A Mulher

Posted by NãoSouEuéaOutra | Posted in , , , , | Posted on 12:17

Por, Álvaro Ribeiro

(...)A mulher está virtualmente em paixão, porque lhe é vedado exprimir os seus sentimentos e manifestar as suas emoções, ou porque receia as represálias de uma sociedade que considera ridículo o amor, de uma sociedade que tende a transigir com a disciplina erótica de novas doutrinas sexuais. Obrigada a transferir a sua actividade, que se destina geralmente a pessoas, e especialmente a crianças, para as coisas de valor social, a mulher altera a sua personalidade por masculinização, até chegar à idade em que naturalmente se desinteressa de todos os atributos da feminilidade. Mau psicólogo será aquele que não souber ouvir, no discurso aparentemente neutro da mulher, um fio de voz que pede liberdade para a vida sentimental, e lealdade do homem que mereça o sacrifício dessa liberdade em dedicação.

Esta regra, seguida pelos romancistas, de considerar a mulher virtualmente apaixonada por um homem, é como todas as regras susceptível de sofrer excepções. A excepção cai sempre abaixo da regra, porque a excepção superior, se existisse, abriria caminho para uma regra melhor. Esta regra literária costuma ser, aliás, confirmada pela tese social acerca da tendência monogâmica da mulher, naturalmente mais fiel do que o homem, e pelo seu reconhecimento no direito civil.


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Cessando o obscuro silêncio da paixão, e também a linguagem alegórica do sentimento, para reinar a eloquência directa das emoções, a mulher realiza na intimidade conjugal uma liberdade ideada, aquela liberdade de que a sociedade a privara, enquanto solteira, visto que a expressão das emoções, se em certos limites é proibida ao sexo masculino, em muito maior escala o é ao sexo feminino.

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À medida que as mulheres vão adquirindo maiores habilitações escolares e, consequentemente, ascendendo na escala social, maior consciência adquirem da superioridade do sexo feminino sobre o sexo masculino. Não observam os homens este sinal precursor da sociedade futura que lhes deveria ser mostrado pelos romancistas. É evidente, porém, e já vai tomando um aspecto clamante e alarmante na vida social, o desencanto do amor entre cônjuges que se encontram habilitados a mutuamente julgarem os valores intelectuais e espirituais.

A inteligência da mulher, exercitada por uma cultura masculina e masculinizante, desenvolve-se em detrimento daquela intenção preservativa da beleza e da bondade. A mulher muito inteligente vai-se tornando ou feia ou má. O homem, demitido da sua função de chefe de família ou de cabeça-de-casal – pois nunca devemos esquecer que chefe significa aquele que pensa -, sofre, na vida doméstica, ou nas relações mundanas, uma humilhação terrível de que há-de compensar-se humilhando os seus inferiores e, mais ainda, os seus semelhantes.

(...)
A mulher que não goza da felicidade conjugal também não pode deixar de dar sinais visíveis e audíveis da sua infelicidade. Rara é a mulher que, no seu comportamento rigorosamente honesto, não deixe escapar uma frase denunciante de juízo depreciativo acerca do marido, frase que profere em termos de indulgência tão pouco oportunos que logo provoca o ridículo. Tal juízo, que não passa desatendido dos ouvidos atentos, é suficiente para revelar os gostos e os desgostos da mulher.

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Bichinho Azul, conta p´ra mim quantos dedinhos e buraquinhos contou por aqui?

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