados por Deus daquela terra, a internarem-me e encherem-me de choques eléctricos. Assim, passaria de Rosa choque a Azul Choque.
Mas é um facto, com toda a sinceridade que tenho encarnada nas pestanas dos olhos, vim toda de cor de Rosa Fluorescente. Por mais que me lavasse, não saia tinta alguma. Houve dias que ficara um pouco mais roxa, outras mais rosa pálido. Sempre Rosa. Sempre Roxa. Sempre outra cor nenhuma, a não ser Rosa, a não ser Roxa. Passou a ser essa, a minha miscelânea de Rosas de criatura ao vivo, enquanto não me mudei para outro país,  a Birmânia e, onde estive na companhia das padaungs. Mas isso é outra história!

Enquanto não abandonei a Ilha, comecei a ver bichos. Bichos gigantes. Uns Bichos tão gigantes diante dos meus olhos acordados. Mas ninguém os via na Ilha, apenas eu. Tão gigantes, que quanto maior ficavam, mais a minha língua saía e crescia e crescia... acreditem que, cheguei-a a vê-la estirada ao sol, em completa confraternização com os camarões, sim, sim esses  kámmaros. Ficava tão zangadíssima que na hora,  nasciam cabelos nas narinas a cada ataque de fúria. De meia em meia hora tinha que ir ao cabeleireiro. Na Ilha, chamada de facto a,  A Ilha, existiam cabeleireiros. Apenas, houvera a extinção de Padres, Psicólogos, Juízes, Advogados, Policias, Doutores. Nem políticos existiam. Era cá uma república da Banana, que não vos conto. Mas, não tinha macacos. Isso posso garantir.
 Um dia, quando olhei para os pés, principalmente para os dedos, e mais concretamente para as unhas... putz, leitores que me lêem ( alguém por aí, torto como eu?), elas tinham feito laços. Meu deus, como eles arrebitavam em cada aresta. Cada ondulação mais provocadora. Nunca vira tanta vaidade num só dia. O estranho de tudo, é que nem sei como elas formaram um nó a si mesmas, e dele, fizeram um laço. Até furaram as unhas, e colocaram um piercing. Não posso fazer a mínima ideia, como as unhas saíram dos pés e foram até à joalharia, numa das várias lojas estendidas em ziguezague no ponto central da Ilha e compararam diamantes. Havia uma unha, a mais invisível de todas, que comprou  diamantes negros. O nó que ela tinha feito na unha, foi engastado com diamantes negros.  Que petulância tinha aquela unha! Além de pouco conversadora.

 Então, percebi porque não conseguia calçar sapatos. Unhas que pensam por si e com tão elaborados nós que formam um laço e com diamantes, não deixam que lhes calce uns sapatos, faça chuva ou neve... nada desse rudimentar objecto lhes parece agradar. Sapatos, o que é isso, para pessoas vaidosas como elas??!!

Coitadas!! Coitada era de mim, que tinha de levar com estas unhas tão metidas consigo mesmas e de peito no ar exclamavam, «não queremos sapatos!! Não queremos sapatos, queremos espelhos.»
Um dia, surgiu um objecto estranho no céu. Pousou em cima de uma banana. Saiu de lá, pasme-se leitor, um homem, mas tão pequeno que quando abria a boca, parecia ter um microfone. Que som tão estridente. Olhei bem, naquele dia,  para ver com olhos de ver, se aquilo não seria uma cigarra disfarçada. Mas não!! Era mesmo um homem bem pequenino. Saiu dentro de uma nave, e disse: «Eu sou o novo Bruxo. O Bruxo da nova Era e que ainda não nasceu. Mas eu já nasci!! Não se deixem enganar pela minha estatura. Vós, terrestres, sereis bem mais pequeno que eu. No Futuro, no futuro, no futur...»
A voz era tão grave, que até mirrávamos de estatura. Naquele momento, percebi logo. As unhas ficaram mais curtas e um diamante negro viu-se obrigado a saltar do engaste. Pensei logo, que estávamos diante de um dilema. Um dilema para as minhas unhas vaidosas e insuportáveis; e um problema de consciência nacional. Sim, nacional...  eu não era a única  vivente na Ilha, mas eu estava muito centrada em mim mesma. Parecia um Rato. Eu era um Rato. Era assim que tinha viajado até à A Ilha. Por isso, a minha cor,  Rosa Fluorescente, é verdade. Consequências. Não vos contei? Aqui está um resumo.
Meditei demais na Índia. Disseram-me, que quando entrei em dissertação vertical, que uma serpente picou-me toda zangada e fiquei de quatro. Andei muda por dias, e apenas espumava, enquanto a Naja vinha atrás de mim sentada num trono e com um ceptro bicudo, me picava na cabeça. Aquilo era irritante. Só quem já passou pelo mesmo pode me entender. Horas levando com o ceptro na cabeça.  A Naja, gritava alto para mim, «cura os neurónios. Inteligência animal, acorda!!» Como não acordei, depois de andar sobre  quatro, virei Rato, antes de ficar Rosa Fluorescente.. Foi assim, que cheguei à Ilha. Um Rato cor de Rosa Fluorescente e que começou a ver um Bruxo Gigante com voz de Cigarra. O cabelo dele, ainda era mais ruidoso que o vento.Isto tudo depois, de ter andado a ver Bichos Gigantes. Não tinham olhos, por isso não tinham Mente, mas tinham uma boca e denunciavam tudo. Mas ninguém os via.

Naquele dia que o Bruxo surgiu e abriu a boca, eu que, já era pequena, como Rato, mais um pouco minguei. Só, e só mais tarde, perdi a condição de Rato, e voltei a humano e vertical. Mas por um breve período, nunca tive consciência que era um rato. Continuava-me a ver como uma Rapariga e que estava toda transformada em cor de Rosa Fluorescente. Ninguém na Ilha dizia alguma coisa. Apenas riam-se e riam-se perdidas, e passavam a correr, e outras ficavam paradas a observar-me.. Sempre pensei, que as gentes daquela Ilha tinham algum problema ocular.  Durante uns tempos, até à chegada do Bruxo, fazia uns malabarismos com uma sobrinha nas esquinas, e as gentes paravam e davam-me queijo. Era com queijo que me alimentava. Nunca desconfiei que fosse um Rato de aparência. O circo, tinha salvo a minha vida de andarilho por aquelas paragens. Com a majestosa cor, poderei dizer agora, era um Rato de Cor de Rosa Fluorescente e que fazia malabarismos com uma sobrinha. Não vivia mal como rato.

Uma noite, o Bruxo que tinha resolvido, hospedar-se em todos os hotéis de bananas, começou a vociferar mais alto, enquanto sonhava. Nessa noite, deixei a janela aberta. Estava um calor tremendo. Tão tremendo, que as minhas unhas, resolveram tirar os seus piercings... má hora, muito má para as minhas unhas. Quase tiveram um ataque de morte. A voz do Bruxo era tão aguda, que os diamantes explodiram e viraram pó!! Mas eu fiquei inteira. Tão inteira, que caiu-me pêlos das pernas. Como havia falta de giletes na Ilha, não me tinha preocupado com a quantidade exagerada de pêlos nas pernas. Foi até uma bênção, dava-me jeito essa condição, para os meus malabarismos de sobrinha. Mas as minhas unhas, ficaram inconsoláveis. Choraram tanto e tanto, que não houve lenços suficientes. O Bruxo, estava alucinado, e balbuciava tanta coisa que não se percebia. Mas o falo dele, descera pela bananeira abaixo, e estava tomando banho no mar. Umas sardinhas, estavam rodeando ele. Ouvia-se um música tão estranha. Poderia dizer que quase se ouvia o sibilar das sereias a Odisseu.

- continua depois... -







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Bichinho Azul, conta p´ra mim quantos dedinhos e buraquinhos contou por aqui?

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